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Ponte Eiffel de Viana do Castelo (1878-2023): 145 anos de mãos dadas com o progresso

No próximo dia 30 de junho a Ponte Eiffel de Viana do Castelo comemora os seus 145 anos de mãos dadas com o progresso. Ao fim de praticamente um século e meio, essa importante superestrutura continua a dar corpo e continuidade à estrada nacional n.º 13, e à única linha ferroviária do Noroeste português – a Linha do Minho. Desenhada pela Casa Eiffel & Cia, e em particular, pela mão do mago do ferro – Gustave Eiffel – a velha Ponte não precisa de adjetivos superlativos para a caracterizar, uma vez que ela própria se afigura como altar da Arte e da engenharia, fazendo transbordar todos os sentidos da natureza humana. Em sua homenagem podemos até devanear nas palavras, e na modéstia das mesmas, poetizar a efeméride.

O Lima, que de Espanha se espraia até a foz,
baixa-se ante a Ponte Eiffel, dando-lhe nós.
Passa suave, por vezes nervoso, enrodilhado,
entre seus pilares, vai de mansinho, pelo lado.
Ponte Velha, lugar de passagem, encruzilhada,
por baixo leva os comboios, por cima a estrada.
145 anos ao serviço, é uma efeméride taxativa,
a Casa Eiffel fabricava, fabricava para a vida!

Não obstante, devemos também recordar que a longevidade da Ponte Eiffel de Viana do Castelo se deve a um conjunto de intervenções de que foi alvo. Ao longo dos anos realizaram-se muitos melhoramentos, como foi o caso da consolidação das fundações, o alargamento do tabuleiro rodoviário, entre muitas outras, capacitando-a, sobretudo, para os novos paradigmas de carga e de velocidade da rodovia e da ferrovia. As composições ferroviárias da atualidade não têm paralelo com as que existiam no último quartel de Oitocentos – além disso, na Linha do Minho tem-se verificado um incremento significativo no transporte de mercadorias, sobretudo madeiras, cujas composições comportam enormes tonelagens. Em abril de 2021 foi dado por concluído o processo de eletrificação da Linha do Minho até Valença – recentemente, a Linha do Minho é alvo de um investimento de 15,6 milhões de euros, visando o reforço da sua segurança, prevendo-se a sua conclusão no último trimestre do ano corrente.

Ora, desde o arranque da sua construção, em 1872, muitas coisas mudaram na Linha do Minho, sobretudo associadas à necessidade de substituição ou reforço de infraestruturas. Em toda a Linha ainda persistem muitas das primitivas Pontes, como a de Viana do Castelo, ou a travessia ferroviária sobre o rio Coura, em Caminha (1879), fabricada pela empresa francesa – Fives-Lille – (entretanto reforçada) ou ainda a Ponte Internacional de Valença do Minho – Tui (1886), desenhada pelo engenheiro espanhol – Pelayo Mancebo y Ágreda – financiada por ambos os países ibéricos, também ela rodoferroviária como a de Viana do Castelo. Todavia, no tabuleiro superior contempla a ferrovia e no inferior a rodovia, precisamente o inverso da de Viana do Castelo.

Há três Pontes primitivas da Linha do Minho fabricadas pela Casa Eiffel & Cia com histórias distintas, mas que nem por isso deixam de ser pesarosas. É o caso da travessia ferroviária sobre o rio Cávado, em Barcelos, sendo substituída em 1989 – a primitiva Ponte foi parar ao ferro-velho – após a empresa Sorefame a ter desmontado. Mais a norte da Linha do Minho, entre as estremas dos concelhos de Barcelos e Viana do Castelo, existia outra Ponte da Casa Eiffel & Cia, que realizava a travessia ferroviária sobre o rio Neiva, tendo seguido pela mesma altura e do mesmo modo os destinos da Ponte do rio Cávado. A terceira e última, também ela mais a norte da Linha do Minho, localizava-se na freguesia de Âncora, em Caminha, realizando a travessia ferroviária sobre o rio Âncora (1878), tendo apenas um destino parcamente diferente; foi substituída (1989); ficou abandonada nas margens do rio Âncora; foi doada pela CP – Comboios de Portugal à autarquia da Póvoa de Lanhoso (1993), para realizar uma travessia no rio Ave e, por inacreditável que pareça, encontra-se há décadas ostracizada e a definhar no estaleiro de uma empresa do concelho – a DAEL. Na última Assembleia da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, em que interpelamos o presidente no sentido de devolver a Ponte ao seu local primitivo – a Âncora – depois de muitos esforços do seu anterior autarca – António Brás – para reaver a infraestrutura, e com o que resta construir um Centro Interpretativo junto ao seu local primitivo, o que nos foi respondido foi que “a Ponte está noutra fase da sua história”. Na verdade, cabe sobretudo a quem tem o poder de decisão, fazer perpetuar no tempo a nossa memória coletiva – urge cada vez mais a valorização do nosso Património Industrial Ferroviário.

Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia
Licenciado em História, mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.

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