“Por uma janela entreaberta, duas moscas descobrem um sótão empoeirado, onde são surpreendidas pelos objetos que nele habitam – Balança, Caixa de Música, Cafeteira, Jarra e Microfone. Em modo de entrevista e de forma descontraída os protagonistas contam episódios da sua vida: como foi crescer, namorar, casar, trabalhar e até emigrar, num tempo em que a maneira de viver era diferente”.
Este é o resumo de uma pequena história contada na primeira pessoa e que foi realizada pel dupla Maria e Patrícia Gonçalves.
Uma das realizadoras é de Caminha e contou ao Jornal C como nasceu esta pequena aventura.
É formada em Belas Artes mas foi no cinema de animação que encontrou a sua grande paixão. Não foi amor à primeira vista, mas hoje sabe que é no cinema de animação que está o caminho que quer seguir, pelo menos por agora.
Joana Rodrigues é uma jovem de Moledo que em 2015 viu o seu primeiro e único filme de animação andar nas bocas do mundo. O documentário, ou curta-metragem, com pouco mais de 10 minutos e que resultou de um trabalho de final de Mestrado, já conquistou 15 prémios, em Portugal e no estrangeiro, entre os quais se contam o prémio Público Festival Cortex; o Cinanima, Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho; Melhor Curta de Animação e Melhor Realização no Ymotion – Concurso e Mostra de Cinema Jovem, em Famalicão, entre outros.
“Pronto era assim”, é uma curta-metragem que conta a história de seis idosos, 4 senhoras e um casal que, através de objetos, dão vida às suas experiências.
Uma balança, uma caixa de música, uma cafeteira e uma jarra, objetos esquecidos num qualquer sótão, são os protagonistas desta pequena grande história que chama a atenção para a problemática do abandono dos idosos e para a importância de partilhar experiências.
No Empreende + desta edição estivemos à conversa com uma das realizadoras, Joana Rodrigues que nos deu conta do seu percurso académico e profissional, até chegar ao cinema de animação.
Joana Rodrigues completou o ensino secundário em Caminha seguindo depois para as Caldas da Rainha onde tirou uma licenciatura em Artes Plásticas. Terminado o curso regressou a Caminha onde desenvolveu alguns projetos pessoais e deu aulas.
“Depois da experiência no ensino que sinceramente gostei muito, decidi que estava na hora de fazer mais qualquer coisa e então decidi tirar um Mestrado em Ilustração e Animação. Foi a partir daí que descobri que a minha paixão passava mesmo pelo cinema de animação”.
O documentário animado, executado em stop-motion e completado com animações 2D, foi um projeto que resultou do trabalho de final de Mestrado e a ideia surgiu, como conta a Joana, de numa conversa de café.
“Lembro-me que na altura estavam a sair muitas notícias sobre idosos que viviam sozinhos ou que eram abandonados e então eu e a Patrícia pensamos que seria interessante pegar no tema. Isso aconteceu numa mesa de café e resultou muito bem”.
Depois da ideia amadurecida, a dupla arrancou com o projeto que começou com conversas com os idosos que com elas foram partilhando algumas das suas experiências. O documentário demorou cerca de dois anos a terminar.
“O que nós fizemos foi pegar em algumas histórias de idosos que frequentavam um centro de dia e com quem fazíamos voluntariado, histórias muito interessantes mas que se encontravam arrumadas. O que fizemos depois foi pegar nessas histórias, trazê-las cá para fora e dar-lhes valor . O filme é narrado por esses idosos na primeira pessoa e cada um deles dá vida a um objeto. No fundo trata-se de uma narrativa na primeira pessoas de homens e mulheres que vão partilhando as suas histórias”.
A jovem realizadora não tem dúvidas do potencial que Portugal tem na área do cinema de animação e diz mesmo que há gente a fazer coisas muito interessantes nesta área. “A prova disso é que vemos constantemente portugueses a ganhar prémios nesta área o que é muito bom e motivo de orgulho”, salienta.
Atualmente a trabalhar na Casa da Animação no Porto, uma associação cultural que se dedica à promoção e desenvolvimento do cinema de animação, a jovem realizadora ainda arranja tempo para dar algumas horas de aulas durante a semana, até porque partilhar conhecimento é algo que lhe agrada bastante.
Depois do sucesso alcançado com este primeiro trabalho, a dupla já começa a pensar noutros projetos mas por enquanto são só ideias que precisam de ser amadurecidas.
Mas uma coisa é certa o cinema de animação é para continuar, apesar dos poucos apoios que são dados nesta área, algo que Joana lamenta.
O “Pronto era assim” por enquanto ainda não está disponível, já passou na RTP em dezembro, mas terá que ser a RTP a disponibilizá-lo uma vez que toda a produção foi feita na Academia RTP e é ela que tem os direitos.
“Talvez um dia a RTP o disponibilize…”.
Enquanto isso não acontece é possível espreitar o making off disponível na net.
Tempo, gosto, paciência, disponibilidade e algum dinheiro são alguns dos “ingredientes” necessários para a produção de um filme de animação.
Quanto à dupla de realizadoras, que sabe se um dia destes não voltam a ser notícia. Joana confessa que gostava de produzir algo ligado a sua terra, Caminha ou Moledo. Ideias não lhe faltam, “quem sabe se um dia isso não acontece”, remata.