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Caminha: Ferry-boat Sta. Rita de Cássia abandona hoje o concelho. Será a última viagem?

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Já foi rebocado o Ferry-boat Stª Rita de Cássia para o estaleiro de Camposancos em A Guarda (Espanha). Parada há cinco anos, primeiro por causa do cais de atraque do lado espanhol, depois por causa do assoreamento do Rio Minho, a embarcação ficou a apodrecer num banco de areia depois das reparações que custaram ao município cerca de 30 mil euros em 2020. Hoje o ferry-boat foi finalmente rebocado, naquela que poderá ser a sua última viagem, 30 anos depois da sua chegada, em 1995.

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Depois de o presidente da Câmara de Caminha, Rui Lages, ter admitido na Assembleia Municipal de 29 de Setembro de 2023, que o ferry não estava em condições de navegar e que a vida útil do equipamento “já foi”, a câmara procede hoje ao reboque da embarcação para “nova avaliação técnica” e possível reparação.

“Se houver viabilidade, a intenção da Câmara de Caminha é proceder à sua reparação (…), sendo certo também que é imprescindível o desassoreamento da foz do rio Minho para que o ‘ferry’ possa navegar”, disse hoje Rui Lages à agência LUSA. Contudo, meses antes, o edil afirmava que não era possível retirar dali a embarcação sem retirar o banco de areia e desassorear o Rio Minho. Recorde-se que já em 2020, a Câmara gastou 30 mil euros para reparar o Ferry-boat e a embarcação ficou a apodrecer num banco de areia porque o pontão em Espanha esteve inoperacional e o rio assoreado.

Em 2021, Miguel Alves, ex-presidente da Câmara de Caminha, chegou a prometer um ferry elétrico nas eleições autárquicas, através dos fundos do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência.

Mais tarde, Rui Lages assumiu não ser possível afinal candidatar o Ferry elétrico aos fundos do PRR já que a candidatura apenas previa a aquisição de veículos elétricos para carga oceânica e transporte oceânico. Perante a promessa eleitoral não cumprida, o autarca apresentou nova desculpa para mais um erro em candidaturas. “Nós entendemos que estava a ser muito redutor a parte oceânica porque infelizmente nós é fluvial”, disse o atual presidente da Câmara de Caminha em Assembleia Municipal em 2023.

Com o canal assoreado, sem ponte e sem Ferry-boat, Caminha continuará a ser, por tempo indeterminado, o único município da ribeira Minho sem ligação direta a Espanha.

Todas as desculpas, nenhuma solução

O Ferry-boat Sta. Rita de Cássia está parado desde 8 de Outubro de 2021, depois de algumas interrupções e retomas de travessias devido à pandemia Covid-19. Nessa data, a embarcação voltava a não navegar por estar a ser “alvo de trabalhos de manutenção, necessários para a renovação do certificado de navegabilidade”, assim justificou a Câmara Municipal de Caminha em nota enviada à imprensa.

2 de Maio de 2022, sete meses depois – e sete meses sem travessias – Miguel Alves, anterior presidente da Câmara Municipal de Caminha, explicava em Assembleia Municipal que a paragem da embarcação era uma situação que preocupava o executivo e que a mesma se devia a uma avaria no cais de atraque do lado galego.

12 Maio de 2022, a Câmara Municipal de Caminha informava em nota de imprensa que “o cais de atracação de A Guarda (Espanha) mantém-se inoperacional e assim deverá continuar durante os próximos meses”. A entidade Portos da Galiza adiava a reparação do cais de atraque em A Guarda para 2023. A situação preocupava o Presidente da Câmara de Caminha (Miguel Alves) que, com o seu homólogo de A Guarda (António Lomba Baz), se deslocou a Santiago de Compostela para reunir com a Presidente dos Portos da Galicia. “Do encontro não resultou uma solução previsível para um prazo curto” (…).

Conforme noticiou então o Jornal C – O Caminhense, “a correr bem, Ferryboat parado até Outono de 2023”.

3 de Novembro de 2022, já com Rui Lages como presidente do executivo – uma vez que Miguel Alves abandonou as suas funções para servir o governo como Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro (durante 2 meses) – a Câmara de Caminha e o Ayuntamiento de A Guarda (Espanha) enviam carta à Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, apelando “à sensibilização da governante para o tema” durante a 33.ª Cimeira Luso-Espanhola, que se realizaria a 4 de Novembro em Viana do Castelo, e que seria  presidida pelo então primeiro-ministro António Costa e pelo presidente do Governo de Espanha, Pedro Sanchéz.

“Do lado português, o ‘ferry’ encontra-se operacional, mas parado.” Rui Lages adiantava em Assembleia Municipal que, “no imediato”, a solução passaria por substituir o ‘ferryboat’ Santa Rita de Cássia por uma embarcação elétrica, um projeto que segundo o autarca, custaria oito a 8,5 milhões de euros. Também o AECT Rio Minho estaria a desenvolver estudos sobre soluções de ligação entre os dois municípios transfronteiriços.

Cinco meses depois – mais 5 sem travessias – a 1 de Abril de 2023Rosa Quintana, Ministra Regional do Mar (Galicia) afirmava que a obra no cais de atraque terminaria em 3 meses. “Ferry poderá voltar a navegar no verão”, noticiou o Jornal C – O Caminhense.

4 de Abril de 2023, três dias depois das declarações de Rosa Quintana, a Coligação O Concelho em Primeiro informava que tinha enviado uma missiva aos deputados do PSD na Assembleia da República por estarem extremamente preocupados com o estado do assoreamento do Rio Minho. Com o cais de atraque guardês praticamente concluído, antevia-se que o ferry não poderia voltar a navegar com o rio assoreado.

19 de Abril de 2023com a Câmara Municipal de Caminha em silêncio há 18 dias acerca deste tema, o anterior autarca de A Guarda (Espanha) Antonio Lomba Baz, em entrevista ao Jornal C – O Caminhense, alertava que “ferry, elétrico ou não, era solução a curto prazo” e aguardava que o estudo do AECT Rio Minho viabilizasse uma ligação permanente entre os dois municípios através de uma ponte.

20 de Abril de 2023o Jornal C – O Caminhense tentou o contacto telefónico com o Presidente da Câmara Municipal de Caminha, Rui Lages, e na impossibilidade de realizar a entrevista, enviou um e-mail com algumas questões ao presidente do executivo. Até hoje não obtivemos qualquer resposta.

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Quase um mês depois, a 4 de Maio de 2023António Lomba Baz confirmava que a reunião com Rui Lages ainda não tinha data marcada, apesar de se saber que o Presidente da Câmara de Caminha tinha estado presente na apresentação da recandidatura de Antonio Lomba Bazconforme noticiou o jornal galego Atlántico.

30 de Junho de 2023 e há 3 anos sem navegar, o Ferryboat Sta. Rita de Cássia continuava e iria continuar parado, por tempo indeterminado. Rui Lages procurava então saber a quantidade de areia que seria preciso retirar do rio Minho.

7 de Agosto de 2023, 3 meses depois de vencer as eleições, Roberto Carrero, atual alcaide de A Guarda (Espanha), em entrevista ao Jornal C – O Caminhense, avisava que o cais de atraque estaria concluído em Agosto. Dois dias depois, a 9 de Agosto, a Coligação O Concelho em Primeiro acusava Rui Lages de não estar preocupado com o Ferry e de não ter reunido com o novo alcaide de A Guarda (Espanha) para resolver o problema do assoreamento. A 29 de Setembro de 2023, em Assembleia Municipal, Rui Lages admitia que ferry não estava em condições de navegar e que a vida útil do equipamento “já foi”.

A 12 de Abril de 2024, com o cais de atraque do lado espanhol pronto, a Coligação O Concelho em Primeiro acusava Rui Lages de nada ter feito para que o Ferry pudesse voltar a navegar “e agora esconde as condições do Ferry-boat e diz que só não anda por causa do assoreamento.”

A 17 de Abril, em reunião de Câmara, Liliana Silva reforçava que a prioridade era dragar o cais onde o ferryboat Santa Rita de Cássia se encontrava encalhado num enorme banco de areia, para que depois pudesse ser levado para o estaleiro situado na outra margem galega para ser reparado, ou seja, o que está a ser feito hoje foi sugerido há mais de um ano pela oposição.

Em Assembleia Municipal, a 19 de Abril de 2024, Abílio Cerqueira, deputado do Bloco de Esquerda, defendia o desmantelamento do “empecilho” em que se tinha convertido o ferry-boat Sta. Rita de Cássia, “uma sucata inútil sem futuro”, disse.

Quase um ano depois, a 19 de fevereiro de 2025, Liliana Silva lamentava em reunião de Câmara que se tivesse gasto 40 mil euros na contratação de mais um fotógrafo e numa assessoria de imprensa quando esse dinheiro daria para desencalhar o ferry-boat. A eleita defendia uma intervenção urgente naquele local, que não dignifica o concelho. Já o presidente da Câmara disse que isso só seria possível com o desassoreamento do rio Minho.

Hoje, 25 de Julho de 2025, o Ferry-boat foi finalmente rebocado naquela que poderá ser a sua última viagem, 30 anos depois da chegada a Caminha da embarcação.

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