É português, é único, é gin e é tinto… Nasceu em Valença e é o primeiro Gin Tinto do mundo. Feito a partir do que a natureza dá o Tinto, como foi batizado, anda nas bocas do mundo.
O seu criador, João Guterres, não estava à espera de um impacto tão grande à volta do seu Red Gin Premiun que, como revela, até nasceu por acaso. Quando pensou em criar um Gin João Guterres estava longe de imaginar que seria o Tinto. A ideia era criar um Gin completamente diferente dos que já existiam no mercado, incolor sim, como os demais, mas um produto diferenciado, com alma.
Mas a meio do processo tudo se alterou como explica João Guterres.
“A ideia era criar um produto completamente diferente daquilo que já existe. Queríamos um gin com um perfil diferente, incolor como são todos, mas diferente no cheiro e no paladar. A meio do processo e perante os botânicos que estava a utilizar, quase todos daqui de Valença, percebi que podia elaborar um Gin que fosse não só de Valença, mas que podia ser tinto”.
Depois de muitos testes e várias provas, João Guterres não estava ainda satisfeito, sentia que faltava alguma coisa à sua criação. Colecionador de aromas e sabores como diz ser, havia um em particular que há muito repousava na sua memória. “Era um fruto muito valenciano, com origem em Fontoura, o chamado Perico que deriva de uma planta infestante, o Escremoiero, que depois de enxertada dá um fruto que se chama o Perico”.
À espera de outubro que é quando o Perico está pronto para comer, o processo sofreu um pequeno atraso.
“Em finais de outubro princípios de novembro comprei uma quantidade de Pericos para fazer algumas experiências e logo que terminei disse: É isto, está aqui, o consumidor vai-se render a isto”.
O passo seguinte foi comprar mais Pericos, fazer macerações e produzir o Gin em quantidade para ser comercializado.
“O gin ficou pronto para poder ser engarrafado há pouco mais de uma semana. Engarrafamos as primeiras 5 mil garrafas e já vendemos tudo. Ainda agora recebi uma encomenda do Continente para mais 1500 garrafas mas neste momento não tenho esse número, nem de longe nem de perto. Ao todo devo neste momento devo ter umas 300 e estamos a vender em pequenas quantidades para conseguirmos satisfazer alguns pedidos”.
Apesar de acreditar muito no seu produto, João Guterres confessa que não estava à espera de tão grande euforia à volta do Tinto.
“Sinceramente não estava à espera, foi uma surpresa agradável. Estamos a falar de produto é diferenciador, é tinto. Mas a verdade é que quando começamos a engarrafar, um dos meus filhos tirou uma fotografia que colocou no facebook e à tarde já tinha 3 canais de televisão e jornais a quererem dar a notícia do primeiro Gin Tinto do mundo”.
Satisfeito com um interesse dos media, faltava ainda passar a prova mais difícil. A aceitação do público.
“Fiquei contente mas estava um pouco expectante relativamente ao feedback do consumidor, o que é que as pessoas iriam dizer sobre o produto. A emoção estava criada mas sem haver uma prova e uma reação do consumidor, não podíamos cantar vitória”.
A reação do consumidor não podia ter sido melhor e traduziu-se na ruptura de stock. “Vendemos praticamente tudo, das 5 mil que engarrafamos devemos ter umas 300 em stock. O produto esgotou e a reação do público foi muito positiva. Posso dizer-lhe que vieram pessoas de Lisboa a Valença de propósito para comprar o Tinto.”
Na nota de prova realizada por João Guterres, pode ler-se:
“Ao servir o gin-tónico já sentimos o seu aroma!… Quando levamos o copo aos lábios, o nariz sete juventude, frescura e elegância!… É o “GIN TINTO”!… Cor vermelha, limpo e brilhante, que respeita os aromas próprios de um bom Gin. Ao entrar na boca o ataque é amplio, ocupa tudo!… Como o primeiro beijo!… Suave e delicado, firme!… De trago largo que resiste em desaparecer. Deixa um rastro que apaixona, o que torna o “TINTO RED GIN PREMIUM” único!… Viva-o e comparta-o apaixonadamente”.
Foi isto que João Guterres sentiu quando fez a prova depois de lhe ter adicionado tudo aquilo que queria. O processo foi iniciado há um ano e meio e a ideia criar o “Alma”, um Gin bem diferente do “Tinto”.
“A ideia era criar um Gin com pronuncia de fado e alma portuguesa onde a línguas de Camões está bem presente. Eu fui à Índia buscar a Abatonca, fui a Macau buscar Gorgi, fui a Timor buscar o café porque o “Alma” leva uma infusão de café verde e todos estes ingredientes fazem deste gin um gin com alma portuguesa”.
O “Alma” está neste momento a ser trabalhado e deverá estar pronto antes do final do ano.
“Juntar 43 botânicos e mais uma série de ingredientes como por exemplo a goiabada do Brasil, não é fácil. Temos ainda que fazer algumas investigações e macerações para ver como se comporta cada um dos ingredientes e fixarmos as percentagens certas”, explica.
Mas voltemos ao Tinto e aos ingredientes que o tornam num Gin único. Segundo João Guterres são muitos e na sua maioria de origem valenciana. De cesta na mão, passo a passo, esta espécie de “alquimista” e “ervanário” colheu plantas e frutos que utiliza nas suas criações.
“O Tinto leva “Aneto” a erva de Deus, o tempero do “loureiro”, o mentolado da “Nêveda”, o “Salgueiro” considerado como o símbolo da pureza, o milagre do “Sabugueiro”, o benefício das “Ervas de São Roberto” e “Erva Cidreira”, a persistência da “Folha de Eucalipto”, a afirmação do “Alecrim” e “Alfazema”, as propriedades tânicas da “Angélica” apelidada de erva-do-Espírito Santo, o cítrico da “Casca de Laranja” e do “Limão” e, por fim, o encanto das “Amoras Silvestres.
Separadamente, recorri a uma técnica de maceração de todos estes componentes”, explica.
Para além do Gin, João Guterres está neste momento a trabalhar na criação de uma linha de licores que vai lançar e a que deu o nome de “Catares de Portugal”.
“São vários licores: o licor de arroz doce que é muito português e muito minhoto; o licor de café de Angola; o de ervas aromáticas muito baseado na tília e o licor de chocolate com cereja, porque Valença em tempos esteve muito associada ao chocolate, chegou a existir aqui uma fábrica, onde eu trabalhei. Estou só à espera da época da cereja porque quero introduzir também o sabor da cereja desta zona”.
O “Tinto” pode ser servido de diversas formas, com uma fina casca de limão e cardamomo ou lima e alecrim. Para quem não aprecia água tónica o “Tinto” pode ser servido como um digestivo num balão com gelo e uma casca de limão.
Neste momento existem 9 países a querer comprar o novo Gin, uma situação “inédita”, considera João Guterres.
“Nunca nenhuma marca conseguiu em 4 ou 5 dias no mercado 9 países a querem comprar”.
Para além dos projetos em que está a trabalhar, João Guterres está neste momento a fazer macerações para conseguir produzir 10 mil garrafas de “Tinto”.
O novo Gin é 100 por cento Português, e só a garrafa, a imitar os antigos frascos de farmácia e que vem de fora. “Mas só porque não consegui arranjar e Portugal, o resto é tudo produto nacional”.