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Terça-feira, 1 Julho, 2025
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Primeira “Treehouse unit” será construída em Caminha

O atelier de César Marques, arquitecto de Vila Nova de Cerveira, viu recentemente um projecto para uma micro-casa ser reconhecido nos Estados Unidos. O projecto “TreeHouse Unit” recebeu uma menção honrosa na “Microhousing Ideas Competition”, promovida pela “Denver Architectural League”. Com uma abordagem conceptual baseada na estrutura de uma árvore, o projecto apresenta um edifício com oito habitações para construção junto a um rio.

É uma casa muito engraçada mas, ao contrário daquela que é cantada pelos célebres compositores brasileiros Vinicius de Moraes e Toquinho, na canção “A Casa”, esta tem teto e tem paredes, e até se pode entrar nela porque, ao contrário da outra, até tem chão. É verdade que não é uma casa convencional, igual àquelas que nos habituamos a ver na paisagem. Desde logo porque não há de nascer no chão, mas sim em cima de uma árvore. Esta casa, ou micro-casa tendo em conta as suas reduzidas dimensões (35m2), foi objeto de um prémio internacional atribuído no concurso “Microhousing Ideas Competition” realizado em Denver e que reuniu participantes de 20 países.

Da autoria do arquiteto português César Marques, a “TreeHouse Unit” concorreu com mais 100 projetos, merecendo do júri uma mensão honrosa. A distinção surpreendeu os autores, não porque não acreditassem na ideia, mas simplesmente porque não estavam à espera. Natural de Lisboa, César Marques veio viver para Caminha com apenas 3 anos. Foi em Caminha que fez os estudos secundários, na Escola C+S, até ingressar na Faculdade de Arquitetura do Porto. Terminado o curso, e depois de ter experimentado várias cidades onde desenvolveu a sua atividade, o arquiteto decidiu regressar ao Alto Minho e há seis anos abriu um atelier de arquitetura em Vila Nova de Cerveira, “longe dos grandes centros urbanos”.

Não sabe precisar quando ou porquê decidiu seguir arquitetura, “talvez porque identifico o espaço de uma forma um bocadinho diferente da maioria das pessoas”, aponta. Uma coisa é certa, a grande vontade de “criar espaços” e de viver dentro daquilo que é a sua imaginação, foi “uma ideia muito forte” que sempre o perseguiu.

“Como arquitetos temos que imaginar aquilo que ainda não existe, mas nunca tive com clareza a ideia de ser arquiteto”, confessa.

Apesar da dificuldade em entrar numa universidade pública, onde as médias para o curso de arquitetura são altíssimas, valeu-lhe a dedicação e ajudou o facto de gostar de desenho, geometria e matemática. “Estas 3 vertentes sempre me foram inatas”, explica.

Considerando que os arquitetos portugueses são possivelmente os melhores arquitetos do mundo, quando lhe pedimos uma referência não hesita: Ciza Vieira, Souto Moura, Alcino Soutinho ou João Paulo Serôdio, são nomes a reter.

“São grandes referências da arquitetura conceptual. São mentes brilhantes porque conseguem que as ideias que desenvolvem, se transformem em edifícios com uma linguagem e uma clareza formal e espacial fora do comum”.

Viajante quase compulsivo, gosta de fazer dois tipos de viagem: aquelas em que passa o tempo a ver e a entrar em edifícios, e as outras onde a natureza é quem manda.

“Julgo que isso acontece a quase todas as pessoas que têm esta profissão. A oportunidade de ver um edifício ao vivo, é muito diferente de a poder estudar numa qualquer revista ou um qualquer papel. A experiência que se tira do espaço é muito mais intensa quando o podemos percorrer e não apenas imagina-lo. As sensações e a compreensão do espaço são totalmente diferentes, são muito mais intensas e muito mais claras. Por outro lado também gosto de procurar sítios sem nada, locais onde consiga percorrer cem quilómetros sem ver um único edifício. A natureza é muito mais interessante do que a arquitetura”.

Apreciador da arquitetura Japonesa, o projeto “TreeHouse Unit”, pelas estruturas modulares que o compõem, faz lembrar o Movimento Metabolista que surgiu no Japão nas décadas de 60 do século XX. Trata-se de um modelo ainda conceptual de um edifício habitacional em forma de árvore, com 35 metros quadrados em oito módulos que incluem espaços como quarto, sala, casa de banho e cozinha, de 16 metros de altura e idealizado para ser habitado por um casal. A sua construção prevê o recurso a materiais tipicamente nacionais e recicláveis, como a cortiça ou a madeira. Apesar das reduzidas dimensões da “TreeHouse Unit”, impostas pelo próprio concurso, César Marques defende que a solução apresentada permite uma grande sensação de espaço.

“Estamos a falar de um espaço extremamente reduzido e por isso a opção que se tomou foi de volume, de verticalidade, baseada essencialmente no fato de entendermos que a questão funcional não era o essencial”.

Uma fachada com 4,5 metros de vidro em cada um dos lados, foi a solução encontrada pela equipa de César Marques para aumentar a sensação de espaço.

“Com esta solução, por muito que a área seja reduzida, a relação forte com o exterior e o facto de não existirem duas paredes, existir apenas vidro, acreditamos que irá proporcionar a quem está no interior, uma maior sensação de espaço”.

A questão da árvore prende-se, como explica o autor do projeto, “com o facto de optarmos por uma arquitetura mais conceptual. A história da arquitetura diz-nos que esta atividade mental, esta procura da arquitetura que não é construída mas sim pensada, muito desenvolvida nos anos 60 e 70, se tem vindo a perder e este tipo de concurso permite-nos explorar um pouco esse lado. A ideia da árvore, não do ponto de vista da forma mas sim da do conceito, vem da arquitetura japonesa, do metabolismo japonês que defende a construção do edifício como um organismo”, acrescenta.

Além dos oito módulos habitacionais, cada um com cinco metros de altura, o modelo apresentado, que faz lembrar uma árvore, inclui, nos pisos inferiores, áreas próprias para acondicionar canoas, tirando partido de um módulo conceptual idealizado para implantação junto a um rio, garagem para dois automóveis e espaço para guardar bicicletas. O modelo apresenta ainda preocupações de eficiência energética. Concebido especificamente para o concurso “Microhousing Ideas Competition”, o projeto “TreeHouse Unit” há-de um dia sair do papel e será construído no concelho de Caminha “num espaço relativamente virgem, com água por perto”. A garantia é dada por César Marques, que até já sabe onde gostaria um dia de ver nascer a primeira casa.

“Estamos à espera de encontrar um parceiro na área da construção modular para ensaiarmos o primeiro módulo”.

Apesar de acreditarem no projeto, que obrigou a 3 semanas de trabalho intenso e exclusivo, tanto César Marques como a restante equipa, o arquiteto João Saborosa e o arquiteto estagiário André Treleira, ficaram “bastante surpreendidos” com o “excelente” resultado.

“Sinceramente não estávamos à espera, e digo isto não porque não nos tenhamos dedicado ao projeto, mas sim porque tínhamos consciência da quantidade e qualidade dosoutros concorrentes. Estamos a falar em gabinetes com alguma dimensãoe poder económico para desenvolverem este tipo de concursos sem grande problema”.

Apesar de ter sido o mais noticiado, este não foi o primeiro concurso a que o gabinete de César Marques concorreu.

Nós tentamos fazer pelo menos dois concurso por ano e posso dizer-lhe que este não foi o primeiro prémio que conseguimos, já tivemos outros”. Com o mercado imobiliário a passar por uma fase bastante complicada, César Marques não é dos que se queixa e encara esta crise como “uma possibilidade para podermos relectir sobre as nossas atitudes e sobre o espaço que queremos”.

Enquanto arquiteto considera que esta crise lhe veio dar mais tempo para fazer os projetos, “e quanto mais tempo tivermos, melhor. O Ciza diz: dois anos para fazer um projeto e dois anos para fazer uma obra. Isto é, uma obra deve durar o mesmo tempo que um projeto. Isto diz tudo”.

Com projetos a decorrerem em Lisboa, no Porto, em Paços de Ferreira e no concelho de Caminha e Monção, César Marques procura apostar na inovação e trazer novos materiais ao imaginário comum.

“Sem a pretensão de querermos ser diferentes, procuramos construir a nossa própria arquitetura proporcionando uma leitura diferente dos espaços”, conclui.

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