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Quinta-feira, 13 Fevereiro, 2025
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Ponte Eiffel do rio Âncora (1878-2022): “Ressuscita” na Póvoa de Lanhoso, após várias décadas de abandono

A velha e primitiva Ponte de Gustave Eiffel, que realizava a travessia ferroviária do rio Âncora, em Caminha – Linha do Minho – inaugurada a 1 de julho de 1878, parece ressuscitar na vontade dos homens. No último quartel do século XX (1989), a Obra de Arte foi substituída pela CP-Comboios de Portugal, por uma nova infraestrutura, mais capaz de responder aos novos paradigmas de carga e velocidade que se impunham na ferrovia. Desde então, a Ponte de Gustave Eiffel passou uma boa temporada depositada nas margens do rio Âncora (cerca de quatro anos). Naquele tempo a autarquia de Caminha manifestou a sua vontade em reabilitar e valorizar a velha Ponte Eiffel, mas, entre burocracias e a falta de verbas, tudo não passou das ideias. Até que, uma alma sensível, que trabalhava no projeto da Mata Nacional da Gelfa se apercebeu da velha Ponte Eiffel abandonada, reconhecendo-lhe o seu valor como património cultural. Tratou-se do arquiteto paisagista, Manuel Sousa, que em 1993, por coincidência, acabaria por integrar o executivo da Câmara da Póvoa de Lanhoso e, com ele, levara no espírito a inquietude de ver uma das Obras de Arte de Gustave Eiffel desprezada pelas várias entidades envolvidas. O arquiteto Manuel Sousa sabia ser possível readaptar a velha Ponte de Oitocentos na travessia do rio Ave, substituindo uma velha Ponte em alvenaria, conhecida como “Ponte de Nasceiros”, entre as freguesias de Garfe e São Martinho do Campo, dado que a mesma apresentava sérios riscos de colapso. Numa grande operação de logística, a Ponte Eiffel do rio Âncora foi cuidadosamente desmontada e transportada por oito camiões do Regimento de Engenharia n.º 3 de Espinho até ao seu novo destino, em terras de Lanhoso. Porém, no verão de 1993, Manuel Sousa decidiu abandonar o cargo de adjunto do presidente da Câmara, e a Ponte de Eiffel caiu novamente nas calendas gregas, ou seja, no esquecimento. Desde então, a velha Obra de Arte de Eiffel passou cerca de uma década ostracizada nas margens do rio Ave, tendo até desaparecido partes dela. Em 2006, com a mudança de executivo, tudo parecia prenunciar que a velha travessia ia ser realmente readaptada, substituindo a Ponte de Nasceiros. Foi por essa altura e por essa razão que a Ponte Eiffel foi deslocalizada para o estaleiro de uma empresa que fabrica candeeiros de iluminação pública – a DAEL – na freguesia de Covelas, concelho da Póvoa de Lanhoso. Todavia, por falta de verbas esse projeto nunca avançou. Em 2009, a Ponte em alvenaria de Nasceiros acabaria por ser reabilitada, pelo que a Ponte de ferro pudlado de Gustave Eiffel, que parecia refletir a luz dos holofotes do palco da esperança, ficaria mais uma vez no breu do esquecimento, a definhar ao sabor da natureza que a foi abraçando com ervas e arbustos. Em 2021, o então autarca de Âncora, António Brás, em colaboração com o presidente da Associação Portuguesa para o Património Industrial, o professor Dr. José Manuel Lopes Cordeiro, e Rui Maia, investigador em património industrial, promoveram o primeiro debate sobre a emergência de dar um futuro à velha Ponte de Gustave Eiffel, que decorreu na Sociedade de Instrução e Recreio Ancorense. Até ao momento tem-se travado uma luta pela conservação e valorização dessa peça de Arte da “arquitetura do ferro”. Em Portugal, poucas Pontes restam de Oitocentos, grosso modo, as que estão associadas à expansão da nossa rede ferroviária. Por esse motivo, mais do que nunca, urge levar por diante essa grande empreitada de reabilitação da velha Ponte ferroviária do Âncora, para que possa ser fruída como património industrial – cultural.

Na última Assembleia Municipal, na Póvoa de Lanhoso (a 6 de junho), o deputado do CDS-PP, Pedro Afonso, levantou a velha questão sobre a Ponte de Gustave Eiffel, vincando o seu valor histórico e patrimonial, evocando a premência da sua requalificação, bem como o seu potencial de atratividade turística. Após ter sido interpelado nesse sentido, o presidente do executivo, Frederico Castro, alegou que a sua equipa tem diligenciado no sentido de dar um destino digno à velha Obra de Eiffel, tendo inclusive um orçamento em mãos, no valor de 900 mil euros, relativo à requalificação e instalação da velha Ponte Eiffel. Ao que tudo indica, requalificar a Ponte Eiffel e instalar a mesma em local adequado torna-se bastante oneroso. Assim sendo, a intenção desta crónica é que essa Obra de Arte não desapareça, não importando se ela deve voltar ao seu local primitivo, ou se deve permanecer na autarquia que a “acolheu”. Resta lançar o repto a todas as entidades públicas e privadas para que colaborem com a autarquia da Póvoa de Lanhoso, no sentido de levar por diante o trabalho de recuperação da Ponte Eiffel, agremiando-se à causa, quer seja através de obras de mecenato ou outras formas de auxílio. O resultado final vai enriquecer sobremaneira o nosso património industrial – cultural, possibilitando alavancar o turismo na região. A Ponte Eiffel do rio Âncora vai ser sempre a Ponte Eiffel do rio Âncora, esteja onde estiver. Este mês celebrou 144 anos desde a sua fundação, pelo que queremos que celebre muitos mais ao serviço da História de Portugal, das gerações presentes e vindouras. O mesmo não podemos evocar quanto a outras Pontes de Gustave Eiffel no Noroeste português, como o caso da travessia ferroviária do rio Cávado, em Barcelos, ou a travessia ferroviária do rio Neiva, ambas na Linha do Minho, e que tiveram como destino a sucata!

Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia

Licenciado em História, Mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.

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