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Segunda-feira, 9 Dezembro, 2024
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“10 dias para ensinar o seu filho a dormir” de Filipa Sommerfeldt Fernandes

Bebés que só adormecem a mamar ou agarrados aos pais são um pesadelo, mas Filipa Sommerfeldt garante que as noites em branco têm solução. O segredo, explica no livro 10 Dias para Ensinar o Seu Filho a Dormir, está em mudar os hábitos de sono. A família inteira agradece.

Qual a importância do sono na infância? Em que é que difere do sono dos adultos?
As crianças dormem de maneira muito diferente da dos adultos, mas é importante descansar em qualquer idade: isso permite-nos estar bem para realizarmos as nossas tarefas diárias, para crescer e aprender. Depois, enquanto um adulto passa por quatro a cinco ciclos completos do sono num período de oito horas (cada ciclo dura cerca de 90 minutos e contém cinco estágios distintos), sem despertar entre eles, num bebé não é assim. A natureza é perfeita, fez-nos muito bem feitos. Um adulto dorme dessa forma porque é no sono profundo que faz a renovação celular. No caso das crianças até aos dois anos, o cérebro desenvolve-se durante o sono REM (Rapid Eye Movement), mais leve. Daí os ciclos de sono curtos, de cerca de 45 minutos.

As sestas são tão importantes como o sono reparador à noite? É um mito que não dormir de dia fá-los dormir 12 horas seguidas depois?
Claro que sim. Uma criança sem dormir acaba exausta, irritada, com a respiração e o batimento cardíaco acelerados. É-lhe muito mais difícil acalmar e dormir um sono tranquilo à noite. Exatamente como nós se estivermos cansados e com a cabeça a mil: caímos à cama, mas não desligamos. As crianças necessitam, de acordo com a sua idade, de momentos de paragem.

Que tempo é esse de que precisam?
Depende das idades. Um bebé dos três aos seis meses precisa de pelo menos três sestas por dia ao passo que uma criança entre os seis e os 14 meses, regra geral, fica bem com duas sestas por dia, uma de manhã e outra a seguir ao almoço. Os recém-nascidos dormem a maior parte do tempo – quatro ou cinco sestas diárias de até três horas cada, com intervalos de 45 minutos a uma hora – e a partir dos 15 meses a maioria dos bebés necessita apenas de uma sesta ao início da tarde, de uma ou duas horas. Mas lá está, depende muito da idade e das próprias crianças. À noite, o ideal é eles dormirem 11 ou 12 horas para descansarem bem, mesmo as crianças em idade escolar.

Por que razão há crianças que dormem bem desde os três meses e outras mais velhas que ainda não conseguem fazê-lo?
São características delas, da mesma forma que umas comem bem e outras não. Há miúdos que são pequenos budas, dormem e comem lindamente desde que nascem, não precisam de nada. E depois há outros com quem as coisas não funcionam tão bem. Se calhar os pais, movidos por um cansaço extremo, vão-lhes condicionando o sono ao arranjarem truques que tornam a vida mais confortável, que funcionem, e isso também acaba por criar maus hábitos que se perpetuam muito tempo.

Quais os erros mais comuns que os pais cometem relativamente ao sono dos filhos?
O problema mais comum são os acessórios que usamos para ensinarmos os nossos filhos a dormir. A maioria de nós não se lembra de trazer um bebé pequenino para casa e simplesmente deitá-lo na cama à hora a que é suposto ele dormir. Quando o bebé chora vamos lá pegar nele (e isso é suposto ser feito), mas ensinamos-lhes que precisam de ajuda para dormir. De uma muleta, que pode ser um biberão, a maminha da mãe, o colo, uma orelha, uma mão, a nossa presença – o acessório vai mudando. O meu filho adormecia a mamar, depois passou a fazê-lo no colinho, às tantas já só adormecia ao colo comigo a fazer agachamentos e com música. E as coisas evoluem assim quando, muitas vezes, a criança nem precisa de colo: basta-lhe que os pais fiquem ali ao lado.

Entretanto, entra aqui a questão dos ciclos de sono curtos. Eles acordam e não sabem voltar a dormir sozinhos…
O que acontece é que os bebés adormecem de uma determinada maneira e passado um ciclo ou dois, quando despertam ligeiramente, percebem que lhes falta o acessório e chamam a pedi-lo de novo. E lá vamos nós. No fundo, isto é uma aprendizagem, o ser humano aprende por repetição. Se nós tratarmos sempre as coisas dessa forma, é óbvio que o nosso filho vai sempre precisar de ajuda e não se torna independente. Esse é o grande problema na maior parte dos casos. Depois há ainda os horários desadequados, os pais que não deixam as crianças dormir durante o dia para que o façam à noite, os pais que deitam os filhos muito tarde e deixam passar a janela de sono adequada (nesse caso ficam excitados ou rabugentos, torna-se difícil o sono tranquilo). Às vezes é um conjunto de tudo, acessórios, horários desequilibrados e ajuda.

Jornalista de formação, tornou-se especialista em ritmos de sono após ter sido mãe. Fez o primeiro curso de Sleep Training na Universidade de Reading, Inglaterra, a que se seguiram outros relacionados com o sono, psicologia infantil e alimentação nos primeiros anos de vida. As suas dicas podem ser acompanhadas na página de Facebook Sleepy Time – Especialista do Sono e no livro 10 Dias para Ensinar o Seu Filho a Dormir.
Jornalista de formação, tornou-se especialista em ritmos de sono após ter sido mãe. Fez o primeiro curso de Sleep Training na Universidade de Reading, Inglaterra, a que se seguiram outros relacionados com o sono, psicologia infantil e alimentação nos primeiros anos de vida. As suas dicas podem ser acompanhadas na página de Facebook Sleepy Time – Especialista do Sono e no livro 10 Dias para Ensinar o Seu Filho a Dormir.

Como se concilia os ritmos das crianças com os horários incertos dos pais? Porque eles chegam tarde a casa e é normal quererem passar algum tempo com os filhos…

É essa a grande dificuldade e o que tento sempre trabalhar com as famílias. Os livros e as teorias dizem-nos que devemos deitar os bebés às oito da noite, mas a maioria dos pais não está em casa e, mais importante do que dormir à hora certa, é nós podermos estar com os nossos filhos e eles connosco. Isso dá-lhes uma sensação de segurança, de serem acarinhados, muito maior do que irem dormir e ficarem sem se ver. Nas minhas consultas tento perceber como é o dia, a que horas a criança come e dorme, a que horas chega o pai e a mãe, para conseguir criar uma rotina adequada dentro do horário real.

O que podem os pais fazer para estimular uma boa noite de sono. Qual seria a rotina ideal?
A primeira coisa é dar beijinhos, dizer olá e ir jantar. A seguir esqueçam as tarefas da casa, esqueçam a loiça, a roupa e, nem que seja por 20 minutos, sentem-se com o vosso filho no quarto dele e deem-lhe total atenção, sem telemóveis, e-mails, filmes, nada. É o vosso filho e vocês, em família. Porquê no quarto? Porque normalmente o usamos para vesti-los, trocar fraldas e deitá-los, que não são coisas que eles apreciem muito, e também para sairmos da sala, que é o espaço social da casa, forte em estímulos. O que nós queremos é um ambiente carinhoso onde passar bons momentos. A vida de pais é muito tarefeira, com eles a serigaitar à nossa volta enquanto realizamos mil e uma tarefas. É bom parar para estarmos juntos. Outra hipótese é preparar-lhes um banho, embrulhá-los e levá-los para o quarto, que já estará com luz fraca, aquecido, com música suave. É neste ambiente que os pais vão vesti-los, mimá-los, contar-lhes uma história antes de pô-los a dormir. Eles precisam destas rotinas.

E em caso de noites mal dormidas por princípio? Qual é o seu plano para ensinar uma criança a dormir em dez dias?
Este plano só funciona a partir dos seis meses. Até lá recomendo que se tente, mas sem insistir muito, até porque o contacto entre pais e bebé é muito importante. A partir dos seis meses, então, após analisarmos o dia e pormos o bebé a dormir as sestas certas, de instalarmos o tipo de rotina de que falámos, a ideia é deitá-lo tranquilo, mas ainda de olho aberto, apagarmos a luz e sentarmo-nos por lá. Se ficar calmo, não interferimos e saímos. Se se agitar, estamos perto e serenamo-lo. Muito provavelmente vai começar a chorar – o grande medo dos pais, o monstro – e aí o nosso trabalho é acalmá-lo com a voz, com mimos, festas, abanando-lhe o rabinho… Vale tudo menos adormecê-lo.

Isso tem ele de fazer sozinho.
Esse momento em que adormece sozinho é que lhe vai permitir, quando acorda entre ciclos à noite, perceber que está tudo igual e voltar a adormecer. Estamos lá para tranquilizá-los, não para adormecê-los. E é essa a grande diferença, o que faz o clique. Às vezes é uma questão de três dias, outras de dez. O cérebro precisa de quatro a cinco dias para se ajustar a um novo hábito e de uma semana ou duas para consolidá-lo. Se os pais se comportarem sempre de igual modo, sejam oito e meia da noite ou três da manhã, o bebé percebe que há uma nova regra. E às três da manhã, quando chorar, os pais vão lá serená-lo mas não pegam nele, não o adormecem ao colo ou na maminha. Uma vez calmo, afastam-se e repetem as vezes que forem necessárias. É um trabalho de paciência, de firmeza e amor.

Chorar até adormecer é uma técnica defendida por vários especialistas e aplicada por alguns pais, sobretudo os que já não têm força para se levantar à noite. Ainda é aceitável, à luz do que se sabe sobre os ritmos de sono das crianças?
Não sou fundamentalista, há imensos métodos e técnicas que podem resultar, mas penso que os extremos raramente funcionam. Para mim, deixar chorar até dormir não é solução, nem como mãe nem como profissional. Choro convulsivo, descontrolo total, adormecer por exaustão, não me cabem na cabeça. E na da maioria dos pais também não, senão não vinham ter comigo nem havia tanta gente a dormir mal. Se funciona? Provavelmente, mas também há pais que os aplicaram e me procuraram porque a criança não era consistente. O importante é mostrar-lhe que a cama é um lugar quente, confortável, seguro. E que nós estamos ali, ainda que não fisicamente. Essa é a maior dádiva que se pode dar a um filho: fazê-lo sentir-se amado mesmo sem estarmos lá.

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