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Edifícios Ícones de Porto

Continua esta a ser uma época de excelência e quantidade na produção arquitetónica de José Porto, por esta altura com a idade de 60 anos e ciente do seu profissionalismo, conhecimento e experiência em diversas escalas de trabalho, seja na pequena habitação ou à dimensão da cidade.

Numa fase em que divide a sua vida entre as cidades do Porto e da Beira em Moçambique, passando nesta última maiores temporadas com o desenvolvimento do anteplano de urbanização da cidade, José Porto acaba por ser solicitado para outras intervenções, enquadradas em novas edificações ou no âmbito das reabilitações, remetendo as suas visitas a Portugal nos períodos de férias ou, acreditamos, a viagens esporádicas de trabalho à cidade do Porto.

Sobre a Beira, podem ser aqui referidos os casos do projeto de reabilitação do edifício dos correios e telégrafos da cidade, no ano de 1944, onde se pretendeu modernizar e adequar a pré-existência, ou o projeto de remodelação dos Paços do Concelho da cidade, também do mesmo ano, situados ambos os edifícios na Praça do Município da Beira. Apesar do edifico dos correios surgir alterado aos dias de hoje, os paços do concelho mantêm-se de acordo com a solução desenvolvida por José Porto.

PACOS CONCELHO BEIRA
Paços do Concelho da Beira (desenho de José Porto) – Imagem do livro “Resposta ao parecer do Gabinete de Urbanização Colonial acerca do Ante-Projeto de Urbanização da Cidade da Beira”

A intervenção de José Porto no edifício camarário surge inúmeras vezes referida em publicações, inclusive sobre a história da cidade, surgindo o arquiteto em diversas fotos no seu interior, conforme se pode consultar no acervo depositado na Fundação Instituto Marques da Silva. Surgem também gravuras desse projeto no livro editado em Abril de 1946, com o titulo “Resposta ao parecer do Gabinete de Urbanização Colonial acerca do Ante-Projeto de Urbanização da Cidade da Beira” da sua autoria e do seu colega Engº Ribeiro Alegre, gerente do atelier Engenheiros Reunidos sediado no Porto e com quem José Porto trabalhava.

Também a Praça do Município da cidade da Beira foi alvo da linguagem arquitetónica de José Porto, recebendo deste a conceção dos arranjos urbanísticos, que se mantêm aos dias de hoje, com vista a “valorizar os Paços do Concelho e o edifício dos correios, proporcionando-lhes o desafogo que a estética e o trânsito exigem.” Desenvolveu também, neste âmbito, o arranjo urbanístico da Praça Dr. Vieira Machado na mesma cidade, “destinada a ser, pela sua situação relativamente ao Palácio do Governo, à zona residencial europeia, ao Macuti e ao Oceano, o centro representativo da cidade.”

A par do desenvolvimento destes e outros projetos nessa cidade africana, o arquiteto desenvolve também no norte de Portugal, mais concretamente na cidade do Porto, alguns edifícios que acabariam por se tornar ícones da cidade e notórios ainda aos dias de hoje, sendo reconhecidos pelos portuenses e investigadores de arquitetura e urbanismo.

Destacamos neste artigo dois desses edifícios. O primeiro deles, o Edifício Emporium, projeto do ano de 1947, e situado na esquina da Rua Sá da Bandeira com a Rua Guedes de Azevedo. Com o programa de habitação multifamiliar, recebe, ao nível do transeunte, um conjunto de espaços comerciais, onde chegou a estar instalada a famosa Confeitaria Cunha e todos os pisos seguintes recebem a função de apartamentos, reservando o nível de cave para estacionamento, a “Garagem Sá da Bandeira”. No seu exterior revelam-se linhas de um modernismo por vezes depurando soluções de influências clássicas, em que as forças dos elementos horizontais se destacam, como o caso das varandas. Contudo, a imagem de marca do edifício encontra-se na linguagem que resolve a esquina, fazendo, em parte, recordar a solução na esquina do edifício dos Paços do Concelho da Beira, que recebeu a intervenção de José Porto 3 anos antes.

EDIFICIO EMPORIUM
Edifício Emporium atualmente – Foto do autor

O Edifício Emporium era, na época, um exemplo de modernidade e vanguarda, situado numa das principais artérias da cidade do Porto, ávida de famílias endinheiradas e de um determinado estatuto social. Neste edifício chegou mesmo a morar o arquiteto José Porto e a sua esposa, de nacionalidade francesa, Betsy, como era por todos conhecida.

Aos dias de hoje o famoso Edifício Emporium figura no grupo dos edifícios marcantes da cidade do Porto, chegando mesmo a ser estudado e referido em publicações sobre arquitetura e prédios de rendimento. A sua função permanece de acordo com as premissas do projeto original e a sua linguagem mantém-se, tendo recebido em 2019 uma profunda intervenção de reabilitação com vista à sua adaptação para o mercado de habitação de luxo, reforçando a importância da sua preservação e a valorização como elemento da história da arquitetura modernista da baixa da cidade.

Também este foi um projeto encomendado a José Porto por um dos seus mais importantes clientes da época, o Sr. José Dias Oliveira, fundador das indústrias Riopele. Curioso o facto de ter sido também desenvolvido pelo arquiteto, para o mesmo terreno de gaveto e para o mesmo cliente, o anteprojeto do Cinema Sá da Bandeira, justamente no ano seguinte ao projeto do Edifício Emporium, aproveitando deste apenas a cave com a função de estacionamento. Julga-se que esta reversão possa ter sido levantada pelo promotor aproveitando o mercado emergente dos novos cinemas que se difundiam a nível nacional. Porém, nunca o cinema foi construído, prevalecendo o projeto do Emporium.

Outro edifício da autoria do arquiteto José Porto e que também ajudou a caracterizar a imagem modernista da cidade do Porto e das suas primordiais artérias, foi o Hotel D. João I, na praça com o mesmo nome, inicialmente batizado como Hotel Solar de Aviz. Infelizmente, e tristemente, este projeto de 1947 acabaria por nunca abrir portas com a função para o qual foi projetado, devido ao falecimento prematuro do proprietário, o industrial José Dias de Oliveira. Terminado e equipado como hotel, foi vendido pelos herdeiros e viu-se encerrado durante 15 anos, recebendo mais tarde outras funções como escritórios ou agência bancária.

HOTEL D JOAO I
Hotel D. João I (edifício à esquerda) – Foto do portal “Monumentos Desaparecidos”

Porém com o passar dos tempos, a pressão imobiliária e, provavelmente, o estado desajustado do edifício para as necessidades da cidade atual, ditou em 2015 a sua demolição, deixando um vazio urbano no quarteirão, que se revelaria num imponente projeto imobiliário em construção no presente momento.

Esta saudosa peça da autoria de José Porto, demonstrava a sua qualidade e modernismo marcante, reforçado ainda pela geminação com o famoso Palácio Atlântico, projetado em 1946 pelo conceituado atelier ARS Arquitetos e inaugurado em 1951 como sede do Banco Português do Atlântico. Ambos os edifícios são construídos sensivelmente em simultâneo, sendo o Hotel D. João I construído pelo conceituado construtor portuense Joaquim Ferreira dos Santos, também ele cliente de José Porto. Convive assim o arquiteto Vilar Mourense “lado a lado” com três dos arquitetos mais importantes da cidade, Fortunato Cabral, Morais Soares e Cunha Leão. Contribui também José Porto com um artigo de opinião de sua autoria no livro “A Praça D. João I e o seu Palácio Atlântico” editado no ano de 1951, continuando a demonstrar a sua importância e reconhecimento pelos seus pares como arquiteto.

Sem qualquer réstia de dúvida, estes são dois dos mais importantes edifícios portuenses da segunda metade da década de 40, reconhecidos ao ponto de figurarem recorrentemente em postais turísticos, nas décadas seguintes, como ícones representativos da cidade em constante modernização.

Neste período, concretamente no ano de 1946, José Porto desenvolve também o projeto e obra de reabilitação da casa dos seus pais nas Marinhas em Vilar de Mouros, onde passaria a residir no futuro. Esta não seria a reabilitação e ampliação proeminente que desenhava aquando da sua juventude, conforme esquissos depositados no acervo, em que ensaiava também o arranjo paisagístico do logradouro na frente da habitação. A solução final passaria por uma intervenção mais modesta, mantendo de certa forma a estrutura base da existência.

Aproxima-se esta série de artigos do momento em que o arquiteto José Porto dá por concluída a sua temporada profissional na cidade da Beira, não por opção, mas obrigação por questões de saúde, regressando ao Porto e à sua terra natal no fim da década de 40, ainda com obras por terminar nessa terra moçambicana que tanto tem dos seus traços visíveis aos dias de hoje.

Abordaremos no próximo artigo este momento de transição na vida do arquiteto, altura em que se aproximava dos seus 70 anos.

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