Na última sessão ordinária da Assembleia Municipal de Caminha, realizada no passado dia 28 de fevereiro, o deputado Ricardo Cunha da Coligação O Concelho em Primeiro (OCP) comparou o concelho de Caminha ao Ferryboat Santa Rita de Cássia, descrevendo-o como “um concelho parado, encalhado, ao abandono e a apodrecer”. Números alarmantes de desemprego, nenhuma preocupação com a mobilidade, mais dinheiro em assessorias e fotógrafos do que para algumas freguesias ou o abandono do mercado municipal de Vila Praia de Âncora, foram algumas das críticas deixadas pelo deputado de direita. Rui Lages, presidente da Câmara Municipal de Caminha, disse que o deputado está “a leste”, pois sob sua tutela, o executivo conseguiu baixar a dívida e fazer investimento.
O deputado Ricardo Cunha não tem dúvidas de que há uma falta de planeamento e estratégia para o desenvolvimento local por parte deste executivo, e começou por falar no desemprego, que tem vindo a aumentar a partir de 2023, após Rui Lages se tornar presidente da Câmara. “Caminha perde todos os dias competitividade, capacidade de fixação de população ativa e força laboral”, disse.
“Nas redes sociais, a Câmara publica aquilo que lhe convém. Porque será?”, perguntou Ricardo Cunha. Referindo-se ainda ao negócio do CET (Centro de Exposições Transfronteiriço) o deputado da OCP voltou a questionar a legitimidade de Rui Lages e da vereadora Liliana Ribeiro, visados pelo Tribunal de Contas (TdC) nesse “negócio”.
Para Ricardo Cunha, documentos estratégicos como o Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil e o Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios já deviam ter ido à Assembleia Municipal e deveriam ser a prioridade para a Câmara, não os anúncios “mirabolantes” de hospitais privados americanos e hotéis na Ínsua. O deputado espera que, como este é ano de eleições, estes saiam da gaveta até ao final do mandato.
Também a questão de uma nova assessoria de imprensa e mais um fotógrafo incomodaram o deputado da OCP, que comparou a verba que vai ser gasta nesses serviços, cerca de 40 mil euros, com o que recebe, por exemplo, a freguesia de Vile (12 mil euros).
“A revista municipal de Natal foi um verdadeiro culto de personalidade para Rui Lages, acusou Ricardo Cunha, “onde o presidente aparece em mais de 64% das imagens”, disse. Também a fraca programação deste último natal em Caminha esteve na mira do deputado da direita, que lamentou o ataque feito nas redes sociais ao Jornal C – O Caminhense pelo presidente da Câmara.
Ainda sobre comunicação social, Ricardo Cunha lembrou que a Câmara paga publicidade e informação municipal aos órgãos de fora do concelho e ignora o maior órgão local, que paga os seus impostos em Caminha e cria postos de trabalho.
Em relação a Vila Praia de Âncora, Ricardo Cunha salientou o estado degradante em que se encontra o Mercado Municipal e lamentou a recente promessa de “grandes obras”, mais uma vez, referiu, “em ano de eleições”. Lembrou ainda o projeto para o Dólmen da Barrosa, ainda na gaveta, e a requalificação do Monte do Calvário, cujo projeto foi o vencedor do Orçamento Participativo e ainda não avançou.
“Fazer e acontecer será o que mais vamos ouvir nos próximos meses, (…) o essencial é manter o lugar na cadeira do poder”, disse Ricardo Cunha.
Na freguesia de Seixas, o deputado da OCP salientou a passagem de nível que continua encerrada apesar de já ter novamente os equipamentos necessários para poder funcionar e lamentou o aterro a céu aberto na frente ribeirinha.
No que toca à mobilidade no concelho de Caminha, “é um desastre”, apesar de a Câmara ter gasto cerca de 20 mil euros num estudo que “ficou na gaveta”, acusou o deputado Ricardo Cunha.
O deputado eleito pela Coligação O Concelho em Primeiro considera que a gestão socialista dos últimos 12 anos deixou Caminha num estado lastimável, e que será difícil para a câmara, com promessas, assessorias e comunicação, apagar essa realidade da memória dos munícipes. “É hora de mudar o concelho de Caminha”, rematou.
Sobre o desemprego, Miguel Gonçalves, presidente da União de Freguesias de Caminha e Vilarelho, questionou o deputado Ricardo Cunha se este lhe poderia dizer uma região de Portugal onde o desemprego não tivesse aumentado.
Em resposta, Ricardo Cunha disse que a questão do presidente da junta de Caminha e Vilarelho era apenas uma cortina de fumo, pois para o deputado da OCP o que importa é o bem estar da nossa população e não dos outros municípios.
Na sua primeira intervenção da noite, Rui Lages, presidente da Câmara Municipal de Caminha, acusou o deputado Ricardo Cunha de estar “a leste” quando afirma que o concelho está parado ou encalhado. O autarca lembrou que sob a sua liderança, este executivo reduziu a sua dívida global em cerca de 10 milhões de euros.
O autarca salientou ainda o investimento que o seu executivo fez nas freguesias, inclusive nas da OCP, e que esse investimento vai continuar este ano. Rui Lages disse não se importar que digam que são obras eleitoralistas, pois “tudo o que se fizer este ano é eleitoralista”, apontou.
Sobre o TdC, Rui Lages garantiu que nunca publicou nenhum relatório no site do município. Lembrou ainda mais uma queixa da OCP, sobre o pagamento da Luságua, que foi arquivada.
Em relação à revista de Natal municipal, o presidente voltou a referir (já o tinha feito em reunião de câmara) que a revista custou zero euros à câmara.
Quanto à assessoria de imprensa e o fotógrafo externo, Rui Lages enumerou quantos assessores de imagem fazem parte dos diferentes ministérios do governo, 65 pessoas no total. “E uma assessoria de imprensa em Caminha, não podemos ter?”, perguntou o edil.
Por último, Rui Lages lembrou que o Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil já foi aprovado pela Comissão Municipal, foi remetido para a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e aguarda o parecer. “Quando rececionarmos esse parecer, virá a este órgão deliberativo”, concluiu.
Excertos da última assembleia municipal de Caminha, realizada no passado dia 28 de Fevereiro no Teatro Valadares.