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49 Anos do 25 de Abril, Vira o Disco e Toca o Mesmo

“São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as tulhas bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei”

José Afonso – Os Vampiros

A OCDE realizou um estudo para aferir da qualidade de vida nos seus Estados Membros. Quanto ao envolvimento da sociedade civil, Portugal ficou em penúltimo lugar, atrás de países como a Colômbia, a Rússia, a Turquia ou o México. Pode lê-lo na íntegra em: https://www.oecdbetterlifeindex.org/topics/civic-engagement/

Em Abril de 1973 realizou-se em Aveiro o III Congresso das Oposições Democráticas que viriam a reunir-se numa lista única para concorrer às eleições de Novembro de 1973, tendo posteriormente desistido por não estarem garantidas condições de igualdade nas urnas. A Ação Nacional Popular ganhou com 100% dos Votos, cerca de 1,4 milhões de pessoas.

Passados 50 anos sobre esse Abril, os festejos dos 50 anos do Partido Socialista, foram realizados à porta fechada no Palácio de Cristal, agora SuperBock arena, sob enorme proteção policial para controlar e afastar contestatários.

Passados 49 Anos sobre o 25 de Abril, o que mudou então?

Temos um Presidente da República, afilhado do Presidente do Conselho de 1969-1974 que, na sua função, estando mais próximo do padrinho em termos de comunicação e de “conversas em família” do que de Américo Tomás, cumpre o seu papel com o mesmo resultado prático daquele Almirante, corta umas fitas, faz de conta que fala grosso e coleciona selfies e viagens pelo mundo.

Temos uma maioria parlamentar, eleita por 2,3 milhões de portugueses, pouco mais de 21% da População e na qual, essa maioria determina quem são os “democratas” e quem não são; e suporta um primeiro-ministro e um governo de famílias, compadres, padrinhos e afilhados.

Temos uma comunicação social que, para assegurar a sobrevivência financeira, vive espartilhada entre o serviço público pago pelo Governo e o populismo que vende jornais e dá audiências.

Temos uma população com uma escolaridade média muito mais elevada, mas, cuja preparação e capacidades são maioritariamente usadas como há 50 anos, em trabalhos pouco diferenciados e mal remunerados.

Os filhos de Médicos, Engenheiros, Economistas, Professores, são médicos, engenheiros, economistas, professores. Como há 50 anos, meia dúzia de Universidades pagas a peso de ouro, no Porto ou em Lisboa, são o passaporte para esses empregos bem remunerados que as elites reservam para os seus.

Os outros são, como os seus pais, carne para canhão, agora não no campo, mas nas fábricas, nas lojas, nos armazéns logísticos ou a fazer recados na Uber Eats ou no Burger King. Ou, se souberem ser bem alinhados com aqueles que detém o poder, lutam para garantir um emprego como assessores no Governo ou na Assembleia da República, nas Câmaras ou nas empresas municipais.

A migração para os centros urbanos do litoral ou a emigração, como há 50 anos, continuam a ser as únicas possibilidades de verdadeira mobilidade económico-social porque os salários em Lisboa ou no Porto são mais 50% dos mesmos em Freixo de Espada a Cinta ou em Melgaço e em Inglaterra ou na Suíça são o dobro ou triplo.

Na saúde, como há 50 anos, o acesso geográfico aos grandes hospitais públicos universitários ou o acesso económico aos hospitais e clínicas privadas, dos Mellos antes e hoje, como de outros Mellos novos, são a garantia de sucesso terapêutico. Os outros, sujeitam-se a viagens de 4 horas para fazer Quimioterapia, ou a listas de espera de meses e anos, para uma cirurgia.

À escala local, o que resta da “Caminha Vila Vermelha” que levantou as pedras da calçada da marginal no 11 de Março de 1975?

Tem os piores índices de Emprego, Salários, Indústria, Educação e Saúde do Alto Minho. Os jovens que acabam o 12º ano, vão trabalhar para fora do Concelho ou emigram. Uns poucos vão estudar e só voltam para as férias, quando voltam. Exatamente como há 50 anos. A viver do turismo no Natal, Na Páscoa e no Verão.

Caminha tem uma Câmara que, com os votos de apenas 28% da população do Concelho, detém o poder absoluto e 2/3 da Assembleia Municipal. A democracia é um formalismo. É só colocar o Braço no ar, acompanhar o chefe.

Emprega 350 pessoas, de longe o maior empregador do Concelho e contrata serviços como a Água, a Limpeza e o Tratamento de Resíduos, consultorias, estudos, pareceres, programas e organizações, a uma teia de empresas e indivíduos que orbitam à sua volta.

Então, Portugal como Caminha, estão como há 50 anos?

-Pior do que há 50 anos, porque nestes 50 anos, os políticos criaram uma população com o 12º ano, mais analfabeta do que aqueles que tinham a 4ª Classe em 1973, criaram uma população que primeiro confiou e depois, desacreditou neles e por isso, maioritariamente não vai votar. Criaram uma população egocêntrica e amorfa, porque preocupada com a sua sobrevivência, resignada a lutar pela sua côdea.

E criaram exatamente o que queriam: um Povo Manso, que se deixa governar, como há 50 anos. À espera de que uma qualquer classe de oficiais se revolte por causa da carreira.

Tudo voltou à ordem natural das coisas, o povo é sereno, foi só fumaça e afinal, mudaram apenas os Vampiros!

Leiria, 24 de Abril de 2023

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