“Vivimos en la dictadura del funcionario,
que no defiende la idea sino la nómina;
lo que siempre da mayores arrestos.”
Camilo José Cela
Os verdadeiros democratas conhecem-se quando governam em maioria porque em minoria, todos têm de o ser. Os outros, na cadeira do poder, mostram a sua índole, criam uma realidade virtual na comunicação e nas redes sociais, e escondem uma atuação real, de prepotência.
Em Portugal como em Espanha, os socialistas que nos governam desde Lisboa e Madrid, determinam a seu bel prazer – influenciados ou não pelos socialistas que dominam as estruturas europeias – onde se pode fumar cannabis mas não tabaco, ou se pode produzir energia mas não pescar, onde se pode entrar mas não falar e onde, as conversas ficam secretas para só eles poderem transmitir o que lhes interessa do que lá se disse.
Vem isto a propósito de 2 eventos aos quais assisti no dia 18 de Maio, um em Caminha e outro em A Guarda. Entre a tirania autocrática e a democracia cidadã.
Em Caminha houve uma sessão de esclarecimento com a DGRM sobre a questão das Eólicas Offshore. Começou logo o senhor presidente Rui Lages comunicando aos Jornalistas que teriam de sair da sala depois da apresentação inicial do senhor DGRM, que por acaso só teve um slide, aliás já publicado neste jornal há mais dum mês.
Caberá aos Jornalistas queixarem-se à ERC desta prepotência. Não sendo uma reunião convocada formal e nominalmente, estando presentes variados cidadãos anónimos, vereadores e deputados municipais, com base em quê o senhor presidente expulsou da sala os jornalistas? E porque aceitaram estes sair? São cidadãos livres antes de serem jornalistas, mas a coação a esta classe pelo poder instalado, é cada vez menos disfarçada.
Vimos das comunicações formais da Câmara a omissão de, pelo menos, 3 pontos críticos levantados pelos Pescadores:
Não há nenhum estudo de acompanhamento ambiental à instalação piloto das 3 torres a funcionar em frente a Viana há já muitos anos;
A área de concessão proposta ocupa 80% dos pesqueiros usados por pescadores desportivos de Caminha e Viana;
O ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e Florestas) tem um estudo de proteção de toda a área da foz do Coura, bacia e foz do Minho, que não está considerado nos projetos de concessão, nem no espanhol nem no português;
Ora, a omissão, depois da censura aos jornalistas, configura uma manipulação da informação que não se coaduna com os valores de Abril, tanto mais de estranhar quando, ainda há 3 semanas, andavam todos de cravo ao peito, a cantar liberdade.
Felizmente, não somos jornalistas e como cidadãos o senhor presidente Rui Lages ainda não nos pode censurar. E não pode impedir tão pouco que façamos chegar as notícias e os alertas além duma Direção Geral que explica ao fim de tantos anos, não haver um estudo ambiental nas 3 torres eólicas piloto, com a falta de fundos do IPMA.
Então porque não colocaram no contrato com a empresa privada a quem concederam o direito de fazer o piloto, a obrigação desse estudo de acompanhamento do impacto ambiental?
E, como ainda não nos censuram, o que fizemos do lado de cá da foz, no hotel El Molino, no fim dum evento do PP Galego, foi apresentar ao Presidente da Junta da Galiza, Alfonso Rueda, o Jornal C – O Caminhense e o artigo de opinião aqui publicado há mais de um mês:
https://jornalc.pt/mar-de-caminha-reserva-da-biodiversidade-ou-deserto-piscatorio/
Sem seguranças nem Censura, de Portas Abertas e à frente de todos, pudemos trocar impressões e ideias com Alfonso Rueda e deixar-lhe a preocupação que nos norteia:
Com Tanto Mar, porquê colocar as Eólicas Offshore tão próximo da Costa e em Zona de Pesqueiros Férteis?
Com Tanto Mar, porquê colocar Eólicas Offshore a Encurralar os trajetos de espécies migratórias e a Foz do Rio Minho, uma das duas comuns com Espanha (a outra é naturalmente, a do Guadiana, Vila Real de Santo António-Aiamonte)?
Com Tanto Mar, não será lógico, em termos económicos, colocar as Eólicas a produzir energia o mais próximo possível dos grandes consumidores (cidades e indústrias), reduzindo os impactos e custos das redes elétricas de Alta Tensão?
Porque chegam de Madrid e Lisboa estes ditames – apresentados por burocratas, que os políticos têm medo – quando em Espanha há Autonomias e em Portugal CCDR’s, CIM’s, Autarquias e Autoridades Marítimas Territoriais?
Ficamos com uma certeza: As pescas e toda a cadeia de valor a elas associada, não podem ser postas em causa pela expansão das energias Eólicas no Mar, como os painéis solares não podem desertificar zonas agrícolas. Cada Coisa tem o Seu Sítio.
E outra certeza: Este é um assunto estratégico e político – usar os burocratas para o justificar é batota política – cada um tem de mostrar as suas cartas.
Pena que, pelo que vimos ontem em Caminha, o Impacto e Dano nas Pescas, pareçam ser já um facto consumado, uma vez que só essa assunção justifica que se fale abertamente em indemnizações, compensações e afins. Vamos deixar Privatizar o Mar, como a Ínsua?
Ainda tenho esperança de que, ao contrário dos últimos 40 anos, os Pescadores não se deixem, mais uma vez, enredar nas suas próprias redes.
Tanto Mar, Tanto Mar, Tanto por Navegar.
Carlos Novais de Araújo
Camposancos, 19 de Maio de 2023