10.8 C
Caminha Municipality

“10 dias para ensinar o seu filho a dormir” de Filipa Sommerfeldt Fernandes

Data:

Bebés que só adormecem a mamar ou agarrados aos pais são um pesadelo, mas Filipa Sommerfeldt garante que as noites em branco têm solução. O segredo, explica no livro 10 Dias para Ensinar o Seu Filho a Dormir, está em mudar os hábitos de sono. A família inteira agradece.

Qual a importância do sono na infância? Em que é que difere do sono dos adultos?
As crianças dormem de maneira muito diferente da dos adultos, mas é importante descansar em qualquer idade: isso permite-nos estar bem para realizarmos as nossas tarefas diárias, para crescer e aprender. Depois, enquanto um adulto passa por quatro a cinco ciclos completos do sono num período de oito horas (cada ciclo dura cerca de 90 minutos e contém cinco estágios distintos), sem despertar entre eles, num bebé não é assim. A natureza é perfeita, fez-nos muito bem feitos. Um adulto dorme dessa forma porque é no sono profundo que faz a renovação celular. No caso das crianças até aos dois anos, o cérebro desenvolve-se durante o sono REM (Rapid Eye Movement), mais leve. Daí os ciclos de sono curtos, de cerca de 45 minutos.

As sestas são tão importantes como o sono reparador à noite? É um mito que não dormir de dia fá-los dormir 12 horas seguidas depois?
Claro que sim. Uma criança sem dormir acaba exausta, irritada, com a respiração e o batimento cardíaco acelerados. É-lhe muito mais difícil acalmar e dormir um sono tranquilo à noite. Exatamente como nós se estivermos cansados e com a cabeça a mil: caímos à cama, mas não desligamos. As crianças necessitam, de acordo com a sua idade, de momentos de paragem.

Que tempo é esse de que precisam?
Depende das idades. Um bebé dos três aos seis meses precisa de pelo menos três sestas por dia ao passo que uma criança entre os seis e os 14 meses, regra geral, fica bem com duas sestas por dia, uma de manhã e outra a seguir ao almoço. Os recém-nascidos dormem a maior parte do tempo – quatro ou cinco sestas diárias de até três horas cada, com intervalos de 45 minutos a uma hora – e a partir dos 15 meses a maioria dos bebés necessita apenas de uma sesta ao início da tarde, de uma ou duas horas. Mas lá está, depende muito da idade e das próprias crianças. À noite, o ideal é eles dormirem 11 ou 12 horas para descansarem bem, mesmo as crianças em idade escolar.

Por que razão há crianças que dormem bem desde os três meses e outras mais velhas que ainda não conseguem fazê-lo?
São características delas, da mesma forma que umas comem bem e outras não. Há miúdos que são pequenos budas, dormem e comem lindamente desde que nascem, não precisam de nada. E depois há outros com quem as coisas não funcionam tão bem. Se calhar os pais, movidos por um cansaço extremo, vão-lhes condicionando o sono ao arranjarem truques que tornam a vida mais confortável, que funcionem, e isso também acaba por criar maus hábitos que se perpetuam muito tempo.

Quais os erros mais comuns que os pais cometem relativamente ao sono dos filhos?
O problema mais comum são os acessórios que usamos para ensinarmos os nossos filhos a dormir. A maioria de nós não se lembra de trazer um bebé pequenino para casa e simplesmente deitá-lo na cama à hora a que é suposto ele dormir. Quando o bebé chora vamos lá pegar nele (e isso é suposto ser feito), mas ensinamos-lhes que precisam de ajuda para dormir. De uma muleta, que pode ser um biberão, a maminha da mãe, o colo, uma orelha, uma mão, a nossa presença – o acessório vai mudando. O meu filho adormecia a mamar, depois passou a fazê-lo no colinho, às tantas já só adormecia ao colo comigo a fazer agachamentos e com música. E as coisas evoluem assim quando, muitas vezes, a criança nem precisa de colo: basta-lhe que os pais fiquem ali ao lado.

Entretanto, entra aqui a questão dos ciclos de sono curtos. Eles acordam e não sabem voltar a dormir sozinhos…
O que acontece é que os bebés adormecem de uma determinada maneira e passado um ciclo ou dois, quando despertam ligeiramente, percebem que lhes falta o acessório e chamam a pedi-lo de novo. E lá vamos nós. No fundo, isto é uma aprendizagem, o ser humano aprende por repetição. Se nós tratarmos sempre as coisas dessa forma, é óbvio que o nosso filho vai sempre precisar de ajuda e não se torna independente. Esse é o grande problema na maior parte dos casos. Depois há ainda os horários desadequados, os pais que não deixam as crianças dormir durante o dia para que o façam à noite, os pais que deitam os filhos muito tarde e deixam passar a janela de sono adequada (nesse caso ficam excitados ou rabugentos, torna-se difícil o sono tranquilo). Às vezes é um conjunto de tudo, acessórios, horários desequilibrados e ajuda.

Jornalista de formação, tornou-se especialista em ritmos de sono após ter sido mãe. Fez o primeiro curso de Sleep Training na Universidade de Reading, Inglaterra, a que se seguiram outros relacionados com o sono, psicologia infantil e alimentação nos primeiros anos de vida. As suas dicas podem ser acompanhadas na página de Facebook Sleepy Time – Especialista do Sono e no livro 10 Dias para Ensinar o Seu Filho a Dormir.
Jornalista de formação, tornou-se especialista em ritmos de sono após ter sido mãe. Fez o primeiro curso de Sleep Training na Universidade de Reading, Inglaterra, a que se seguiram outros relacionados com o sono, psicologia infantil e alimentação nos primeiros anos de vida. As suas dicas podem ser acompanhadas na página de Facebook Sleepy Time – Especialista do Sono e no livro 10 Dias para Ensinar o Seu Filho a Dormir.

Como se concilia os ritmos das crianças com os horários incertos dos pais? Porque eles chegam tarde a casa e é normal quererem passar algum tempo com os filhos…

É essa a grande dificuldade e o que tento sempre trabalhar com as famílias. Os livros e as teorias dizem-nos que devemos deitar os bebés às oito da noite, mas a maioria dos pais não está em casa e, mais importante do que dormir à hora certa, é nós podermos estar com os nossos filhos e eles connosco. Isso dá-lhes uma sensação de segurança, de serem acarinhados, muito maior do que irem dormir e ficarem sem se ver. Nas minhas consultas tento perceber como é o dia, a que horas a criança come e dorme, a que horas chega o pai e a mãe, para conseguir criar uma rotina adequada dentro do horário real.

O que podem os pais fazer para estimular uma boa noite de sono. Qual seria a rotina ideal?
A primeira coisa é dar beijinhos, dizer olá e ir jantar. A seguir esqueçam as tarefas da casa, esqueçam a loiça, a roupa e, nem que seja por 20 minutos, sentem-se com o vosso filho no quarto dele e deem-lhe total atenção, sem telemóveis, e-mails, filmes, nada. É o vosso filho e vocês, em família. Porquê no quarto? Porque normalmente o usamos para vesti-los, trocar fraldas e deitá-los, que não são coisas que eles apreciem muito, e também para sairmos da sala, que é o espaço social da casa, forte em estímulos. O que nós queremos é um ambiente carinhoso onde passar bons momentos. A vida de pais é muito tarefeira, com eles a serigaitar à nossa volta enquanto realizamos mil e uma tarefas. É bom parar para estarmos juntos. Outra hipótese é preparar-lhes um banho, embrulhá-los e levá-los para o quarto, que já estará com luz fraca, aquecido, com música suave. É neste ambiente que os pais vão vesti-los, mimá-los, contar-lhes uma história antes de pô-los a dormir. Eles precisam destas rotinas.

E em caso de noites mal dormidas por princípio? Qual é o seu plano para ensinar uma criança a dormir em dez dias?
Este plano só funciona a partir dos seis meses. Até lá recomendo que se tente, mas sem insistir muito, até porque o contacto entre pais e bebé é muito importante. A partir dos seis meses, então, após analisarmos o dia e pormos o bebé a dormir as sestas certas, de instalarmos o tipo de rotina de que falámos, a ideia é deitá-lo tranquilo, mas ainda de olho aberto, apagarmos a luz e sentarmo-nos por lá. Se ficar calmo, não interferimos e saímos. Se se agitar, estamos perto e serenamo-lo. Muito provavelmente vai começar a chorar – o grande medo dos pais, o monstro – e aí o nosso trabalho é acalmá-lo com a voz, com mimos, festas, abanando-lhe o rabinho… Vale tudo menos adormecê-lo.

Isso tem ele de fazer sozinho.
Esse momento em que adormece sozinho é que lhe vai permitir, quando acorda entre ciclos à noite, perceber que está tudo igual e voltar a adormecer. Estamos lá para tranquilizá-los, não para adormecê-los. E é essa a grande diferença, o que faz o clique. Às vezes é uma questão de três dias, outras de dez. O cérebro precisa de quatro a cinco dias para se ajustar a um novo hábito e de uma semana ou duas para consolidá-lo. Se os pais se comportarem sempre de igual modo, sejam oito e meia da noite ou três da manhã, o bebé percebe que há uma nova regra. E às três da manhã, quando chorar, os pais vão lá serená-lo mas não pegam nele, não o adormecem ao colo ou na maminha. Uma vez calmo, afastam-se e repetem as vezes que forem necessárias. É um trabalho de paciência, de firmeza e amor.

Chorar até adormecer é uma técnica defendida por vários especialistas e aplicada por alguns pais, sobretudo os que já não têm força para se levantar à noite. Ainda é aceitável, à luz do que se sabe sobre os ritmos de sono das crianças?
Não sou fundamentalista, há imensos métodos e técnicas que podem resultar, mas penso que os extremos raramente funcionam. Para mim, deixar chorar até dormir não é solução, nem como mãe nem como profissional. Choro convulsivo, descontrolo total, adormecer por exaustão, não me cabem na cabeça. E na da maioria dos pais também não, senão não vinham ter comigo nem havia tanta gente a dormir mal. Se funciona? Provavelmente, mas também há pais que os aplicaram e me procuraram porque a criança não era consistente. O importante é mostrar-lhe que a cama é um lugar quente, confortável, seguro. E que nós estamos ali, ainda que não fisicamente. Essa é a maior dádiva que se pode dar a um filho: fazê-lo sentir-se amado mesmo sem estarmos lá.

Partilhar Artigo:

spot_img
spot_imgspot_img

Populares

Outros Artigos
Relacionados

GNR deteve até novembro mais de 12.500 condutores sob efeito do álcool

 A GNR deteve até 30 de novembro 12.506 pessoas...

Seis distritos de Portugal continental sob aviso laranja devido a agitação marítima

Seis distritos de Portugal continental vão estar sob aviso...

Retomadas buscas por três pescadores após naufrágio em Caminha

As buscas ao largo de Caminha pelos três pescadores...

Interrompidas buscas pelos três pescadores desaparecidos após naufrágio numa zona rochosa da Ínsua

As buscas pelos três pescadores que desapareceram na sequência...