Antes de percorrermos o caminho do arquiteto José Porto, interessa primeiro compreender as raízes e influências do seu modernismo, que acabam por ser a base do modernismo tal como hoje o conhecemos.
Enquadraremos o aspeto histórico e o momento profissional do início da sua carreira, sabendo-se que estudou Artes Decorativas em Genebra (1907 a 1921) e trabalhou em Paris (1921 a 1934) como Arquiteto Decorador.
Portugal era à época, um país retrógrado face ao momento vivido na generalidade dos países desenvolvidos, sendo notório com a chegada tardia dos reflexos da revolução industrial, que estaria há diversos anos em ebulição em países como a Inglaterra ou França.
É com a revolução industrial que surgem as raízes materiais do que viria a ser o modernismo na arquitetura, surgindo o aço e o vidro como elementos construtivos, sendo que anteriormente as construções eram feitas, principalmente, em pedra e madeira, materiais naturais transformados e com processos construtivos bastante demorados.
Com a produção em série dos novos materiais, desenvolvem-se as novas engenharias e processos construtivos que permitiram uma diversidade de técnicas e de novos edifícios, como o exemplo da Torre Eiffel construída em aço, ou aliando o vidro ao método construtivo do aço, o Palácio de Cristal em Londres.
Mas o grande momento de viragem técnica encontra-se na adição de areia, cascalho, cimento com o aço, surgindo o betão armado. Com este material, o arquiteto suíço Le Corbusier, entre os anos 1914 e 1917, concebeu o método construtivo porticado composto por sapatas, pilares, vigas e lajes, que é hoje usado na generalidade das nossas construções, batizando-o de sistema Dominó.
Numa primeira fase pensou-o como método construtivo para resolver de forma rápida a falta de habitações no pós-guerra, mas acaba por incorporá-lo nos seus projetos, alguns anos após se mudar definitivamente para a cidade de Paris. O sistema é aplicado nas suas obras, desde o início dos anos 20, sendo talvez a mais famosa a Villa Savoye, nos arredores da cidade, cuja construção iniciou em 1928. A liberdade estrutural deste novo sistema construtivo passa a permitir os pilares como elementos aparentes, as coberturas planas ou os terraços utilizáveis.
José Porto usa justamente, no ano de 1934, este sistema e estas suas características na Casa Ananias Torres em Caminha, demonstrando a sua vanguarda.
Com este método construtivo surgem também linguagens arquitetónicas díspares, principalmente no modernismo funcionalista. Por um lado, o modernismo depurado sem qualquer elemento decorativo ou identitário da região, por outro o modernismo organicista, que defende a identidade na habitação, seja do local ou de quem a habita. Esta é a vertente arquitetónica que José Porto acaba por empregar no modernismo dos seus projetos.
Mas como José Porto se tornou arquiteto? Consta que numa das suas visitas de férias a Vilar de Mouros, enquanto ainda estudava em Genebra, teria chegado a conviver com o seu conterrâneo Miguel Ventura Terra, natural de Seixas. Já à data um arquiteto conceituado, com obras de grande importância e galardoado com três prémios Valmor, para além da sua feição política, como vereador da Câmara Municipal de Lisboa, eleito em 1908. Poderá, eventualmente, esse convívio ter promovido uma troca de impressões sobre arquitetura com o jovem artista pintor José Porto, nesse momento com 34 anos.
A proximidade de Vilar de Mouros a algumas obras de Ventura Terra, poderão ter despertado curiosidade de José Porto e, talvez, promovido a sua visita. Podem ser mencionados projetos como a própria residência de Ventura Terra em Caminha, a Igreja de Santa Luzia em Viana do Castelo, o Palácio da Brejoeira em Monção, o Teatro Clube de Esposende ou o Hospital da mesma localidade. Poderá a eventualidade do contágio de Miguel Ventura Terra ter influenciado José Porto a se profissionalizar como arquiteto, uma vez que teria demonstrado capacidades para tal desde o seu percurso de estudante. Estas capacidades comprovam-se pelos desenhos encontrados nas sebentas de estudo, onde José Porto esboça ensaios para a ampliação da casa dos seus pais, no Lugar da Fonte do Castanho em Vilar de Mouros. Ampliação essa que acabaria por nunca sair do papel.
Outro nome que pode também ter influenciado a mudança de carreira profissional de José Porto, é o arquiteto Miguel Nogueira Júnior, igualmente nascido no ano de 1883 na localidade de Seixas. Arquiteto discípulo de Ventura Terra, que cedo segue rumo a Lisboa onde se forma na Sociedade Nacional de Belas Artes e estagia em Paris. Para além de diversas menções, chega a ser laureado com prémios Valmor, regressando ao Minho no ano de 1925, onde passa a dedicar-se ao ensino na cidade de Viana do Castelo, acabando por ser responsável pela conclusão da Igreja de Santa Luzia, projeto do seu amigo e mestre Ventura Terra que, devido à sua morte em 1919, não lhe foi possível concluir.
Aceitando-se a hipótese da convivência de José Porto com Miguel Ventura Terra, pode também julgar-se pertinente Miguel Nogueira Júnior fazer parte desses encontros, como conterrâneo da mesma idade de José Porto, discípulo e amigo de Ventura Terra e produtor de trabalho na localidade onde os três são naturais. Recuando no tempo, entende-se que nessa época poucos seriam os que partilhavam de tais interesses, e os poucos que havia deveriam ser ávidos de um bom convívio para troca de impressões e experiências.
José Porto, após concluir os seus estudos de Artes Decorativas em Genebra, cidade onde iniciou a sua vida profissional como Artista Pintor, muda-se, no ano de 1921, para a cidade de Paris e passa a assinar profissionalmente como Arquiteto Decorador. Os 12 anos da sua estadia nesta cidade, coincidem com a época dos loucos anos 20, que lhe permitiram o assimilar de vivências e conhecimentos de um conjunto de novidades, que não teria acesso em Portugal. Era uma cidade onde tudo estava a acontecer e tudo eram novidades ao nível das artes, principalmente na arquitetura, com os novos métodos construtivos e as novas linguagens arquitetónicas, que acaba por incorporar nos seus projetos.
Em 1934 regressa a Portugal, passando a residir na cidade do Porto e onde desempenha funções de arquiteto no atelier Engenheiros Reunidos, um dos mais importantes da cidade, também com escritórios em Lisboa e Figueira de Foz.
Simultaneamente à Casa Ananias Torres em Caminha, José Porto projeta, no ano de 1934, uma das casas mais carismáticas da época nas novas zonas de expansão do Porto, a Casa Ângelo Ribeiro na Rua de Nevala. Uma habitação de volumes mais marcados, recorrendo à importação parisiense do desenho de elementos curvos que compõem as suas fachadas.
Estes são os seus primeiros projetos, vincando traços de uma modernidade que em Portugal ainda não se encontrava em curso, e onde introduz elementos modernizados que lhes confere identidade, como a lareira, os bancos de pedra, os corrimões ou os vitrais.
Entende-se que a influência de José Porto passa por um nítido modernismo parisiense, podendo ter sido mesmo um dos primeiros, ou talvez o primeiro, dos modernistas funcionalistas em Portugal, alinhado a uma linguagem caracterizada pelo meio.
No próximo artigo abordaremos o desenvolvimento da sua obra até ao encerrar dos anos 30, seja a nível residencial ou urbanístico, tentando revelar a realidade do seu contributo à história da arquitetura em Portugal.