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“Mestre Vasco” é sepultado esta quinta feira em Vila Praia de Âncora

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Vasco Manuel Valadares Presa, o paladino da atividade piscatória e presidente da Associação dos Pescadores Profissionais e Desportivos de Vila Praia de Âncora, vai ser sepultado esta quinta feira, 25 de Setembro. O funeral realiza-se às 15 horas, em cortejo automóvel, da Capela do Sr. dos Aflitos, seguindo para o cemitério local.

Vasco Presa faleceu ontem vítima de doença prolongada com 64 anos de idade. A notícia do seu falecimento foi recebida com imensa consternação por parte de toda a comunidade, município, amigos, pescadores, colegas e políticos.

Vasco presa 2

Desde a reivindicação dos direitos dos pescadores, das suas condições de trabalho, passando pelas dragagens do Portinho de Vila Praia de Âncora e pelo trabalho realizado em prol da defesa da sua arte com a recente ameaça das eólicas offshore que o governo socialista pretendia implementar na costa de Caminha, Vasco Presa, ou “mestre Vasco” como era conhecido, era incansável na luta pela atividade piscatória, a sua grande paixão desde tenra idade.

Em 2014, há dois meses sem poder trabalhar devido ao mau tempo, pedia isenção temporária de impostos para todos os pescadores, pelo menos em épocas tão prolongadas em que os profissionais da pesca não podiam exercer a sua atividade.

A chegada do sol, um mês depois, não era suficiente para voltar ao mar. O assoreamento também impedia os pescadores de trabalhar e, garantia, a situação tinha-se agravado naqueles três meses, de tal forma que, mesmo sem agitação marítima, seria difícil sair para pescar.

A juntar a tudo isto, os pescadores esperavam há quase meio ano pela reparação do único pontão de embarque no Portinho de Vila Praia de Âncora, partido desde janeiro daquele ano.

Mas Vasco Presa não “lutava” apenas com o município e com o governo por melhores condições. Um ano depois, em 2015, foi a vez da União Europeia que queria proibir a utilização das redes de deriva na pesca, pondo assim em causa a faina de espécies como a sardinha. Apesar de preocupado, o mestre Vasco sabia que tinha do seu lado o tempo e todos os eurodeputados portugueses, mas também os espanhóis, italianos e franceses que eram contra a proposta.

Em 2016, as condições da parte interna do Portinho continuavam a degradar-se devido à má construção da área portuária. Também os licenciamentos e os custos permanentes, cada vez mais e maiores, assombravam a classe. Vasco Presa temia o pior mas não baixava os braços.

Em 2020, o Portinho continuava por dragar. “Os riscos que corremos a cada dia de faina são enormes. Há anos que não é feita qualquer dragagem e nunca foi feita uma intervenção de fundo no Portinho de Vila Praia de Âncora. Fazem sempre desassoreamentos parciais que não resolvem o problema”, afirmou o mestre Vasco que alertava que “os acidentes e a morte espreitam”.

Ainda em 2020, Vasco Presa acusava a Docapesca de ter “modificado unilateralmente os termos do contrato das bancas” do mercado de segunda venda, afetando “muitíssimo” o rendimento da classe.

Em 2021, Vasco Presa considerava “uma boa notícia” a obra de desassoreamento do portinho de pesca de Vila Praia de Âncora, da responsabilidade da Polis Litoral Norte, que arrancaria em maio. Apesar de otimista, não escondia as dificuldades que a sua classe vinha a sofrer depois de anos sem dragagens, agravadas com o “problema” do COVID. Contudo, já então, o pescador tinha a solução para o portinho. Um estudo profundo no sentido de fazer alterações à infraestrutura portuária.

Mas o pior ainda estava para vir. Em 2023, o então secretário de Estado do Mar, António Maria Costa, do governo socialista de António Costa, assinou um despacho que poderia ditar o fim da atividade piscatória no distrito. O alerta foi dado pela vereadora da Coligação O Concelho em Primeiro (OCP), Liliana Silva, que prontamente organizou uma reunião com as diversas associações de Pescadores para, em uníssono, agirem contra um projeto “que já estava numa fase avançada”. Em causa estava a instalação de um parque éolico offshore ao longo da costa de Caminha, uma autêntica imposição aos pescadores do concelho sem qualquer contrapartida – ao contrário de outros municípios vizinhos como Viana do Castelo -, uma vez que, segundo Vasco Presa, nem tinham sido ouvidos. Nesta reunião com a OCP elaborou-se um abaixo assinado para solicitar uma outra reunião, urgente, à Comissão do Mar e da Energia.

A 5 de Maio, a OCP promove nova reunião com as várias associações do distrito para definir o caderno reivindicativo que iriam apresentar em Lisboa a 17 de Maio na Assembleia da República, fruto do abaixo assinado que em dois dias angariou 500 assinaturas.

Dias mais tarde, Rui Lages, Presidente da Câmara de Caminha, que até então parecia desconhecer a intenção do seu próprio governo, organizou uma outra reunião com a Secretária de Estado das Pescas, para a qual quase nenhum pescador foi convidado. Apenas foi convidado Augusto Porto em representação dos pescadores do concelho, “à última hora”, lamentou Vasco Presa.

A 17 de Maio, os pescadores foram ouvidos na Comissão Parlamentar de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação. Vasco Presa, o último a usar da palavra, reforçou a questão da redução das áreas de pesca que este parque eólico iria provocar. Salientou ainda a necessidade de uma maior fiscalização em relação ao excesso de aparelho.

A 7 de Março de 2024, em véspera de eleições, Teresa Coelho, secretária de estado das Pescas do anterior governo, tinha encontro marcado em Vila Praia de Âncora para a apresentação da maquete do projeto de reconfiguração do Portinho. Mas a secretária de estado não veio. Coube a Vasco Presa e Carlos Sampaio, da Associação de Pescadores Profissionais e Desportivos de Vila Praia de Âncora, a apresentação da maquete, acompanhados pelo presidente da Câmara de Caminha, Rui Lages. Isto mesmo está testemunhado nas redes sociais.

A 7 de Junho de 2024, Vasco Presa e Liliana Silva reuniam com a Secretária de Estado das Pescas, Claúdia Aguiar, para abordarem problemas relacionados com a atividade da pesca em Vila Praia de Âncora, que estavam há meses e alguns há anos por resolver. Com a mudança de governo, parte dos problemas começavam a ser resolvidos, tais como a substituição da máquina de gelo ou a reparação do guincho. O compromisso para a reconfiguração do porto de Mar ficou claro nesta reunião.

Em novembro de 2024, em reunião com as diversas associações de pescadores de Viana do Castelo, o Ministro da Agricultura e Pescas, Manuel Fernandes, reafirmou a prioridade do Governo para a requalificação do Porto de Mar de Vila Praia de Âncora. O encontro contou ainda com a presença da Secretária de Estado das Pescas, Cláudia Monteiro Aguiar. Antes de qualquer maquete, era necessário um estudo de impacto ambiental. “Vamos avançar com o Estudo (…), para depois lançar o concurso. Estamos a analisar o financiamento através do programa MAR 20/30 e do Programa Operacional Sustentável”, declarou o ministro, destacando a importância do estudo para viabilizar a intervenção no porto. A referida maquete, que segundo o presidente da Câmara Rui Lages era um passo de gigante, para Liliana Silva não correspondia a nada. “Só há maquete se há um estudo técnico, e só pode haver reconfiguração do portinho se houver um estudo de impacto ambiental”, afirmou a vereadora em reunião de câmara.

Um mês depois, o Ministro da Agricultura e Pescas, Manuel Fernandes, visita o Portinho de Vila Praia de Âncora e reúne novamente com os presidentes das Associações de Pescadores Carlos Sampaio e Vasco Presa, o Presidente da Câmara Municipal de Caminha, Rui Lages, o Presidente da Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora, Carlos Castro, e representantes da Docapesca, DGRM, APA e CCDR-N. Vasco Presa e Carlos Sampaio fazem “um balanço extremamente positivo” da visita do ministro, que se mostrou comprometido em agilizar o desassoreamento do portinho e realizar o estudo de impacto ambiental.

Em 2025, a vereadora da OCP, Liliana Silva congratulava o atual governo por avançar “sem imaturidades” para os compromissos e a ação.

Entretanto o governo caiu, atrasando novamente todo este processo e infelizmente, o mestre Vasco faleceu antes de ver o seu portinho requalificado.

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