A ideia surgiu numa praia de Ibiza, corria o ano de 1988. A ilha, cheia de surpresas, praias paradisíacas, lugares charmosos e com uma das noites mais famosas do mundo, não podia ser mais inspiradora. António Rosas, Morais Vieira e Toni Novo, 3 amigos de longa data que em Agosto desse ano decidem rumar até às Baleares para umas férias de verão que acabariam por se tornar reveladoras. De regresso, na bagagem, para além da roupa, vem mais qualquer coisa. Não é pesado pois por enquanto não passa de uma ideia.
Morais Vieira, um dos fundadores do Club Alfândega, a discoteca que há 25 anos veio revolucionar a noite no norte do país, contou ao Jornal C como surgiu este projeto que na altura deu muito que falar.
“O Club Alfândega foi um projeto que nasceu em Ibiza numa conversa de praia entre amigos que depois consubstanciamos quando regressamos de férias. Na altura eu e o António Novo já estávamos ligados à atividade da animação noturna através da exploração da discoteca Luzia Mar em Viana, da discoteca Onda em Afife e de um bar que existiu em Moledo, chamado o “Carinhoso”.
Ibiza acabou por se transformar numa fonte de inspiração para estes 3 amigos que decidiram importar o modelo e avançar com um novo espaço que fosse totalmente inovador e diferente de tudo o que existia. O Club Alfândega não demorou muito a sair da bagagem e abria um ano depois, em Junho de 1989.
“O que nós fizemos foi criar um espaço inovador e uma nova maneira de explorar a noite convidando figuras públicas, gente da televisão e manequins, para estarem à porta, nos bares e a animar a discoteca. Nesse aspeto fomos de facto inovadores”.
O novo formato apresentado pelos 3 amigos depressa saltou para os jornais e revistas da especialidade que na altura consideraram a discoteca Alfândega uma das melhores discotecas de verão do país. Com tanto mediatismo, o Club Alfândega rapidamente se transformou num fenómeno de popularidade e num local de romagem obrigatório para os amantes e frequentadores da noite, e nem as longas filas de espera para entrar demoviam os que a criam conhecer. “Vinha gente de todo o país”.
Morais Vieira recorda uma noite em que foi à porta e o aglomerado de gente para entrar era enorme. ”De repente, lá no meio daquela gente toda, um grupo faz-me sinal para que fosse falar com ele e eu fui ver o que se passava. Um dos indivíduos que estava no grupo disse-me que já era o segundo fim-de-semana que vinha a Caminha tentar conhecer a discoteca e não conseguia. Eu vi que eles queriam tanto conhecer a discoteca que lá lhes facilitei a entrada. E isto não aconteceu só uma vez”, recorda.
Romper com os formatos conservadores foi segundo António Novo uma boa aposta que durou alguns anos.
“Na altura sentimos que era necessário acabar com aquele formato demasiado conservador das discotecas que existiam um pouco por todo o país, e injetar sangue novo na animação noturna”, explica.
Mas afinal o que é que distinguia esta casa das demais?
Desde logo a sua arquitetura, muito mais moderna que nasceu da recuperação de um edifício histórico. A utilização de novos materiais como o aço foi outra das novidades, rompendo assim com os tradicionais tecidos e alcatifas que habitualmente revestiam as paredes das discotecas.
Por outro lado a animação também marcou a diferença.
“A animação a nível de dj’s e de música também rompeu com o conservadorismo, passando do tradicional rock para um estilo mais moderno, com o house music a dominar”, recorda o fundador.
E porquê Caminha e o Centro Histórico?
Morais Vieira explica que a ideia inicial era que a nova discoteca ficasse o mais possível próximo da praia, mas depois de muito procurarem, não conseguiram encontrar o local ideial.
“Como na altura estava na moda a questão da revitalização dos centros históricos que se queiram mais frequentados, decidimos escolher Caminha que já tinha alguma animação noturna, e aquele edifício pareceu-nos perfeito para o que pretendíamos fazer”.
Os anos que se seguem à inauguração são anos de ouro para a discoteca Alfândega. Por lá passaram famosos, vip’s e menos vip’s, gente anónima à procura de divertimento.
Em 1990 a Alfândega é uma referencia a nível nacional e em 1991, junta-se ao projeto Jorge Mendes, o empresário de grandes nomes do futebol nacional e internacional.
Em 1993 novos rostos se juntam ao projeto: António Pita Guerreiro, Sandro Preto e Alexandre Montes abrem o Alfândega Café, no andar superior.
O projeto continua a crescer e em 1977 o trio inicial, Morais Vieira, Toni Novo e Atónio Rosas abrem a discoteca Prosak também em Caminha, no edifício do Hotel Porta do Sol. Um ano depois, em 1998, os dois projetos fundem-se e a Alfândega trabalha em simultâneo com a Prosak.
Mas o projeto não pára de crescer e em 1999 junta-se ao projeto a discoteca Industria Agrícola em Vila Nova de Cerveira. Este triângulo passa a dominar a noite no distrito.
A “casa mãe”, neste caso a Alfândega, poderia ter sido, segundo Morais Vieira, uma grande oportunidade para que Caminha se transformasse numa referência a nível da noite no norte do país.
“Infelizmente isso não aconteceu porque se meteram outras histórias pelo meio e também alguma falta de compreensão por parte das pessoas que não viam com bons olhos este tipo de negócio. Eu seu que estas casas por vezes acarretam outro tipo de problemas, principalmente barulho, mas foi uma pena porque se fizermos bem as contas, Caminha ganhou mais do que o que perdeu com a Alfândega”.
Vinte cinco anos depois e apesar de alguns contratempos Morais Vieira acredita que Caminha pode voltar a dar cartas em termos de animação noturna.
“Caminha passou por uma penumbra total, teve praticamente eclipsada, mas hoje em dia, com algumas pessoas de boa vontade, com dinâmica e ânimo pode voltar a reagir e a criar ascendência sobre outros locais. Acho que está a renascer e a Alfândega tem vindo a desenvolver, em conjunto com os bares, um conjunto de inciativas muito interessantes. O caminho é este e julgo que devem continuar porque estou certo que a curto prazo a árvore vai dar fruto e a note de Caminha pode voltar a aproximar-se dos níveis que já teve no passado”.
Apesar de tudo Morais Vieira alerta para a necessidade de se mudarem algumas mentalidades. “Há de facto alguns velhos do restelo que têm que mudar de opinião e começar a ver as coisas com outra mentalidade”, desafia.
Club Alfândega há 25 anos a animar as noites do norte do país
Foi inaugurada há 25 anos e chegou a ser uma das maiores referências da noite no norte de Portugal. Quando abriu, em 1989, o Club Alfândega foi notícia de norte a sul do país e o verão desse ano foi marcante para Caminha. Nos anos que se seguiram a noite caminhense passou a ser uma referência a nível nacional e assim permaneceu durante alguns anos.
25 anos depois de ter aberto portas, o Club Alfândega festejou bodas de prata com uma festa que reuniu inúmeros convidados, alguns deles diretamente ligados à fundação desta discoteca que, com altos e baixos, tem sabido sobreviver mantendo-se ainda hoje atual como explica o seu atual proprietário, Francisco Rocha, que há uns anos atrás chegou a trabalhar naquela discoteca.
À frente do Club Alfândega há apenas um ano, o atual gerente ainda se lembra bem do dia da inauguração. Na altura era um estudante de liceu que gostava de sair à noite e divertir-me com os amigos.
“Tive privilégio de ser um dos convidados para a inauguração da discoteca e tenho essa memória ainda bem presente”, recorda.
Atual, apesar dos seus 25 anos, a Alfândega foi e continua a ser “um marco” na noite.
“Estamos a falar de uma casa com 25 anos que ainda está super atual, com boa imagem e super na moda”, explica Francisco Rocha.
Mas se em 25 anos o Club Alfândega não mudou muito, o mesmo já não se pode dizer em relação à noite que, segundo este empresário, mudou radicalmente.
“O que eu noto é que existe um déficit muito grande de valores na sociedade em comparação com o que se passava há 25 anos atrás. São formas completamente diferentes de estar na vida, de estar nos locais e de os respeitarem”.
Quando há um ano Francisco Rocha decidiu tomar as rédeas do Club Alfândega não imaginava que iria herdar uma casa com a imagem “tão degradada”. Foi uma surpresa desagradável mas que não o fez desistir e, depois de trabalho intenso de trabalho, o Club Alfândega está de novo “nos carris” ou seja, no caminho certo para voltar a ser a casa que era “com o prestígio que sempre teve”.
“Para ter uma ideia, dentro de uma semana vai haver uma festa no para a qual foram convidadas a estar presentes e animar essa noite, as 4 discotecas mais emblemáticas do norte do país. Nós vamos lá estar e isso é muito gratificante para nós e prova que estamos a conseguir por novamente o nome da Alfândega no sítio onde tem que estar”.
Trazer bons dj’s à Alfândega tem sido uma das apostas desta gerência que explica que também aqui, nos últimos anos, as coisas mudaram radicalmente.
“Nos últimos 25 anos verificou-se uma mudança muito grande nesse sentido. Os nomes dos artistas que se colocam dentro de uma cabine, a forma como eles se apresentam e interagem com o público é completamente diferente. Já não estamos a falar daquele dj que estava num cubículo, no alto de uma discoteca, e sua função era por discos a tocar. Hoje em dia um dj tem que fazer muito mais do que isso, tem que puxar pela animação das pessoas, tem que falar com o público e interagir de forma a criar animação. Digamos que há todo um espetáculo e uma encenação à volta do dj”, explica.
Trabalhar a noite e na noite não é uma tarefa fácil e agradar a todos os públicos é por vezes complicado, confessa, Francisco Rocha.
“É muito complicado porque temos que levar em linha de conta que as pessoas quando vão a uma discoteca, por norma, é para ouvir música. Com uma casa com 200 ou 300 pessoas não é fácil conseguir agradar a toda a gente. Criar uma imagem musical numa casa é portanto uma das tarefas mais complicadas e por isso é muito importante apostar em bons dj’s que se aproximem, o mais possível, do gosto das pessoas”.
A juntar à boa música, há ainda que apostar num serviço de qualidade para agradar aos clientes.
Ao fim de 25 anos e apesar de alguns momentos menos bons Francisco Rocha não tem dúvidas que o Club Alfândega continua a ser uma referencia a norte. A casa está sempre cheia aos fins-de-semana e o inverno, que é a altura mais complicada porque os maiores consumidores deste tipo de casa estão fora, a estudar” conseguiu aguentar e fidelizar clientela.
“De verão é fácil mas no inverno é mais complicado porque a maioria das pessoas que frequentam este tipo de casas, nomeadamente estudantes universitários, está fora, nos grandes centros e vem esporadicamente. Ainda assim podemos dizer que neste momento estamos a trabalhar com casa cheia”.
O futuro da Alfândega passa, segundo Francisco Rocha, por melhorar cada vez mais o serviço aos clientes porque , como defende, “já não há muito mais para inventar”. “Como eu dizia no inicio, a discoteca apesar de ter 25 anos continua atual na sua arquitetura e, a não ser que se fizessem grandes obras de fundo que neste momento não são compatíveis, não há muito mais a fazer do que melhorar o serviço e apostar na satisfação dos clientes”, sublinha.
Relativamente à noite de Caminha Francisco defende a necessidade de um “upgrade muito grande” principalmente no que diz respeito à mentalidade dos empresários.
“A noite de Caminha já foi uma referência muito grande e tem todas as possibilidades de voltar a ser. Nós temos coisas em Caminha que em muito poucos locais existem. Temos uma rua lindíssima, um largo com esplanadas que segura as pessoas que mais tarde poderão usufruir da zonas dos bares e da própria discoteca sem terem que pegar no carro para se deslocarem, o que é muito importante. Aquilo que na minha opinião tem que acontecer na noite de Caminha é uma mudança de mentalidades dos empresários. As pessoas têm que perceber, de uma vez por todas, que o tempo em que se abria uma porta e os clientes entravam para consumir já acabou. As coisas hoje em dia não funcionam assim, há que fazer um trabalho muito grande de fundo e nós temos bons e mais exemplos na rua. Se toda a gente olhar para os bons exemplos e os tentar copiar, não tenho dúvidas que em dois anos nós poderemos voltar a ter a Rua Direita em Caminha como ela era. Para ter uma ideia, ainda há casas que acham que por terem a música mais alta do que o vizinho isso lhes vai trazer mais clientes. Enquanto houver gente com este tipo de mentalidade no negócio não vamos a lado nenhum. As pessoas têm que se convencer que há regras para cumprir”.
Para este empresário não basta chegar a sexta ou ao sábado e abrir a porta, existe todo um trabalho de casa que é preciso desenvolver.
“Quando sai o último cliente no sábado a noite e fechamos a seguir a porta, já temos que começar a projetar o próximo fim-de-semana. E só quando as pessoas perceberem que tem que ser assim é que alguma coisa pode melhorar”.
Com o Verão à porta e depois da grande festa de aniversário, muitas outras surpresas estão a ser preparadas para que este seja um verão inesquecível com muita diversão. “Um verão que vai dar que falar”, garante o gerente da Alfândega.
Reconhecendo o muito trabalho que há pela frente, num mercado em constante evolução, Francisco Rocha promete dar o seu melhor para levar o Club Alfândega ao lugar que merece, “ao top”.