Situada na freguesia de Âncora, Concelho de Caminha, a praia da Gelfa, ou do Forte do Cão, como também é conhecida, oferece condições excelentes para gozar a época balnear em pleno. Dentro dos parâmetros de qualidade exigidos, o seu areal e a água, aliados à beleza da paisagem, proporcionam a todos os veraneantes uma temporada inesquecível. É uma das praias do concelho de Caminha contemplada desde 2012 com o Galardão Bandeira Azul da Europa, o que lhe confere excelência. Descoberta por uns mas desconhecida pela maioria, a praia da Gelfa é um recanto do paraíso, “um diamante” por descobrir.
Muito procurada, esta praia contempla diversos equipamentos necessários ao seu usufruto e as suas qualidades terapêuticas, pela quantidade de iodo, são reconhecidas. Aliás, não foi por acaso que no século passado ali se construiu um sanatório marítimo precisamente para curar pessoas com tuberculose óssea. Por ali passaram ricos e pobres, pessoas influentes à procura de tratamento para os seus problemas de saúde.
Está considerada pela União Europeia como praia excelente quanto à qualidade da água. A sua beleza justifica uma visita em qualquer mês do ano, conjugando aquela com condições ideais para a prática do surf, bodyboard e windsurf.
Esquecida durante muitos anos, a praia da Gelfa sofreu em 2011 uma profunda remodelação, transformando a sua área envolvente num local aprazível não só para os amantes da praia, mas igualmente para todos quantos gostam de um bom momento à beira mar.
O extenso passadiço em madeira sobre a duna proporciona um agradável passeio com uma vista soberba sobre o mar e sobre a serra. Dali se pode contemplar um magnifico e tranquilo pôr do sol. A zona rochosa, que aparece entre marés, também lhe confere uma beleza singular.
Natural de Barcelos, José Neves descobriu a praia da Gelfa há cinco anos. Quando ali chegou para tomar conta do único restaurante que ali existe, o “O Camarão”, não havia por ali nada, apenas um local em terra batida, uma praia com uma beleza natural “enorme” mas sem nenhum tipo de infraestrutura que a fizesse ser procurada pelos veraneantes.
“Se hoje a praia da Gelfa é um diamante por lapidar, naquela altura era um diamante enterrado, por descobrir. O caminho era em terra batida, sinuoso e ladeado por austrálias. A praia estava num estado virgem e não era vigiada”, recorda.
Cinco anos depois de ali ter chegado e depois de muito caminho que foi preciso desbravar, a praia da Gelfa continua “felizmente especial”, explica José Neves. “Não é uma praia de massas. É uma praia para quem gosta e aprecia a natureza. Uma praia com uma qualidade de água excelente, enfim uma série de fatores que lhe conferem a possibilidade de possuir duas bandeiras que têm sido erguidas ininterruptamente”.
Mas o que leva uma pessoa a investir num local onde tudo estava por fazer? Um misto de aventura e sonho… sim porque esse comanda a vida. “Eu acho que este gosto pela descoberta que está nos genes dos portugueses. Tem sido assim ao longo dos séculos”.
Quando chegou à Gelfa, o empresário de Barcelos tinha um objetivo claro: “dinamizar este cantinho e transformá-lo numa mais valia para todos. Quem passa pela nacional 13 não imagina o que aqui está, a beleza que aqui se encontra e eu acho que no fundo é isso que me fascina, dia a após dia. Imagine o que é estar aqui depois de um dia de stress, ou fazer uma pausa para um almoço mais relaxado…”
É isto que o local proporciona e que José Neves quer proporcionar ao seus clientes, “muitos deles homens de negócios que aqui vêm precisamente à procura desses momentos de relaxe para descomprimir”.
Aliado a beleza da paisagem o restaurante Camarão oferece aos seus clientes uma cozinha de excelência assente nos mariscos da costa e no peixe fresco que diariamente é trazido do mar pelos pescadores locais.
“Sem querer menosprezar nenhum prato da nossa gastronomia de facto, num local como este, que tem um pé na agua e outro na areia, eu tenho que fazer do peixe e do marisco a minha bandeira, e faço. Aqui só se serve produto pescado nas nossas águas. Estou a falar do lavagante, do robalo ou do rodovalho, enfim aquilo que os pescadores vão trazendo no dia a dia é o que as pessoas podem degustar aqui no restaurante. Por exemplo neste momento a sardinha é um embaixador de excelência, mas no inverno temos o camarão da costa que mantemos vivo no aquário e servimos ao cliente. O sabor é diferente e isso é muito apreciado”.
Situado num local isolado, o grande desafio do Restaurante “O Camarão” tem sido, ao longo dos últimos cinco anos, atrair clientes.
“Trazê-los até cá em baixo foi desde logo o primeiro grande desafio. Repare, eu não sou de cá, a minha terra não é esta, a mim ninguém me conhecia. Eu costumo dizer que comecei debaixo de água uns bons metros e que neste momento já estou a conseguir respirar. Foi um trabalho árduo e difícil, mas a minha forma de o trilhar foi sempre um jogo de paciência, de esperar dia a dia e oferecer aos clientes o melhor serviço para que eles saiam daqui satisfeitos e voltem, se possível, com mais um amigo.”
Depois das obras efetuadas pela Câmara de Caminha em 2011, e que conferiram ao local condições que até ali não tinha, nomeadamente zonas de estacionamento, um passadiço com cerca de dois quilómetros entre outras infraestruturas, José Neves diz que existem ainda alguns pormenores a ter em atenção.
“Não estou a falar em grandes queixas mas sim casos pontuais de pequenas situações que na minha opinião poderiam ser melhoradas. Por exemplo na estrada nacional deveria haver um outro tipo de sinalética que convidasse as pessoas a vir até aqui. O ideal seria por exemplo a criação de uma rotunda que fizesse com que as pessoas se sentissem quase obrigadas a sair da estrada e a virem até cá abaixo ver o que aqui há. O grande desafio é tirar as pessoas da nacional para que se possam deslumbrar com este local. Nós não temos aqui uma praia, temos um postal maravilhoso constituído por vários fatores, desde a praia à paisagem que é magnifica e que queremos que todos possam desfrutar”.
Tornar a praia numa “praia acessível” é outro dos grandes desafios futuros da praia da Gelfa, como avança o empresário.
“Neste momento a praia já tem duas bandeiras e gostava de ali ver uma terceira que é a da praia acessível. Não é fácil devido à própria morfologia do terreno mas tenho esperança que isso possa acontecer”.
O arranjo do passadiço com cerca de dois quilómetros, que liga a praia da Gelfa à de Vila Praia de Âncora e que foi destruído pelo mau tempo que se fez sentir no último inverno, é outras das situações que José Neves gostava de ver resolvida com a maior brevidade possível.
José Neves defende também a existência no local de um apoio de praia simples e não apenas um apoio mínimo que é o que existe neste momento no local e que é assegurado pelo próprio empresário.
“Acho que fazia todo o sentido que esta praia tivesse um espaço de cafetaria a funcionar. Não digo o ano todo mas pelo menos meio ano. É preciso criar condições para que as pessoas aqui venham, criar esplanadas e fazer com que o local tenha vida não digo que o ano inteiro, mas pelo menos meio ano, o que neste momento não acontece”.
Combater a sazonalidade é o grande desafio que José Neves vai ter que enfrentar e para isso o empresário lança o desafio às autoridades. “Reveja-se o POOC para que se possam dar mais condições aos veraneantes. Esta praia merece mais e melhor”, defende.
Mas a Gelfa é muito mais do que uma praia, também é história.
Já aqui referimos a construção de um sanatório no século passado para curar problemas relacionados com os ossos. De facto a sua construção não surge ali por acaso, a localização está relacionada, segundo inúmeros relatos, com o facto dos “ares serem bons” e as águas extremamente ricas em iodo, portanto de excelentes características terapêuticas.
“Como lhe disse não sou de cá mas ao longo destes cinco anos tive o cuidado de me inteirar um pouco sobre a história do local. De facto a construção do sanatório data de 1927 e foi criado principalmente para tratar males relacionados com os ossos. As águas são muito ricas em iodo o que é bom para os nosso “santos” ossos. Essa é outra das uma mais valias desta praia”.
Mas a história não se fica por aqui e podemos recuar muito mais no tempo.
Aqui foi edificado no século XVII, (1699) por D. Pedro II o Forte do Cão, imóvel considerado de interesse público desde 1967.
Edificado durante o período da Guerra da Restauração, o Forte do Cão tinha como objetivo reforçar a defesa da costa portuguesa perante a ameaça da armada espanhola, nomeadamente a zona fronteiriça do Minho. A tipologia estrutural desta fortaleza apresenta evidentes semelhanças com as fortificações implantadas entre Vila Praia de Âncora e Esposende, cuja planimetria das mesmas constituiu na época um avanço no sistema de defesa e vigia.
José Neves diz que o local está associado a muitas e interessantes histórias que vão desde a denominação do forte que é do Cão porque, reza a lenda, “ali aparecia com frequência, à noite, um cão de grande dimensões, uma criatura estranha”.
Mas há mais histórias, muitas delas ligadas ao contrabando que conferem ao local uma certa mística, como revela o empresário.
Para José Neves o importante não é transformar o local numa zona de massas é sim proporcionar a quem visita este local as melhores condições”para que possam desfrutar de umas férias ou até de um simples dia inesquecível.
“Foi para isso que para aqui vim há cinco anos e é para isso que trabalho todos os dias”, revela o empresário que se considera “um mecenas” da praia da Gelfa.