“Temos de perceber que há mais vida para lá da nossa profissão. Sem aliviar a defesa dos nossos direitos – ainda hoje ouvi alguém falar em retroactivos – mas isso nunca esteve em cima da mesa, até porque somos funcionários públicos e se as contas públicas ficassem insustentáveis lá se iria o nosso salário.”
Mário Nogueira
Mário Nogueira dirige a Fenprof há 16 anos e é portanto o maior responsável pela situação dos professores e das escolas; mais do que qualquer dos Ministros com os quais negociou, Maria de Lurdes Rodrigues, Nuno Crato, Tiago Brandão Rodrigues e desde há 1 ano, João Costa.
Mário Nogueira deu aulas 10 anos, vinculou como Quadro Escola e depois fez-se Sindicalista profissional, há mais de 20 anos que é esta a sua profissão. Mas estranhamente continua como quadro da mesma escola, a ser avaliado e a ter Bons e Muito Bons e a progredir na carreira, sem dar aulas.
Conforme se vai aproximando da idade da reforma, ele e a sua equipa de sindicalistas na FENPROF preocupa-se apenas com os professores que se querem reformar com 35 anos de serviço e 55 de idade, como antes acontecia.
E preocupa-se com os tempos de serviço congelados porque lhes permitem subir de escalão para se reformarem com as pensões por inteiro e bem lá no alto da carreira. Os esquerdistas revolucionários de ontem são os maiores conservadores do tempo presente.
Não se preocupa, e em 15 anos deixou implementar e não conseguiu acabar com a norma-travão. Não se preocupa com o tempo de serviço de 15 ou 20 anos de contratados, que ao fim desse tempo entram para o 1º ou 2º escalão, como se não tivessem esse percurso longo e intenso na sua carreira.
Não se preocupa, nem conseguiu acabar com as notas de avaliação falsificadas pelas QUOTAS, que definem à partida um numerus clausulus para Excelentes e Muito Bons. E não se preocupa porque o Mário Nogueira e os seus colegas Sindicalistas, até tem avaliações sem dar aulas.
E mais grave de tudo, não se preocupa com o primordial: Os portugueses pagam com os seus impostos os salários dos professores e todos os outros custos da educação. E pagam-nos para que os seus filhos tenham as aprendizagens adequadas e sejam bem formados e que a escola contribua para a sua educação, porque os pais, esses sim, são os primeiros responsáveis por ela.
Ora, quando professores vivem com problemas financeiros e logísticos, pessoais e familiares, não tem condições para executar bem as funções que lhe cabem. E Mário Nogueira, o Omnipresente nas estruturas de educação que temos, nada fez nos últimos 20 anos para corrigir estes erros.
Nada fez para alterar o método de colocações e dar estabilidade aos professores. Nada fez para que essa estabilidade se traduza em estabilidade organizacional e pedagógica para os alunos. Nada fez para que professores deslocados a centenas de km, seja uma exceção apenas para contratados em início de carreira, como em muitas outras profissões, e sejam devidamente compensados.
Mário Nogueira é o representante sindical dos professores que se reformaram até com menos 55 anos de idade desde que tivessem 30 anos de serviço. É o representante sindical daqueles que querem fazer o mesmo e não daqueles que querem e tem que trabalhar, como qualquer cidadão, até aos 66 anos e 6 meses, ou pelo menos até ter 40 anos de trabalho e descontos.
Cabe aos professores e aqueles que têm a vocação de ser professores, continuar a dar poder e palco a estes sindicalistas do século passado, ou apoiar e dar meios a quem quer uma escola nova, limpar as teias de aranha e realmente preparar as crianças e jovens de hoje para serem melhores Mulheres e Homens do amanhã, do que foi esta geração de acomodados, só preocupados com reformas de milhares de euros a partir dos 55 anos.
O Ministério da Educação sabe bem quais os interesses que defende Mário Nogueira e por isso o sentou à mesa da negociação não incluindo os dirigentes do STOP. Porque Mário Nogueira desvia o foco das atenções.
A atual luta dos professores pode ser uma excelente aula para os alunos e aprendizagem para os pais e a sociedade em geral, ou serem apenas mais umas notícias para os arquivos dos jornais e televisões. Depende dos professores, depende de todos os funcionários das escolas, mas também depende dos pais e famílias dos alunos.
Se querem escolas-depósitos-cantinas dos pobres deixem o Mário Nogueira liderar e negociar e é o que terão, e no meio algumas centenas de sindicalistas e professores terão a benesse de reformas antecipadas.
Se querem realmente uma Escola Nova, Professores mostrem claramente que Mário Nogueira não os representa, Funcionários mostrem que ser auxiliar numa escola não é o mesmo que sê-lo numa qualquer repartição, Pais e Famílias mostrem que dão mais valor à Educação das vossas crianças do que aos vossos tempos livres.
Leiria, Manifestação Das Escolas, 30 de janeiro de 2023