Após dois anos de interrupção devido à Pandemia provocada pela Covid 19, as festas e romarias das nossas vilas e aldeias que normalmente se realizam no verão estão de regresso avivando memórias, tradições e a fé nos santos tão queridos das nossas gentes. E a verdade é que não há lugarejo, por mais recôndito que seja, que não tenha a sua romaria, trazendo de volta à terra os filhos espalhados por esse mundo fora.
Em Junho vai-se à romaria a São Bento, em Agosto à Santa Rita e em Setembro à Senhora da Bonança e pelo meio contam-se dezenas de festas como o Senhor de ao Pé da Cruz em Moledo, a Senhora d’Agonia em Caminha , o São João na Serra d’Arga, a festa das Solhas em Lanhelas e tantas outras.
E isto só no concelho de Caminha porque por esse Minho fora não há um dia de descanso.
É assim o Minho, repleto de alegria e cor, um infindável mar de sugestões onde o que custa mesmo é escolher porque é quase impossível estar em todo o lado. De facto, as romarias constituem um costume religioso cujas origens se perdem nos tempos. Geralmente têm a sua origem em cultos pagãos que frequentemente tinham lugar em antigos santuários que mais tarde deram origem a pequenas ermidas e templos cristãos, em torno dos quais se reza, canta e dança tal como outrora se fazia.
Mas a romaria não é só reza, também é festa, arraial e foguetório. Cumpridas as promessas aos santos da devoção é tempo de seguir para a folia.
A Romaria de São Bento que se realiza em Seixas entre os dias 8 e 11 de julho é o maior acontecimento da freguesia que tem em São Bento o seu protetor nas horas de aflição.
É a primeira grande romaria do concelho de Caminha e a mais antiga a julgar pelos documentos antigos da Confraria que revelam que “anteriormente a 1454, já existia, na freguesia de São Pedro de Seixas, uma capela que foi dos Templários e, também, o culto e veneração a São Bento, fundador da Ordem Beneditina”.
Nos documentos consultados e que serviram de base à elaboração da Monografia da Confraria de São Bento, da autoria de Castro Guerreiro, pode ainda constatar-se que na mesma altura, ou seja anteriormente a 1454 a festa já se realizava.
“(…) em nosso entender, na mesma altura já se realizavam as festas em honra do Santo, sendo integrada, na festa maior ou romaria a realização da instituída feira franca de São Bento de Seixas, o que concludentemente prova que ambas as situações – culto e festa – são realizações a que a freguesia já assistia há muito mais de cinco séculos”.
Mas a Romaria de São Bento que todos os anos atrai milhares de devotos e romeiros à freguesia, não é só a mais antiga como aquela que ainda conserva muitas das tradições ancestrais.
Isso mesmo se pode comprovar na monografia atrás citada onde se refere que “(…) as mesmas linhas mestras da organização da grande Festa ou Romaria de São Bento, mantenham, no essencial, a estrutura da sua antiga tradição, sofrendo apenas as alterações a que o próprio decorrer dos tempos obrigou, adaptando-a a tempos mais modernos”.
Tal como no passado a romaria mantém hoje bem vivo o seu carácter religioso, que se inicia com a realização das novenas em honra do patriarca e culminam com a procissão na qual participam milhares de devotos, sem esquecer a missa e sermão que nos últimos anos se tem realizado ao ar livre junto ao Santuário. Por outro lado, a parte profana assenta em vários dias de festa rija com arraiais noturnos, muita música e diversão.
Como sempre o programa arranca oficialmente a 2 de julho com o início das novenas, e termina a 11 de Julho com inúmeros momentos e propostas programadas pela Confraria de São Bento, entidade responsável pela organização da Romaria (ver programa).
Culto a São Bento na freguesia de Seixas
O culto e a devoção a São Bento na freguesia de Seixas vem desde a alta idade média, trazida pelos freires templários que se instalaram em Seixas e construíram uma igreja romana constituída por duas naves e três altares, dedicados ao culto a São Bento.
Esta construção feita em Souto próprio, onde passou a realizar-se anualmente uma festa/feira nos dias 21 de março e 10 e 11 de julho, de onde “os peregrinos levavam terra para a cura de seus achaques”.
Em 1455, o Rei D. João deu-lhe vários benefícios régios ao considerá-la feira franca e isenta de impostos. Em 1525, D. João III confirmou tal valor régio. Em 1748, confirmou-se tal provisão a favor de São Bento. Em 1848, por alvará régio da Rainha D. Maria e assinado pelo Duque de Saldanha, é instituída a Irmandade de São Bento na antiga capela de São Bento de Seixas e aprovados e confirmados os primeiros estatutos, ficando a Irmandade com a responsabilidade de gerir e administrar o património de São Bento e promover o seu culto. Em 1862, verificando-se o estado de degradação do templo primitivo pelo decorrer dos anos, resolveu a irmandade construir o templo que hoje existe e que foi concluído em 1870. Em 1871, foi benzida a nova capela pelo pároco de Seixas. Com a implantação da República em 1910, a igreja e todas as suas instituições tiveram de alterar os seus estatutos; e em 24 de dezembro de 1911, a Irmandade comprometeu-se com o Estado a aplicar só um terço dos seus rendimentos no culto a São Bento revertendo as restantes receitas para melhoramentos e mais tarde, caridade cristã.
Um santo com uma vida santa
Conhecido pela sua poderosa proteção e intercessão pela igreja Católica, desde tenra idade que São Bento mostrou ter um coração cheio de bondade e o conhecimento de um sábio, desprezando o mundo das vaidades e do prazer dos sentidos.
Bento, cujo nome significa “bendito” ou “benedito” nasceu na cidade de Núrsia, no centro de Itália, no dia 24 de março do ano 480 depois da era de Cristo. Nascido no seio de uma família nobre e cristã, desde criança que Bento evidenciou uma forte maturidade espiritual, sem nunca se deixar corromper pelas atrações vis e banais. Foi uma vida santa a deste Santo que, ao ser mandado para Roma para terminar os estudos, se deparou com um mundo de imoralidade e corrupção, facto que o levou a abandonar a cidade.
Não queria estudar as ciências humanas pois sentia vontade de aprofundar a ciência divina. Com efeito, o espírito reflexivo levou-o a considerar a vaidade das coisas mundanas e, no ensejo de agradar apenas a Deus, renunciou a tudo e abraçou a austera vida eremítica.
É este santo invocado contra as tentações do demónio, as inflamações, erisipelas, febre e doenças dos rins.
Os milagres
São Bento operou grandes milagres: fez brotar águas das rochas, ressuscitou mortos, venceu a soberba dos poderosos, a tentação da carne. São Bento representa a vitória do Senhor contra o espírito do mal. Depois de muitas fadigas passadas e após ter livrado muitas almas da possessão do mal, S. Bento preveniu, em pensamento, o dia em que viria a abandonar este mundo. Morreu na quinta-feira santa, dia 21 de março de 547. Foi este o caminho trilhado pelo patriarca dos monges do Ocidente, aquele a quem justamente foi atribuído o título de “Pai da Europa”.
Criação da Ordem Beneditina
São Bento decidiu mandar construir doze mosteiros com superiores permanentes e doze monges, um em cada mosteiro, legando-lhes a sua REGRA os princípios para uma vida honesta e santa.
Esta obra apresentada pelo Santo é assim caracterizada pelo autor José Agostinho de Macedo: a regra de São Bento “é a regra mais doce, mais humana e, se me deixarem dizer tudo, a mais razoável e mais aproximada à condição do homem. Estava assim criada a Ordem Beneditina.
São Bento, Padroeiro dos Exorcistas
Bento é um santo muito querido entre os fiéis, devido à sua eficácia extraordinária no combate ao demónio e às suas manifestações, na defesa contra os malefícios de toda a espécie, contra doenças, especialmente contagiosas, conta picadas de serpente e outros animais venenosos, na proteção de animais domésticos, veículos, entre outros.
SÃO BENTO 2022 – PROGRAMA
DIAS 2 A 10 DE JULHO
DIA 2 DE JULHO – SÁBADO
21 HORAS
Início da novena a São Bento, com reflexões da vida e obra do santo , a cargo do Padre Rui Rodrigues.
DIA 5 DE JULHO – TERÇA-FEIRA
21 HORAS
Iluminação e abertura da Ornamentação do Largo de São Bento e Estrada Nacional.
DIA 8 DE JULHO – SEXTA-FEIRA
22 HORAS
Noite de Música popular Galega
Atuação do Grupo de Música “LIROLAI” – O Rosal
DIA 9 DE JULHO – SÁBADO
22 HORAS
Noite da Juventude
Atuação do Grupo Musical “FUNÇÃO PÚBLIKA”
DIA 10 DE JULHO – DOMINGO
08 HORAS
Alvorada de Morteiros – Fogo de Artifício
11.30 HORAS
Missa no Santuário com o Grupo Coral de São Bento
12.30 HORAS
Tradicional “Meio dia de Fogo”
13 HORAS
Entrada no recinto da Banda Musical Lanhelense
15.30 HORAS
Entrada da Banda Musical de Monção
Concerto no Largo de São Bento pela Banda Musical Lanhelense e Monção
22 HORAS
Concerto no Largo de São Bento pela Banda Musical Lanhelense e Banda Musical de Monção.
00.30 HORAS
Espetáculo de Fogo de artifício
01 HORA
Despedida das Bandas do Santuário
DIA 11 DE JULHO – SEGUNDA-FEIRA
08 HORAS
Alvorada
09 HORAS
Confissões no Santuário
10 HORAS
Entrada da Banda de Gaitas SAN XOÁN – TUI
10.30 HORAS
Missa Solene Campal no Largo de São Bento celebrada pelo Bispo de Viana, D. João Lavrador acompanhada pelo Coral da Banda de Lanhelas.
11.30 HORAS
Procissão em honra de São Bento de Seixas acompanhada por Grupo da Viana Equestre – Viana do Castelo
Sermão na Praia de São Bento e bênção dos barcos.
15 HORAS
Romaria dos nossos “Maiores”
22 HORAS
Sarau artístico em frente ao Santuário de São Bento:
“FADOS E CANTARES PORTUGUESES” POR CAROLINA PESSOA E MICKAEL SALGADO
22.30 HORAS
Espetáculo de Fogo de Artifício