Nasceu pequenina, há 25 anos, mas hoje é considerada uma das instituições com maior prestígio no que toca ao ensino da música no Alto Minho. Referimo-nos à Academia de Música Fernandes Fão, (AMFF) com sede em Vila Praia de Âncora e com vários polos distribuídos pelo Alto Minho. A pequena Academia de Música, que iniciou a sua atividade com 40 alunos, conta hoje com mais de 800 distribuídos pelos diversos pólos, nomeadamente Caminha; Ponte de Lima; Valença, Vila Nova de Cerveira e Melgaço.
Mas a AMFF é muito mais do que uma escola que ensina música a quem quer aprender. Trata-se de uma instituição empreendedora, com uma grande dinâmica, que abarca uma série de projetos que vão muito para além do ensino da música. Eugénia Moura, presidente da Direção da AMFF, dá conta das muitas iniciativas a que esta instituição está ligada, nomeadamente dois festivais, um no concelho de Caminha “O Festival da Primavera” e outro em Ponte de Lima intitulado “Os Percursos da Música”.
Na forja está já um terceiro festival de música que irá nascer em Vila Nova de Cerveira, como conta ao Jornal C, Eugénia Moura, presidente da direção da AMFF.
“Neste momento já estamos a trabalhar num terceiro festival, porque Cerveira está realmente muito interessada em desenvolver um Festival de Música, algo à semelhança da Bienal de Arte, que seja um evento que marque o concelho”, avança.
Para além da vertente ensino, uma das maiores preocupações da AMFF, a Academia desenvolve também um papel muito importante na dinamização cultural dos meios onde está inserida e até de outros concelho onde não tem presença física.
“Temos realmente um grande âmbito de intervenção cultural no sentido, primeiro, de fazer chegar às pessoas uma animação de música erudita e sobre tudo várias formas de arte ligadas à música”. O gosto por uma abordagem multifacetada das várias formas artísticas está bem patente na atividade da AMFF, que procura também com as muitas atividades que vai desenvolvendo, “formar públicos”.
“As pessoas estão pouco habituadas a ir a espetáculos e através dos nossos alunos conseguimos chegar aos encarregados de educação. A ideia é que, através dos concertos, consigamos alargar esse público que gostaríamos de ver mais nos eventos que produzimos”.

Com muitos projetos e ideias que gostariam de pôr em prática, Eugénia Moura reconhece que este está a ser um ano particularmente difícil para a instituição.
“Os cortes a nível nacional foram muitos e por isso mesmo o corpo docente da Academia também sofreu alguma redução. Os próprios professores que ficaram viram os seus horários bastante reduzidos e por consequência o seu salário. Por tudo isto eu confesso que neste momento é particularmente duro pedir grandes esforços aos professores”.

Apesar dos tempos conturbados e de uma espécie de “tormenta” pela qual a instituição está a passar neste momento, Eugénia Moura garante que falta de empenho é coisa que não existe e os projetos vão naturalmente aparecer, alguns até bastante interessantes, como é o caso de um que vai ter lugar em Julho e que vai girar à volta do cinema mudo.
“A ideia deste projeto é fazer o acompanhamento musical de cinema mudo. Neste momento estamos a trabalhar com a cinemateca de Caminha que irá fazer a projeção, e nós fazemos o acompanhamento com música”.
Outro projeto a desenvolver este ano será a atuação dos alunos da Academia no Centro Cultural de Belém (CCB) e na Casa da Música no Porto. “Estamos a falar de projetos muito importantes para os nossos alunos porque tocar no CCB ou na Casa da Música é realmente muito importante e altamente prestigiante para eles”.
Parados é coisa que os alunos e professores da AMFF não vão estar com toda a certeza e, apesar dos contratempos, a programação da Academia promete dar muito que falar.

11º Concurso Ibérico de Piano arranca amanhã em Vila Praia de Âncora
Integrado no Festival da Primavera, iniciativa promovida anualmente pela AMFF, arranca amanhã, no Centro Cultural de Vila Praia de Âncora, o 11º Concurso Ibérico de Piano do Alto Minho (CIPAM), uma iniciativa que vai reunir naquela vila, grandes talentos musicais oriundos de diversas localidades do país e do estrangeiro. O júrí, composto por músicos de renome nacional e internacional, irá avaliar os candidatos participantes nesta 11ª edição que vai decorrer de 5 a 8 de Abril.
O CIPAM, realizado anualmente pela AMFF, conta já com a participação de centenas de crianças e jovens de Portugal, Espanha e Itália, e assume-se como uma iniciativa cultural dinamizadora, promovendo músicos e compositores portugueses e estrangeiros contemporâneos.
10ª Festival da Primavera com inúmeras propostas até 21 de Junho
O Concurso vai decorrer em paralelo com o Festival da Primavera, que arrancou no passado dia 21 de Março, e que este ano se apresenta num formato diferente, como avançou ao Jornal C, Eugénia Moura.
“O Festival está neste momento a decorrer e este ano digamos que ele está um pouco diferente em relação às edições anteriores. De resto era uma ideia que já há muito queríamos pôr em prática e então este ano decidimos estender o Festival a toda a Primavera. Iniciou no dia 21 de Março e vai estender-se até 21 de Junho”.
O Festival da Primavera arrancou no Teatro Valadares com um espetáculo de marionetes acompanhado com música. Segundo a presidente da direção da AMFF, tratou-se de um espetáculo de grande qualidade.
“A 10ª edição arrancou com um espetáculo magnifico de marionetes intitulado “As minhas MAIS… marionetas (Puppets Of My Life)” cujo responsável é o Manuel Dias de Évora. Para ter uma ideia, estamos a falar de um espetáculo que foi premiado no maior festival do mundo de marionetes que teve lugar na Indonésia, Jacarta. Isto é muito significativo se pensarmos que é no Oriente que está a grande riqueza das marionetes. Foi um espetáculo que aconteceu no Teatro Valadares, uma forma de também descentralizarmos o Festival”, explica.
Para Abril estão programados diversos espetáculos, os primeiros associados ao CIPAM, com candidatos de todo o país de várias universidades e conservatórios de Lisboa e do Porto. “Isto para nós é um indicador muito importante porque demonstra que o CIPAM tem o seu valor. A verdade é que quando os professores consideram que um concurso não tem interesse, não mandam os seus alunos”. O júri é composto por diversos elementos internacionais, sendo que a representação portuguesa vai estar a cargo da professora Eugénia Moura.
No dia da abertura vai realizar-se um concerto a quatro mãos que será, segundo Eugénia Moura, um grande momento cultural.
“No dia 5, dia de abertura do concurso, terá lugar, ao fim da tarde, um concerto a quatro mãos com o pianista Rodolfo Rubino e a sua mulher Tatiana Malguinan. Estamos a falar de dois grandes pianistas que irão fazer o concerto de abertura”.
O CIPAM continua no dia 7 com o primeiro concerto do chamado Ciclo de Novos Talentos.
“Os novos talentos passam por jovens que já se notabilizaram no campo da música. Nós este ano vamos ter canto, violino, piano e até vamos ter guitarra”.
A escolha da guitarra para este concurso, teve um objetivo muito específico, como explica a diretora da AMFF.
“Escolhemos guitarra para apoiar o Fábio que é um aluno de Viana que entrou este ano na Royal em Londres, uma das grandes escolas de música mundiais. O pai do Fábio era funcionário dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e ficou desempregado. O Fábio neste momento está com dificuldades e nós vamos apoiar com a realização do primeiro concurso de guitarra. Ele vai estar a atuar em Vila Praia de Âncora no dia 7 à noite”.
No dia 8 terá lugar o concerto de encerramento do concurso com a distribuição de prémios e o concurso de laureados. Findo o CIPAM, o Festival da Primavera continua com muitas e boas propostas para ver e ouvir, como garante Eugénia Moura.
“Já fora do contexto do concurso, teremos no dia 13 um concerto muito bonito que é organizado pela nossa professora de canto, a Marina Pacheco, que tem estado a formar uma excelente classe de canto aqui. Trata-se de um concerto de música religiosa que já realizámos na basílica de Santa Luzia e que vamos repetir na Igreja Matriz de Caminha enquadrado precisamente nesta época da Páscoa”.
A 17 e 18 de Abril, e à semelhança do que aconteceu no ano passado, o coro da Academia vai participar nas cerimónias da Semana Santa em Caminha. Até Junho Eugénia Moura destaca outros concertos, nomeadamente um que considera “magnifico”, o “Dream in Concert”. “Trata-se de um concerto todo ele com música americana, num género bem leve, com a Olga Amaro ao piano, a Marina no canto e o Fernando Costa que é um violoncelista magnífico do Porto. Vai ser uma beleza de concerto”, garante.
A “Ciranda dos Sentidos” é outra das propostas que Eugénia Moura destaca neste Festival da Primavera. “Esse será um espetáculo de música e poesia. Serei eu ao piano e a voz será de Rita Carneiro e de Pedro Lamares”. “Ciranda dos Sentidos” vai ser um espetáculo muito focado nos 4 elementos como explica a pianista. “Terra, ar, fogo e água são os 4 elementos e esta proposta vai focar essencialmente os sentimentos das pessoas. É uma coisa que estamos a construir e que nos está a dar muito prazer”, confessa.
“Teremos também o nosso Em Cena a atuar com um espetáculo que se chama “O Bonito Chefe”, uma coisa muito provocatória, à dimensão daquilo que eles costumam fazer. Teremos também um espetáculo de música de câmara e ainda um outro com a pianista Joana Castro, alguém que começa a ter um certo papel na cultura musical portuguesa e que nos vai apresentar o seu projeto “Viagens na Minha Terra”.
O encerramento do Festival da Primavera vai estar a cargo de um quinteto formado por um grupo de professores universitários “muito interessante”, garante a diretora.
“Trata-se de um grupo de professores universitários que ao mesmo tempo se dedica a outra abordagem da música. O espetáculo terá uma primeira parte de concerto e uma segunda parte de dança que será uma milonga”.
Uma Primavera “em cheio” é o que promete a AMFF. Eugénia Moura espera que as pessoas adiram e marquem presença nos espetáculos porque, como garante “vai valer a pena. Vamos ter grandes concertos com ótimas produções e alguns deles muito divertidos”.

AMFF continua à espera de melhores instalações
Apesar de ser a sede da Academia, o pólo de Vila Praia de Âncora é aquele que neste momento apresenta as piores condições para o ensino da música. No ano passado a Academia chegou a ponderar a possibilidade de mudar a sua sede para Ponte de Lima, local onde possui excelentes condições, mas a promessa por parte da Câmara de Caminha, de que iriam fazer obras em Vila Praia de Âncora e também por uma questão afetiva, levou a direção a não avançar com a sede para Ponte de Lima. Passado um ano continua tudo na mesma e Eugénia Moura diz mesmo que as obras da Academia já mais parecem as obras de Santa Engracia, que não avançam nem recuam.
“Eu compreendo que o momento não é o mais favorável. Portugal atravessa uma grave crise económica e por outro lado a Câmara também está a iniciar um novo ciclo. Eu já tive oportunidade de falar com o senhor presidente da Câmara que se mostrou muito receptivo ao tema e que me pediu algum tempo para estudar o caso. Neste momento eu estou a dar esse tempo mas em breve lembrarei que é necessário tomar alguma decisão porque, como se pode ver nós não temos condições. Aliás a sede é o local que piores condições apresenta”.