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Segunda-feira, 21 Abril, 2025
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Aldeias Sénior – há mais vida depois dos 50

Nunca consegui compreender como é que nos podemos considerar uma sociedade evoluída e ao mesmo tempo, em pleno século XXI, agirmos como “selvagens” que desprezam, humilham, negligenciam, maltratam, ignoram e descartam os séniores.

Na verdade, e por muito que nos custe admitir, não houve progresso social.  O que houve foi uma grande regressão na transmissão de valores éticos e morais  que fizeram colapsar um dos pilares basilares da sociedade: a família.

Sou do tempo em que logo em criança, nos era dito para respeitar os mais velhos e que se fôssemos apanhados a desrespeitar algum, levávamos um castigo ao chegar a casa. Era assim que muito cedo se transmitia o valor geracional – dentro do seio da família – , dos mais velhos e através do exemplo dos pais, aprendíamos a respeitá-los e a cuidar deles. Isto era a família desse tempo.

Hoje, olha-se para um idoso como um estorvo, alguém que só dá despesa, trabalho e chatices.

Mas não foi essa a geração de construtores que trabalhou arduamente na edificação de infraestruturas de que usufruímos? Não foi essa geração de professores que nos formou nas escolas? Não foram estes que  salvaram vidas nos hospitais, que nos defenderam nos tribunais, que nos serviram nos restaurantes, que nos limparam as ruas, as casas  e recolheram os nossos lixos,  que nos alimentaram com as  suas colheitas que produziram de sol a sol,  que nos protegeram dos criminosos?  Não foi graças a essa geração que evoluímos em aprendizagem e saber transportando todo o seu legado para outras gerações? Foi.

Mas então, se tanto deram de si ao mundo, por que razão depois de os usarmos para construir esta nação, os despachamos  agora que já temos tudo deles?

Sempre que há campanhas eleitorais só vejo projectos para crianças, jovens e adultos no activo. Para os séniores umas promessas de mais lares e ponto final.

Mais lares? Mas o que é isso? Mais depósitos de gente ainda muito válida e capaz de trazer muitas mais valias à sociedade? Isto é evolução social? Não brinquem comigo. Isso é desperdício de gente que ainda tem muito para dar à sociedade. Tenhamos vergonha! VERGONHA!

Algo de muito errado se passa quando não vemos o potencial desta faixa etária a ser completamente ignorado. E perdoem-me, não há desculpas para tanta desatenção. A culpa de hoje termos este tipo de sociedade é nossa por inacção. Demitimo-nos de exercer cidadania exigindo de quem detém o poder.

Por circunstâncias da vida, tive de arregaçar as mangas para criar o meu próprio emprego. A primeira coisa que me ocorreu, depois de alguns  meses à espera de respostas do centro de emprego,  foi oferecer-me para fazer apoio domiciliário. Foi aí que, além de descobrir mais uma paixão – a de cuidar dos outros -, fiquei em choque com a realidade ao perceber o quanto  é difícil ser idoso em Portugal.

Vi desde abandono, negligência, solidão, pobreza, falta de recursos das instituições, a filhos desesperados. Um horror.

O projecto que idealizo, pretende revolucionar a forma como vemos a dita “terceira idade”, aproveitar o seu potencial e por fim, aumentar a qualidade de vida destas pessoas que hoje, são elas, mas que amanhã seremos todos nós.  Porque a velhice não escolhe estratos sociais. Chega  a todos.

Há muita aldeia desertificada por razões de más políticas governativas, um pouco por todo o país. A minha ideia passa por revitalizar essas mesmas aldeias criando as “Aldeias Sénior” onde todos, sem excepção, poderiam viver a partir dos 50.

Em parceria com privados, o Estado lançaria concursos de revitalização e exploração dessas aldeias abandonadas para construir habitações sociais e moradias, assegurando serviços de apoio. Em cada aldeia, haveria:

  • pessoal especializado em geriatria, enfermagem, medicina;
  • centros de formação onde os seniores poderiam dar formação aos jovens nas suas áreas profissionais desde artes, a artesanato, agricultura, carpintaria,  mecânica entre outros;
  • espaços para hortas e animais de criação;
  • eventos culturais e de animação;
  • intercâmbio com os jovens das escolas;
  • actividades lúdicas;
  • noites de tertúlias;
  • desporto sénior;
  • supermercados;
  • posto de saúde;
  • loja do cidadão;
  • academias de fitness;
  • estabelecimentos comerciais, restaurantes, bares, discotecas;
  • turismo sénior entre tantas outras coisas que podemos e devemos acrescentar.

Em resposta a estas aldeias –  obrigatoriamente ecológicas com casas confortáveis e auto-sustentáveis em harmonia com o meio ambiente -, teremos  idosos mais felizes, a viverem mais, e com mais saúde, o que representa uma poupança nas hospitalizações e medicamentos.

As aldeias  agora abandonadas,  ganharão vida e o interior valoriza-se.

Por outro lado, as famílias poderão respirar de alívio e  descansar porque seus idosos estarão seguros,  bem acompanhados e felizes e assim, poderão prosseguir  com a suas vidas profissionais sem sentimentos de culpa ou  sobressaltos. Os netos poderão usufruir de mais tempo com os avós e a sociedade ganhará com este saber único dos nossos seniores ao serviço da comunidade.

Ajudar os nossos seniores é ajudar a família, é   ajudar o país a crescer. Porque uma sociedade que não cuida, é uma sociedade condenada ao fracasso.

Comigo e com toda a equipa deste partido único na defesa incondicional dos valores da família transmitidos pelos nossos pais e perdidos às mãos dos marxistas leninistas, vamos dizer CHEGA a este abandono negligente dos nossos idosos.

É hora de mudança e essa mudança virá com o CHEGA! num compromisso sério para com a Nação.

Nestas autárquicas diga CHEGA!

1 COMENTÁRIO

  1. É-me difícil expressar por palavras a gratidão pelo que Cristina Miranda expressa com seu texto. Também carrego esse sonho, que me trouxe até ao interior para empreender o que é apontado. Quase olhado de soslaio, sem nenhuns apoios (só mais dificuldades do costume). Alerto para as dificuldades de encontrar pessoal qualificado e com disponibilidade para viver o correspondente vácuo de estruturas e equipamentos. E a vida social, que pode ser pouca ou nenhuma, em contextos de grande de despovoamento.
    A minha experiência pode agora resultar num programa de apoio e aceleração de propostas semelhantes, dedicado a ajudar quem quer iniciar este processo de empreendedorismo animado não de interesse ganancioso, mas de sentido de responsabilidade social.
    Seria possível contar com o seu apoio, sra Cristina Miranda?

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