Em declarações à agência Lusa, Paulo Esteves explicou que a proposta de realização de um referendo local, apresentada a “título pessoal” pelo deputado do PSD, foi aprovada “com 20 votos a favor e 10 contra”, num universo de 30 elementos presentes no momento da votação em sessão da Assembleia Municipal, realizada no dia 28”.
A Assembleia Municipal de Valença é constituída por 21 deputados municipais, 10 do PS, seis do PSD, quatro do movimento Fortalecer Valença, e um eleito pelo movimento Nós Cidadãos, intitulado como Cidadãos por Valença. Naquele órgão têm também assento os 11 presidentes de Uniões e Juntas de Freguesia, com direito de voto.
Em causa está a empresa Águas do Alto Minho (AdAM), cuja atividade operacional teve início a 01 de janeiro de 2020. A empresa de gestão das redes de abastecimento de água em baixa e de saneamento básico é detida em 51% pela Águas de Portugal (AdP) e em 49% pelos municípios de Arcos de Valdevez (PSD), Caminha (PS), Paredes de Coura (PS), Ponte de Lima (CDS-PP), Valença (PS), Viana do Castelo (PS) e Vila Nova de Cerveira (PS), que compõem a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho.
Paulo Esteves garantiu estar contra, desde o início, a constituição da empresa que a maioria PSD que no mandato anterior liderava a Câmara de Valença, aprovou. “Fui o único deputado do PSD na Assembleia Municipal a votar contra a constituição da empresa. Por uma questão de coerência e, para não politizar a questão, decidi agora apresentar, a título pessoal a proposta de referendo local”, explicou.
O deputado do PSD na Assembleia Municipal espera que a medida venha a ter “um efeito cascata, sendo seguida por outros municípios da região que se confrontam com os mesmos problemas, como o aumento brutal do preço da água, aos investimentos que são da competência da empresa, mas que são os municípios que estão a suportar”.
“Esta empresa é um desastre absoluto e o contrato é por 30 anos. Ainda só passaram três”, referiu.
Segundo Paulo Esteves, a deliberação e a proposta de realização da consulta pública “têm de ser enviadas, até amanhã [quinta-feira] para o Tribunal Constitucional, no cumprimento dos sete dias úteis previstos na lei do referendo”.
“Valença deu o primeiro passo para dar seguimento à realização material do referendo. Nesse momento, serão as pessoas a decidir se querem permanecer ou saída da AdAM e a Câmara Municipal terá de cumprir a veredicto da população”, apontou.
A agência Lusa contactou o presidente da Câmara, José Manuel Carpinteira, mas ainda sem sucesso. No entanto, fonte autárquica disse à Lusa que “o envio da documentação para o Tribunal Constitucional é uma competência do presidente da Assembleia Municipal”.
A Lusa tentou, mas não conseguiu falar com o presidente da assembleia municipal, José António Cerqueira. Já a fonte autárquica avançou que a documentação “vai ser enviada dentro do prazo legal”.
A eventual reversão da AdAM e a remunicipalização da gestão das redes de abastecimento de água em baixa e de saneamento básico foi uma das promessas eleitorais do presidente da Câmara de Valença.
Em 2021, aquando da campanha para as eleições autárquicas, José Manuel Carpinteira afirmou que, se conquistasse o município ao PSD iria “promover a realização de um estudo jurídico e financeiro para aferir da viabilidade da reversão da ADAM”. Admitiu ser um processo “muito difícil”, mas garantiu que iria tentar concretizar a promessa eleitoral.
A AdAM, com sede em Viana do Castelo, começou a operar em janeiro de 2020, “dimensionada para fornecer mais de nove milhões de metros cúbicos de água potável, por ano, e para recolher e tratar mais de seis milhões de metros cúbicos de água residual, por ano, a cerca de 70 mil clientes”.
A constituição da empresa tem sido contestada por vários partidos e pela população, que se queixam do aumento “exponencial” das tarifas e do “mau” funcionamento dos serviços.