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Quinta-feira, 25 Abril, 2024
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“VOTO EM VOLTAR…” TIAGO BRANDÃO RODRIGUES ABRAÇA NOVO DESAFIO

 

Depois de ter sido notícia pelo relevante trabalho que tem vindo a desenvolver como investigador e pelo seu papel como Adido Olimpíco nos Jogos de Londres, Tiago Brandão Rodrigues volta a dar que falar. Desta vez não se trata de nenhuma descoberta cientifica mas sim de um novo desafio que o investigador de Paredes de Coura, a trabalhar em Cambridge, decidiu aceitar.

A convite do Partido Socialista mas como independente, Tiago Brandão Rodrigues vai encabeçar a lista às próximas eleições legislativas pelo distrito de Viana do Castelo. De regresso a Portugal, o investigador prepara-se para seguir um caminho distinto daquele que tem percorrido até agora. Mas o que move este investigador de sucesso na área do cancro a abandonar Cambridge e regressar a Portugal para enveredar por uma carreira política?
Foi o que procuramos saber numa entrevista ao candidato que, apesar de não ter nascido em Caminha, tem fortes ligações ao concelho

Tiago Brandao Rodrigues - 2Jornal C (JC) – Antes de falarmos da sua candidatura às próximas eleições legislativas, convidava-o a desvendar um pouco sobre si. Para quem não o conhece, quem é o Tiago Brandão Rodrigues?

Tiago Brandão Rodrigues (TBR) – É sempre difícil tentar responder a essa pergunta. E confesso que me custa caracterizar-me. Prefiro, muitas vezes, fazê-lo usando as palavras dos outros. Num artigo publicado na revista Visão sobre mim e sobre a minha atividade, que foi publicado no ano passado, existem três passagens que retive na minha memória. Colocando-me à distância possível, acredito que ajudam a entender quem e como sou. Na primeira dessas passagens, logo no início desse artigo, a jornalista compila uns quantos adjetivos para me qualificar, como se de um resumo se tratasse: “Obstinado, metódico, sensível, multifacetado.” Concordo que qualquer destes adjetivos me caracteriza bem. Na segunda dessas passagens, aparece a razão pela qual certamente aceitei este desafio: “Um homem da sua terra. Nada que o assuste. É um otimista por natureza e está habituado a desafios.” Por fim, o artigo tem um testemunho do Rui Macedo, um grande amigo dos tempos de juventude: “Não sei o que ele faz com o tempo. Apesar da distância, consegue alimentar as amizades.” Acredito que esta descrição também pode ajudar a entender um dos pilares da minha vida.

JC – Cresceu em Paredes de Coura mas sei que tem fortes ligações a Caminha e que considera este concelho a sua segunda casa. Confirma?

TBR – Sim, confirmo, e faço-o com cumplicidade, pelo imenso património afetivo que Caminha representa para mim. Só assim se entende eu também chamar “casa” a Caminha. Toda a minha vida tem uma ligação muito forte a este concelho. O meu pai trabalhou aqui 25 anos, na repartição de finanças, e eu desde os 4-5 anos que me lembro de vir passar muitos fins-de-semana e as férias a Moledo ou a Caminha, onde vive a minha tia.
Depois, na adolescência, comecei também a passar aqui muitas tardes, pois joguei andebol no CAC (Clube Andebol de Caminha). A minha vida era repartida entre Paredes de Coura, onde vivia e estudava, e Caminha, onde passava muitos dos meus momentos de ócio e de descanso. Estas vivências fazem com que passe, também agora, muito do meu tempo em Caminha, aproveitando para trazer, com muita frequência, muitos dos meus amigos.
Toda a envolvente singular da foz do Minho, do sapal do Coura, do Camarido, das praias e do rio Âncora são imagens e memórias que levo para onde quer que vá, pois entendo que este é um dos sítios mais bonitos onde já estive e onde, claramente, me sinto melhor.
Por todas estas razões, fiz por aqui muitos amigos, principal motivo pela qual me sinto também desta terra.

Tiago Brandao Rodrigues - 4

JC – Nos últimos anos viveu e trabalhou como investigador na Universidade de Cambridge. Tem tido uma carreira de sucesso mas agora decidiu abraçar um novo desafio, a política. Foi inesperado ou isso sempre esteve nos seus planos?

TBR – Confesso que este desafio, em concreto, surgiu de forma inesperada. Tenho pautado a minha vida pela constante participação em movimentos cívicos e associativos, mas esta é a primeira vez que participo na política ativa com dimensão nacional. Efetivamente, nos meus planos passados, não estava fazê-lo, mas com o atual estado do país, fez – e faz cada vez mais – todo o sentido dizer “presente” e declarar que não desisto do meu país. O futuro vai, certamente, moldar-se pelas nossas ações de hoje, pelo que acredito verdadeiramente que, juntamente com muitos outros da geração a que pertenço, poderei ajudar a reconstruir um país melhor. Acredito também ser possível reverter a atual situação, edificando um país mais solidário, mais transparente e com uma justiça social mais alicerçada. O estado, funcionando como base das nossas sociedades contemporâneas, tem que ser o garante desta fundamental justiça social, pelo que é papel de todos poder construir um melhor estado e, logo, uma melhor sociedade.

JC – Como surgiu este desafio?

TBR – Surgiu por um convite do secretário geral do PS, e candidato a primeiro-ministro, António Costa. Como se tornou claro depois da divulgação das listas do PS, António Costa deu importante relevo à participação de independentes no cumprimento dos seus objetivos, independentes estes que se afirmaram pelas suas carreiras profissionais e cívicas.

Tiago Brandao Rodrigues - 3JC – Foi difícil decidir?

TBR – Tenho uma situação muito privilegiada em Cambridge, em termos profissionais e pessoais, pelo que tinha muitos “graus de liberdade” para continuar por lá, dizendo que “não” a este desafio. No entanto, e como expliquei, achei imperativo dizer “sim” a este repto e acreditar no meu país. A minha “difícil” decisão foi facilitada por este sentimento.

JC – Como é que as pessoas que lhe são próximas, nomeadamente família e amigos, vêm este novo desafio na sua vida?

TBR – Têm demonstrado um enorme apoio, tendo-me brindado com palavras de encorajamento e de força. De forma afetuosa, noto um orgulho enorme nas palavras de algumas dessas pessoas que me são mais próximas. Curiosamente, muitos dos que me conhecem melhor, disseram-me que acham natural que este novo desafio aconteça, uma vez que estão habituados a ver-me sempre a lutar, com inquietação, pelas causas que acredito, o que me leva a enveredar por caminhos, aparentemente, não tão previsíveis . Mas o que tenho sentido, e que tem também um imenso significado para mim, é o enorme número de mensagens de apoio e de carinho que tenho recebido por parte de pessoas que não conheço. E se é verdade que muitos são amigos de amigos, ou pessoas próximas do PS, existem muitas outras pessoas que, de forma absolutamente espontânea, me têm escrito para mostrar o seu contentamento com esta minha decisão.

JC – Brevemente vai regressar a Portugal e iniciar uma nova etapa que culmina com as eleições. Já tem um plano para os próximos meses? O que vai fazer para chegar junto do eleitorado?

TBR – Naturalmente, esse plano já existe. Serão meses de muito trabalho, de contato próximo com as populações, com as instituições do distrito e de cada um dos nossos concelhos e de um entendimento mais concreto da nossa realidade.
Depois deste período de férias, onde as pessoas aproveitam para descansar e para recarregar baterias para o próximo ano, intensificaremos certamente as nossas ações para poder entender melhor as preocupações e os anseios das pessoas, assim como para lhes podermos transmitir as nossa ideias e estratégias para estimular este nosso território. Este diálogo constante é a única forma séria e viável para que exista uma aproximação natural e real. Estou convencido de que muitas pessoas se juntarão a nós neste caminho.

JC – Num momento em que a Europa e, em particular Portugal, atravessam momentos tão difíceis, com a politica e os políticos cada vez mais descredibilizados, como é que se pode contrariar esta tendência?

TBR – Com confiança. Só a confiança real pode servir de verdadeiro “meio de cultura” para que esta credibilização aconteça. Acredito que a participação ativa de pessoas com uma vida profissional sólida, e com provas dadas daquilo que foram e são capazes de fazer, também pode estimular muito esse património de confiança.

Tiago Brandao Rodrigues - 5JC – O que o move um cientista com uma carreira brilhante a trocar a ciência pela política, e Cambridge por Portugal?

TBR – Agora é tempo de me dedicar ao meu país. Este é também um voto em voltar! Tenho esperança real que as bases de confiança no meu país possam crescer, a situação se replique e muitos possam confiar em Portugal para poderem também voltar.
Sendo assim, no meu caso em particular, a carreira internacional terá, neste momento, que esperar. É importante sentir que este será o espaço e o tempo para me poder focar numa outra dimensão e numa outra valência. A ciência é muito mais do que uma profissão, é uma verdadeira forma de ser e estar, assente no prazer em aprender, no resolver de problemas e no abraçar de novos desafios. Sendo assim, espero poder rechear muita da minha atividade futura com muitos dos instrumentos que fui ganhando na minha atividade científica.

JC – Caso o PS seja eleito, o que espera que mude em Portugal?

TBR – Os valores e os princípios que sempre alimentaram e estimularam a minha forma de pensar e de estar estão profundamente ligados à longa tradição da esquerda democrática europeia. Estes valores são aqueles que me serviram de base para que eu pudesse entender que sociedade gostaria de ter no meu país e nos vários sítios por onde fui vivendo. O PS personifica muitos desses valores em que eu veementemente acredito. Por outro lado, acredito também que este PS é a força que pode fazer com que o nosso país reconquiste algumas das conquistas de Abril – que tem sido maceradas pela ação recente das políticas de austeridade – assim como voltar a aproximar os portugueses da política e dos políticos. Como disse antes, acredito que Portugal possa ser um país mais solidário, mais transparente e com uma presente, sólida e constante justiça social.

JC – Que cargo gostava de ocupar no Governo?

TBR – Neste momento estou completamente focado nas eleições e, em termos pessoais, não faço futurologia em relação ao que vai acontecer depois das eleições. Entendo que o objetivo principal é que as pessoas confiem em nós, para que possamos ter uma intervenção séria e ativa para defender e estimular o nosso distrito.

JC – Como foi a despedida de Cambridge?

BR – Essa é a pergunta mais complicada de todas… Acho que existe uma expressão inglesa que condensa o que senti, e que se pode traduzir como “sentimentos misturados”… Uma alegria enorme por este novo desafio, mas um aperto no coração por deixar tantos amigos, o trabalho na Universidade e uma cidade – que também é minha – para trás. No entanto, recebi um apoio enorme por parte dos meus amigos e colegas de trabalho, com palavras de orgulho e de regozijo, assim como da própria Universidade, que se mostrou muito lisonjeada por um dos seus ser chamado para tal desafio. Por tudo isto, volto a Portugal com um sorriso e com amigos para a vida.

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