No arranque dos anos 50, passa a residir definitivamente em Vilar de Mouros, deixando para trás a sua temporada profissional na cidade de Beira em Moçambique, José Porto aproxima-se dos 70 anos, revelando alguns problemas de saúde que o iam progressivamente limitando. Porém nunca deixou de exercer as suas funções, demonstrando paixão pela arquitetura, mesmo que nesta fase a sua linguagem fosse relacionada com um certo regionalismo, enquadrando-se à realidade de Caminha.
Esta década é repleta de variadíssimos projetos no âmbito da reabilitação ou construção de novas moradias e onde a intervenção arquitetónica revela a mudança do seu traço, ficando definitivamente para trás o seu pioneirismo modernista. Aqui, José Porto convive com as características apropriadas dos seus clientes locais, onde se percebem características financeiras díspares, sem que isso o impeça de tentar tirar o melhor proveito vivencial dos espaços, sendo por vezes limitado às exigências das pré-existências encontradas.
Neste segmento de obras, consta que José Porto teria, em diversos casos, um papel de ajuda a famílias de menores recursos, oferecendo os seus serviços, demonstrando o cariz social e humano que fazia parte da sua identidade.
Relativo à coleção dos seus projetos de âmbito local e de linguagem tradicional, podem ser destacadas as casas Francisco Fernandes, Maria Barrocas, José dos Santos, João Castanheiros, António da Chão, Abílio Barrocas, António da Cunha, António Pantaleão, Manuel Ferro e Daniel Rodrigues, sendo este o seu último projeto desenvolvido na área do município de Caminha e um dos últimos da sua carreira, datado do ano de 1961.
Existe também registo arquivístico da casa do Eng.º Fernando Teixeira no gaveto das Avenidas de Camões com a Saraiva de Carvalho, cujo projeto foi desenvolvido em coautoria e assinado pelo Arq. José Porto. Esta habitação foi, entretanto, demolida para fazer surgir um bloco de habitação multifamiliar.
Também no centro histórico da vila de Caminha pode encontrar-se a tradicional Mercearia Viúva Crespo, cuja intervenção de modernização do interior e da montra é da autoria do arquiteto e cujo projeto data do ano de 1954.
No entanto, neste período profissional e no âmbito da moradia, José Porto desenvolve o projeto da casa Maximino Cunha Pinto em Lanhelas, adossada à E.N.13 e que se destaca pela sua generosa dimensão e adornos, onde estão fortemente presentes elementos pétreos e um desenho tradicionalista. É de referir também a casa Abel Narciso Jorge na Rua Conselheiro Miguel Dantas, recentemente reabilitada, e que, apesar do cerne do seu desenho de fachada ser tradicional, o arquiteto resolve-a visualmente com recurso à pedra e revestimento em pastilha vidrada de tom azul-claro, que a faz sobressair de forma elegante no conjunto em que participa. Ainda hoje, 62 anos depois, a obra convida a parar e ser admirada com alguma atenção.
O interesse arquitetónico desta obra, cujo projeto data do ano de 1961, denota-se ao ser obra referida no Estudo de caracterização do Património Cultura de Caminha do ano de 2016.
Mas não só este âmbito de projetos José Porto desenvolveu nesta década de 50 e início de 60. Não sendo, certamente, do conhecimento geral dos habitantes de Caminha, a atual plataforma urbana da vila é parte do Anteplano de Urbanização da Vila de Caminha que foi desenvolvido pelo arquiteto entre os anos de 1952 a 1961, e onde desenhou as premissas para a vila que é hoje. Para trás ficou o trabalho, julga-se por entregar, desenvolvido pelo arquiteto lisboeta Raul Lino, que o teve a seu cargo entre os anos de 1948 a 1952, tendo neste ano rescindido o seu vínculo contratual com o município de Caminha, após o seu pedido de “escusa do cumprimento das obrigações”.
Curiosamente não se encontra qualquer trabalho desenvolvido pelo arquiteto Raul Lino nem arquivisticamente nem em referência nas monografias ou estudos a si dedicados. O que é certo é que existem diversos projetos do arquiteto no Alto Minho, alguns não construídos, como o caso do projeto de reabilitação de um solar na localidade de Vitorino das Donas em Ponte de Lima. Infelizmente configura-se aqui uma diversidade de projetos deste importante arquiteto e que não foram, até aos dias de hoje, devidamente estudados, como acontece também com o arquiteto José Porto. Desta forma pode ser exaltado o nome do arquiteto vilar mourense como um técnico de grande importância e reconhecimento. Note-se que José Porto desenvolve o anteplano de Caminha após a rescisão de Raul Lino, não se sabendo se houve eventualmente algum contacto entre eles sobre o respetivo trabalho. Curiosamente os seus nomes já se tinham cruzado na década anterior na cidade da Beira em Moçambique, onde Raul Lino desenvolveu diversos projetos, também pouco estudados, na malha urbana de uma nova cidade que estava a ser projetada por José Porto. Coincidem novamente ambos nesse local, nesse preciso momento.
Sendo Raul Lino uma figura incontornável da história e da arquitetura portuguesa, acaba por ser relacionado em diversos momentos com a figura de José Porto, o que confere a este a confirmação de uma extrema importância na época, lamentando o esquecimento do seu nome na história. Podem-se juntar aqui outros nomes, como Alfredo Viana de Lima, abordado num artigo anterior, sendo também ele uma figura incontornável e inesquecível do modernismo português, em tempos colaborador de José Porto, e com quem construiu uma relação de amizade que, consta, continuou pela vida fora.
Outra obra que acabaria embargada e inacabada, existindo apenas algumas paredes ao nível do piso térreo, é a Sede da Associação Moledense de Instrução e Recreio, projeto do ano de 1953 situado no gaveto da Rua de Fontela com a Avenida Engenheiro Sousa Rego, frente à praia de Moledo. Este edifício de utilização pública parte de uma implantação de frente curva e “compõe-se (…) de uma sala de festas e de espectáculos com o seu palco e dependências, sala de reuniões, bufetes, instalações sanitárias; e com entrada própria de um consultório medico, sala de espera e instalações sanitárias. Um gabinete de dentista e farmácia. Gabinete de direcção e arquivo.” A sala de espetáculos composta por plateia e balcão teria uma capacidade para 500 lugares.
Aos dias de hoje, após décadas de abandono, este edifício inacabado ganhou vida, tendo sido batizado como Auditório António Pedro. Personalidade artística multifacetada, reconhecida a nível internacional que acaba por escolher Moledo para residir, no ano de 1951, e onde acabaria por falecer em 1966. Durante estes anos foi amigo próximo de José Porto e presença habitual da sua residência em Vilar de Mouros.
Também o edifício dos paços do Concelho de Caminha recebeu a intervenção do arquiteto, em 1954, modernizando-o e resolvendo a sua fachada principal com a construção da arcada esquerda e recuo que hoje conhecemos, uma vez esta área do edifício não dispor, à época, essa continuidade rítmica. Hoje essa integração permite um outro espaço de receção e proteção, enquadrando-se de forma mais harmoniosa com a Torre adjacente e relacionando-se de forma fluida com o espaço público que a envolve.
Nesse mesmo ano surge o seu projeto para a ampliação do Cemitério de Vilar de Mouros, resultando na ampliação da 2ª fase, a sul da implantação original. Segue a linguagem pré-existente, porém a solução edificada não corresponde na integra à sua solução.
E como grande parte da vida do arquiteto José Porto se enquadrou de forma direta ou indireta, com grande ou pequena escala, com o espaço publico, é de relembrar o ponto focal e de receção de Vilar de Mouros, o arranjo urbanístico do Largo da Torre, onde a histórica Oficina de Serralharia Fontes se situa. Este espaço surge do traço do arquiteto oferecendo, para além do controlo do espaço e de gestão automóvel, um pequeno espaço de apropriação humana e convívio. Este é mais um caso da sua intervenção na sua freguesia natal.
Encerramos este penúltimo artigo com uma criação de José Porto que não seria uma tipologia corrente na sua obra. Referimo-nos ao marcante Jazigo da Família Cardielos, construído no Cemitério de Vilar de Mouros. Uma peça granítica moderna e depurada cujo interesse histórico levou-a a ser documentada na obra “Cemitérios de Caminha – Fragmentos da Memória” da autoria da Arq.ª Lurdes Carreira, onde reza “Incontornável é a referência ao jazigo particular da família Cardielos, datado de 1958, da autoria do arquiteto José Porto, que aqui se destaca como era de esperar, pela modernidade e qualidade da sua conceção.”
José Porto encontra-se nesta data com a idade de 75 anos, caminhando a passos largos para o fim de uma carreira de extrema importância histórica, mas que nem a idade o faz recuar na vontade de produzir arquitetura, apesar das devidas limitações que naturalmente se vão impondo. Os últimos anos da sua vida, que no seguinte e último artigo abordaremos, ainda revelam surpresas que demonstram a sua garra e vontade!