Impulsionada pela forte corrente artística que se gerou em Vila Nova de Cerveira, desde a chegada das bienais em 1978, nasceu, há cerca de dois anos, a Incubadora de Indústrias Criativas Bienal de Cerveira (IICBC), um centro de acolhimento de novas empresas vocacionadas para a área artística e cultural que promete, em breve, dar ainda mais apoio aos jovens.
A ideia surgiu, há já alguns anos, durante uma conferência organizada pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), em que os promotores das bienais participaram apresentando um projeto para “um ninho de empresas” na área da Cultura. Por falta de financiamento a iniciativa permaneceu durante algum tempo “em banho-maria”, até que em 2012 encontrou todas as condições necessárias para avançar e abriu portas em espaço próprio.
A incubadora funciona em instalações contíguas ao Fórum Cultural de Cerveira e integra oficinas, gabinetes, um openspace, uma sala de reuniões/formação, um auditório/espaço expositivo e a loja Bienal de Cerveira. Até hoje recebeu 14 projetos e 25 promotores, albergando atualmente quatro projetos e seis empreendedores.
Até 14 de Março, decorre uma terceira convocatória do Concurso para Seleção de Ideias e Projetos para Pré-incubação, cujo público-alvo são “empreendedores que pretendam iniciar ou desenvolver projetos na área das indústrias criativas, em formato presencial, com duração de 6 meses”.
No caso da empresa já se encontrar constituída e o projeto consolidado, a IICBC promove, ainda, mediante candidatura espontânea, a tipologia de Incubação, que diz respeito a projetos consolidados e com empresa constituída, com duração máxima de 3 anos, onde é disponibilizada uma área variável, entre os 22m2.
“Passaram por aqui projetos muito interessantes, como um projeto de cinema de animação e atualmente temos cá um rapaz que está a fazer um programa para a construção de quartos na Natureza”, comenta Henrique Silva, que acompanha, como vice-presidente da Fundação Bienal de Vila Nova de Cerveira, a atividade da incubadora desde Novembro do ano passado e defende desde já a introdução de algumas alterações ao seu modelo de funcionamento.
“Para o futuro estamos a pensar remodelar o sistema, porque um jovem que vem cá passar seis meses para preparar a sua empresa, vai ter de se inscrever na Segurança Social, pagar impostos, água e luz, renda, tem um encargo fixo muito elevado para arrancar com o projeto. Parece-nos que isso tem limitado a acessibilidade aos jovens”, afirma aquele responsável, referindo que a ideia é passar a conceder “maior apoio financeiro, técnico e logístico. Em termos produtivos não têm tido muito apoio e para produzirem alguma coisa precisam de mais. Agora com esta nova direção vamos estudar isso”, conclui.
Bienal quer promover “a fusão das culturas erudita e popular”
Henrique Silva é um dos fundadores das bienais de arte que nasceram em Vila Nova de Cerveira com o beneplácito do primeiro presidente de câmara local, pós 25 de Abril, Lemos Costa.
“Ele queria dinamizar a terra, apareceu na nossa galeria, a do Jaime Isidoro, a propôr fazer uma exposição em Cerveira. Ofereceu o pavilhão gimnodesportivo, que era enorme, e o Jaime Isidoro disse: vamos fazer uma exposição, vamos é fazer uma bienal porque temos espaço para isso”, conta.
E assim nasceu a, hoje, mais antiga bienal do país, inspirada também nos Encontros de Arte, que já se faziam alternadamente em diferentes vilas e cidades do país.
“A partir daí esses encontros passaram a realizar-se de dois em dois anos em Cerveira, com duas interrupções, uma à quinta edição, ressurgindo depois com a ARCA (Associação Regional de Arte e Cultura), na altura com o Calvet Magalhães, o escultor José Rodrigues e outros mas que acabou passado dois ou três anos. Entretanto, aconteceu uma mudança política, tomou posse o José Manuel Carpinteira, que quis retomar as bienais e chamou-nos a mim e ao Jaime Isidoro para as refazer”, recorda.
A bienal viria a ser interrompida nos anos 90 mais uma vez, devido a problemas de índole financeira que a autarquia atravessava, e regressou à 8ª edição, aí já com Henrique Silva a liderar o evento através da associação Projeto. E nunca mais deixou de se realizar até hoje.
“Aí nunca mais parou e vai fazer-se a 18ª edição no próximo ano”, refere o artista, anunciando que numa próxima edição, o evento irá procurar promover “a fusão das culturas erudita e popular e uma maior integração das gentes da terra”.
“O que se tem feito cá é virado para um público muito erudito e a população em geral tem dificuldade no acesso. Nós temos em vista algumas medidas para aproximar as duas áreas, os profissionais e os que são da terra. Temos um projeto para tentarmos fazer um levantamento das profissões e tradicões, dos saberes das populações, e por os artistas a trabalhar com eles, com esses artesão, numa proposta mais contemporânea”, explica o vice-presidente da Fundação Bienal de Cerveira, referindo que será uma iniciativa a desenvolver “durante quatro anos”.