Nunca gostou de fazer roupa para as bonecas mas a paixão pelos “trapos” e pela agulha vem-lhe da infância. Vizinha de uma costureira, Eunice Marinha começou a cozer com apenas 4 ou 5 anos. A modista, percebendo que a pequena tinha jeito para a agulha começou a pagar-lhe para ela cozer a bainha das saias das clientes. Foi com ela que aprendeu alguma coisa de costura e desses tempos guarda “as recordações”. Mais tarde, o que começou por ser uma brincadeira de criança acabaria por marcar o futuro profissional desta engenheira têxtil que hoje se dedica à confecção de enxovais para bebé no seu atelier da Rua da Corredoura em Caminha.
Lá dentro tudo tem graça. As cores e os padrões suaves misturam-se com as lãs e os bordados, resultando em pequenas peças que vão desde a simples e tradicional fralda, às roupas, passando pelos lençóis para os berços para acabar nos bonecos, criaturas às vezes estranhas que a Ni, como gosta de ser chamada, cria naqueles dias e que está com a “telha”, revela. Mas como é que uma engenheira têxtil se transforma numa criadora de enxovais para bebé? A Ni explica que tudo nasceu da necessidade de criar o seu próprio posto de trabalho e da vontade de fazer algo diferente.
“Depois de ter trabalhado algum tempo numa empresa têxtil da zona senti que estava na hora de fazer algo diferente e pensei: porque não utilizar um hobby como fonte de rendimento. E foi assim que começou”.
A opção pela roupa de bebé nasceu por um lado pelo gosto e por outro pela necessidade.
“Quando tive o meu primeiro filho comecei a fazer algumas coisas que me faziam falta e que não conseguia encontrar no mercado, principalmente artigos personalizados. Depois quando tive o segundo foi necessário reciclar e renovar o que já havia. Foi assim que começou. Depois vieram os sobrinhos e fui sempre fazendo até que decidi fazer disto a minha fonte de rendimento”, explica.
Com o atelier aberto há quatro anos a Ni não se arrepende do dia em que decidiu mudar tudo a nível profissional.
“Isto é a minha paixão, é o que eu gosto de fazer e acho que isso é visível nas peças que vou criando. São feitas com muito carinho e muito amor e é por isso que saem bonitas”.
A Ni já vestiu recém nascidos de todo o país e até do estrangeiro e diariamente chegam ao seu atelier muitas encomendas, muitas delas via facebook.
“Caminha é um ponto turístico e obviamente que muitas pessoas de fora, Porto, Lisboa e outros locais, são meus clientes porque visitaram o atelier e ficaram a conhecer os meus trabalhos. No entanto o facebook tem-se revelado um excelente meio para dar a conhecer o meu trabalho. Posso dizer-lhe que diariamente me contactam pessoas de todo o lado a colocar questões ou a fazer encomendas por essa via o que é muito bom”.
A escolha dos materiais é uma das preocupações do atelier “Os bebés da Tia Ni” ou não estivéssemos a falar de recém-nascidos, cada vez mais susceptíveis a alergias e problemas de pele.
“A eleição dos materiais que utilizamos tem que ser muito cuidada. Optamos pelo cem por cento algodão, o rei dos enxovais, e depois por outro tipo de materiais e soluções novas que vão aparecendo no mercado. Neste momento tenho uma gama na loja de artigos em malha feitos à mão, onde utilizo fibras portuguesas como é o caso do cem por cento leite e do cem por cento milho. Trata-se de uma geração de fibras novas que é muito agradável ao tacto e que são anti-alérgicas. Procuro ter sempre coisas novas mas nunca descurando a qualidade dos materiais”, garante.
A decoração dos berços, das camas e dos quartos é outra das paixões da Ni. Os berços podem ser adquiridos no atelier e existem para vários gostos.
“Tenho alguns modelos de berços pequeninos que os vendo já completamente prontos e faço também decoração de quartos. Faço a roupa de cama, às almofadas decorativas, os cestos para os produtos, os cabides, as molduras, enfim todo o tipo de artigos que se possam imaginar num quarto de bebé.”
Os bonecos de pano nascem normalmente quando Ni está “muito nervosa”.
“Fazer bonecos é uma coisa que me alivia bastante o stress. Eu faço um ou dois bonecos e a telha passa”.
Trocar o atelier por uma carreira de engenheira têxtil está completamente fora de questão.
“Neste momento não trocava: primeiro porque o sector está em crise e depois porque no meu atelier me sinto completamente realizada, posso criar à vontade e fazer o que me apetece. Por outro lado se enveredasse pela engenharia teria que sair daqui e eu gosto muito de Caminha”.
Enquanto nos vai revelando alguns aspectos da sua profissão a Ni não pára. Está a terminar um enxoval para enviar para a Guarda. O mocho, o boneco que elegeu para o enxoval da Joana Violeta está quase pronto e dá-lhe os últimos retoques. O próximo é para um rapaz. O berço azul já está no atelier para decorar e desta vez a criatura eleita é um ouriço cacheiro que a Ni garante “não vai picar”.