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Caminha: Liliana Silva, a entrevista

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Um dia depois da vitória nas eleições autárquicas de 2025, em entrevista exclusiva ao Jornal C – O Caminhense, Liliana Silva da Coligação O Concelho em Primeiro (OCP) – PPD/PSD.CDS-PP.PPM – atribui esta conquista à necessidade de mudança que sentiu na população de Caminha. A futura presidente da Câmara Municipal destacou o aumento de votos em quase todas as freguesias, fruto do trabalho de oposição construtiva realizado nos últimos 12 anos. Quanto ao empate de deputados entre o Partido Socialista e a OCP na Assembleia Municipal (AM) e o facto de haver um deputado do Chega naquele órgão pela primeira vez, Liliana Silva acredita que o diálogo, a responsabilidade e a isenção dos presidentes de Junta independentes garantirão o bom funcionamento da AM.

As primeiras medidas do seu mandato incluem a revisão do PDM, o desenvolvimento da zona industrial entre Argela e Vilar de Mouros, a revitalização do Natal no concelho (já este ano) e a melhoria da limpeza e conservação dos espaços públicos. Captar empresas, evitar especulação imobiliária, rigor nas contas municipais, eliminação de gastos desnecessários e aproveitamento de fundos comunitários são outras das bandeiras de Liliana Silva.

Quanto à maior promessa da sua campanha, “agora sim, será iniciada uma discussão séria acerca da ponte que vai ligar as duas margens, Caminha e A Guarda (Espanha), “que até agora não foi possível por não termos a Câmara Municipal na mesma página das restantes entidades que sempre quiseram a ponte.

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“Por um se ganha, por um se perde” disse-nos Liliana Silva na passada segunda feira, 13 de Outubro, depois de vencer as eleições autárquicas por apenas 30 votos. Mas a futura presidente da Câmara Municipal de Caminha não tem dúvidas de que esta vitória, com bastante mais expressão nas freguesias do que em eleições anteriores, deveu-se à necessidade de mudança que sentiu na população, no porta a porta, “na semente que colocou em cada um”.

A nova composição da Assembleia Municipal (AM) de Caminha, muito mais plural do que nos últimos quatro anos, não “assusta” Liliana Silva, até porque para além dos presidentes de junta, sete pelo PS e seis pela OCP, e apesar do empate entre a Coligação O Concelho em Primeiro e o PS em número de deputados, 10 cada um, também haverá um deputado do Chega e uma independente pelas Argas, “que poderão ser um balanço interessante nas decisões que tiverem de ser tomadas na AM”.

A conquista de mais freguesias – Venade e Azevedo, Argela e Vilar de Mouros – foi para Liliana Silva “um claro sinal de mudança, fruto de um bom trabalho de quem lá esteve na oposição nos últimos quatro anos, que não é sempre do contra, como às vezes se faz crer”.

O maior desafio que Liliana Silva enfrentou nesta candidatura foi “aguentar estes últimos 15 dias de campanha eleitoral, de contra informação, de mentiras, conferências de imprensa e publicações nas redes sociais”.

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Transformar o concelho de Caminha numa referência já neste natal e “reparar as pequenas coisas em cada freguesia – que muitas vezes as pessoas não valorizam -, como por exemplo o separador da estrada nacional na marginal de Caminha são coisas que podemos fazer já”, afirmou Liliana Silva.

A eleita vai começar a trabalhar na revisão do PDM, no desenvolvimento da nova zona industrial entre Argela e Vilar de Mouros e na captação de empresas. Quanto a candidaturas a fundos europeus, Liliana Silva vai estar muito atenta e, garante, “a partir de agora, nenhuma será perdida“.

Prioridade para este mandato? Liliana Silva diz que “não é uma, são três. Mais empresas e mais emprego; mais apoio e condições para os jovens; e mais apoio social, com habitação social, arrendamento acessível, etc.”

Sobre o problema da habitação, transversal a todo o país e com alguma gravidade no concelho de Caminha dada a inércia do anterior executivo nos últimos anos, “primeiro há que criar a carta de habitação”, afirmou Liliana Silva. A eleita garante ainda que agora terão de se definir bem as regras, mas a prioridade serão “os nossos jovens, as nossas famílias, os habitantes de Caminha e não a especulação ou segunda habitação”.

“Alguns itens do nosso programa, que é extenso, envolvem bastante dinheiro mas é nesses que esperamos financiamento dos fundos comunitários, porque sabemos que vão abrir-se muitas oportunidades. Mas um programa extenso não significa gastar muito dinheiro”, diz Liliana Silva. “Ter, por exemplo, um piquete municipal de intervenção, para que as pessoas possam ligar quando têm um problema, não custa milhões”, disse.

Reduzir gastos desnecessários, como assessorias de imprensa “que não servem para nada”, ter rigor nas contas, visão e estratégia, são o suficiente para Liliana Silva garantir os recursos necessários para implementar o programa que apresentou.

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As contas do município dividiram o Partido Socialista e a Coligação O Concelho em Primeiro durante 12 anos. Liliana Silva está preocupada com as últimas listagens a que teve acesso, que demonstram “um aumento da dívida nestes últimos meses – 23 milhões de euros – despesas de capital e obras por pagar de mais 5 milhões de euros”. A eleita vai pedir uma auditoria às contas do município, “não como purga ou para perseguir ninguém, mas para pôr todas as pessoas a par da real situação financeira de Caminha.”

Em relação à dívida do município com a Luságua, que por ter passado para um acordo de pagamento não pode ser considerada parte da dívida do município, Liliana Silva poderá tentar renegociar para baixar taxas de juro mas pouco mais há a fazer. “Agora não se pode é dizer aos caminhenses que se baixou a dívida, quando a dívida está lá para pagar”, disse.

Agora que se inverteram as posições no executivo, estando a OCP em maioria (4) em relação ao PS (3), a eleita diz que “vai fazer aos outros aquilo que não fizeram com ela” nestes 12 anos: saber ouvir, saber respeitar opiniões, aceitar os contributos de todos e trabalhar em conjunto.

Quanto à transparência, Liliana Silva quer tornar públicos todos os procedimentos e contratos da autarquia, porque “todos os caminhenses têm direito de saber onde é gasto cada cêntimo do seu dinheiro”. Já no que toca ao direito à oposição, os serviços municipais facultarão todos os documentos solicitados pela oposição, algo que não aconteceu nestes últimos anos. “Estamos cá para fazer diferente”, afirmou.

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A cedência por parte da Câmara da água e infraestruturas à empresa Águas do Alto Minho (ADAM), um dos temas mais discutidos nas eleições anteriores e sobre a qual Liliana Silva tem uma opinião muito crítica, não está esquecida. A eleita pretende, para já, implementar a tarifa social de água no concelho de Caminha, o único que não a tem, uma vez que foi sempre negado pelo executivo anterior, apesar das muitas solicitações da coligação OCP.

Em relação à saída da empresa e à recuperação da água por parte do município, Liliana Silva considera que não devemos baixar os braços só porque os municípios de Vila Nova de Cerveira e Valença perderam a ação em tribunal que visava reverter a cláusula que os impedia de sair da ADAM unilateralmente. “O que fizeram ao concelho de Caminha e às outras câmaras, ao blindar o contrato, foi muito grave”, disse.

Liliana Silva ainda não definiu quem será o seu vice presidente, mas será algo que irão decidir quando tomarem posse, entre os quatro, “porque nós trabalhamos em equipa”.

Quanto ao boicote de que a Rádio Caminha e o Jornal C – O Caminhense foram alvo nestes últimos anos, Liliana Silva não tem dúvidas de que este terá sido o maior ataque alguma vez feito por um Presidente de Câmara à comunicação social local. A eleita lembrou que o Jornal Caminhense era o único órgão, na extensa lista de e-mails a quem enviavam notas de imprensa, que as publicava. Segundo Liliana Silva, “os restantes órgãos, incluindo um outro órgão do concelho, bloqueavam-nos, não publicavam notas de imprensa, distorciam o que era dito em reunião de câmara, entre outras situações.”

A grande promessa eleitoral de Liliana Silva, a ponte que irá unir Caminha e A Guarda (Espanha), “vai acontecer”. Para a eleita, estão reunidas as condições para, agora sim, estudar seriamente este assunto, até aqui tabu. “São muitas as entidades interessadas em avançar com o projeto, desde logo a Câmara de Caminha – que antes era um obstáculo -, o Governo, a Câmara de A Guarda e a Xunta de Galicia”, garante.

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Na última cimeira ibérica de Outubro de 2024, foi aprovada a construção de duas novas pontes, sobre o rio Sever e sobre o rio Guadiana, ambas com financiamento garantido do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), de 11,9 milhões de euros e 13 milhões de euros, respetivamente. Para Liliana Silva, a diferença entre Caminha e estas localidades é simples: foi feita uma discussão séria sobre este assunto.

“Em Caminha as pessoas não podiam falar sobre a ponte e tornou-se uma questão partidária. Mas o Ferry não é solução para Caminha, em todos os municípios há pontes, Viana do Castelo já vai ter uma quarta ponte (…), a ponte é necessária para tudo, é fundamental (…). Para mim, a questão da ponte é ponto de honra”, afirmou.

Segundo Liliana Silva, a ponte em Caminha tornou-se uma questão partidária muito recentemente, “até porque o primeiro a defender uma ponte foi o Presidente da Câmara e Engenheiro Pita Guerreiro, mas na altura não foi possível desenvolver aquele projeto (…) e a solução provisória encontrada foi o Ferryboat. O problema é que foram acomodando-se e a embarcação tornou-se a solução definitiva. Mas não pode ser definitiva porque não podemos estar a falar de Eurocidade quando não temos ligação nenhuma com a Guarda e temos que passar por Vila Nova de Cerveira para ir a Espanha”, disse Liliana Silva.

Acrescenta ainda que “a zona industrial que pretende criar entre Argela e Vilar de Mouros, o local mais estratégico de Caminha, perto do nó da A28, do porto de mar de Viana do Castelo, do porto de Leixões e Vigo”, é mais um argumento para defender facilmente junto do governo a urgência desta ligação.

Sobre se vai conseguir convencer Luís Montenegro da importância desta ligação, Liliana Silva não hesita, “até porque as pontes são muitas vezes pontos turísticos.” A eleita recorda ainda um episódio recente do primeiro ministro que reforça a necessidade de uma ponte: “da última vez que ele cá veio, teve que ir a Espanha e demorou uma hora e meia a chegar a Cerveira, porque foi no verão. Mais um motivo para termos esta ligação.”

Liliana Silva conclui, “vamos ter aqui um potencial muito grande de desenvolvimento no nosso concelho.”

Liliana Silva, a nova presidente da Câmara Municipal de Caminha, em entrevista exclusiva ao Jornal C – O Caminhense.

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