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Fernando Pimenta leva Alto Minho ao pódio dos Jogos Olímpicos

 

Estuda para assegurar o futuro, porque a canoagem ainda é uma modalidade amadora em Portugal, mas a Fernando Pimenta já ninguém lhe tira a medalha de prata conquistada nos Jogos Olímpicos de Londres. Juntamente com o também minhoto Emanuel Silva, Pimenta conseguiu o melhor resultado de sempre alcançado pelos portugueses em K2 nos 1000 metros. Com os olhos postos já nas próximas olimpíadas, o jovem de Ponte de Lima, que foi parar à canoagem por acaso, promete lutar agora pelo ouro, que lhe escapou por milésimos de segundo.

“Já trinquei esta medalha três ou quatro vezes. Isto, sem contar com os beijos que o pessoal pede para lhe dar, o que é sempre bom para as pessoas sentirem o peso e a importância que também têm nesta medalha”.

As palavras são de Fernando Pimenta, o canoísta do Clube Náutico de Ponte de Lima que, juntamente com o bracarense Emanuel Silva, conquistou medalha de prata nos últimos Jogos Olímpicos de Londres na prova de K2 1000 metros de canoagem. A dupla portuguesa, que fez a prova num tempo de 3.09,699 minutos, foi apenas batida pela dupla húngara, que conquistou o ouro por uma unha negra, com o tempo de 3.09,646.

O “trincador” de medalhas fez-se canoísta por acaso nas águas do rio Lima. Sem família ligada aos desportos náuticos, Fernando Pimenta, hoje com 23 anos acabadinhos de fazer, era em 2001 um rapaz de 11 da aldeia da Ribeira que ocupava os dias grandes das férias de Verão nas águas frescas do rio Lima. Fez natação, mas, da margem esquerda, olhava com cobiça para as canoas que rasgavam as águas.

“Foi através da ocupação dos tempos livres, nas férias desportivas promovidas pela Câmara Municipal e pelo Clube Náutico, que descobri a canoagem. Comecei aos poucos, mas depois fui convidado para ficar na competição de Inverno e assim começou a criar-se um gosto, também graças ao espírito de equipa”, conta Pimenta. Nos primeiros tempos, e graças à sua descoordenação motora – “virava a canoa muitas vezes” – , muitos eram os que não davam nada por ele, mas o treinador de sempre, Hélio Lucas, não desistiu da aposta e, dois anos depois, Pimenta conquistava o primeiro título nacional.

Em 2005, “a primeira medalha e a primeira participação na selecção”. A partir daí, os títulos foram-se somando, numa carreira recheada de sucessos que faz qualquer canoísta de outros países, onde a modalidade é profissional, roer-se de inveja pelo palmarés deste amador da canoagem, que pratica a modalidade no clube de sempre: o Náutico de Ponte de Lima.

“Já fui vicecampeão do mundo de maratona e de velocidade, já consegui quatro títulos de campeão da Europa. Já tenho três de vice-campeão da Europa. Tenho um terceiro lugar de campeão do mundo. Tenho algumas medalhas”, confessou o medalhado olímpico ao jornal Caminhense.

Além de um dos atletas mais medalhados, o jovem canoísta faz questão de ser um porta-estandarte de uma região muitas vezes esquecida. Em terras de sua majestade, nos Jogos Olímpicos, o atleta do Alto Minho fez questão de gritar aos quatro ventos a sua origem: Ponte de Lima, distrito de Viana do Castelo, para “mostrar ao mundo que aqui também há bons atletas e existe desporto”.

“Estamos num cantinho de Portugal e da Europa e, muitas vezes, nem nos conhecem. Sabem que existe Portugal, mas para eles o país é apenas Lisboa. Quando participo em provas no estrangeiro, faço sempre questão de dizer de onde sou, porque quem não conhece vai procurar conhecer”.

Para que isso aconteça, para que consiga apurar-se para as grandes competições e ganhar provas e medalhas, Fernando Pimenta – recordo que tem apenas 23 anos acabados de celebrar – leva uma vida quase monástica: nada de saídas nocturnas, nada de copos e muito menos jantaradas pela noite fora. Nada de petiscos – as batatas fritas de que tanto gosta são alimento proibido.

“Tenho de descansar, pelo menos, oito a 10 horas. Tenho de ter cuidado com a alimentação. Tenho de ter cuidado com muita coisa, porque não posso facilitar, visto que compito com os melhores atletas da modalidade”. Por isso, “tenho de ter regras e muita disciplina. Não me posso esforçar muito quando há um objectivo. Por exemplo, se quero ir ao mundial, não posso andar em palestras, passeios, convívios, porque estou a desperdiçar muito tempo que me é necessário para descansar, para no dia seguinte estar em forma para realizar o treino”.

Estudante universitário – está em Reabilitação Psicomotora na Universidade Fernando Pessoa – Pimenta vê-se também afastado da vida académica. Algo que não o incomoda.

“Para mim é uma situação fácil de gerir porque neste momento estou a realizar um sonho de há muito tempo”.

A medalha de prata conquistada nos Jogos Olímpicos de Londres vai agora para a caixa onde guarda todas as outras medalhas que tem conquistado e os festejos e as jantaradas de Verão vão ter de esperar, porque dentro de semanas vai disputar o campeonato nacional de maratonas, onde vai defrontar Emanuel Silva, o companheiro com quem chegou ao pódio.

“Fiz a prova toda (K2 1000 metros) sem ter a noção do lugar em que íamos, sem saber como iam as outras embarcações. Foi só olhar para a meta e aplicar a máxima força no final e chegar o mais rápido possível”, admitiu. Perderam o primeiro lugar por, apenas, milésimos de segundo. Teimoso ou “persistente”, como prefere, Pimenta promete não deixar escapar o ouro daqui a quatro anos, nas próximas olimpíadas: “ se não consigo uma coisa à primeira, tenho de a conseguir à segunda”. “Tenho sempre o objectivo de querer melhor de dia para dia”.

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