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“Descansa a Sacola” – Um espaço de aprendizagem e afetos

Há dez anos, então com 49, decidiu mudar radicalmente a sua vida profissional e abrir, em sociedade com uma amiga, um ATL para crianças e jovens na cidade de Viana do Castelo.

Trabalhadora desde os 19 anos e mãe de dois filhos, Branca Carvalho sentiu na pele a dificuldade em encontrar na cidade um local onde sentisse que os seus filhos podiam ficar em segurança e felizes enquanto ela exercia a sua profissão. E isso foi uma coisa que sempre lhe ficou na cabeça.

Ao fim de 30 anos de atividade, esta mulher do Porto, que cedo se mudou para Viana do Castelo, decidiu alterar tudo na sua vida profissional e embarcar numa nova aventura: Criar o tal espaço de sonho onde as crianças, depois das aulas e da sua atividade curricular pudessem esperar pelos pais num ambiente descontraído, com muita brincadeira e atividades onde pudessem dar largas à sua criatividade e imaginação.

É assim que nasce o “Descansa a Sacola”, um espaço autónomo, multifacetado que tinha como grande objetivo dar o que a escola não dava.

“Desafiei na altura uma colega minha para em conjunto fazermos uma sociedade e abrirmos um centro de atividades de tempos livres. No início devo dizer-lhe que tínhamos uma noção diferente do espaço e daquilo que queríamos fazer dele muito mais ambiciosa do que é atualmente. Acho que na altura sonhamos um pouco de mais”.

A ideia era criar um espaço onde as crianças pudessem fundamentalmente brincar e fazer aquilo que não faziam na escola. Criar pequenas oficinas onde pudessem praticar trabalhos manuais, pintura, poesia, música, expressão dramática, inglês, etc.

“Esse era o nosso sonho inicial, proporcionar experiências diferentes às crianças e o apoio ao estudo seria apenas complementar e de uma forma muito aberta e muito pedagógica”, explica.

Mas o objetivo inicial depressa cedeu à pressão dos pais que queriam algo mais do “Descansa a Sacola”.

“Ao longo dos anos fomos sendo confrontados com uma pressão enorme por parte dos pais que queriam que as crianças aqui fizessem os trabalhos de casa, estudassem e se preparassem para as provas. Ora isso foi um corte radical na ambição de utilizarmos o espaço como um projeto pedagógico diferente”, conta.

Crítica do modelo pedagógico seguido pelo sistema de ensino português, Branca Carvalho aponta o dedo às escolas e professores a quem acusa de massacrarem diariamente as crianças “com fichas e fichas” para fazer em casa.

“As crianças precisam de brincar e por isso é que nós muitas vezes pedimos aos pais para que as deixem ficar um pouco mais para que elas tenham essa oportunidade. Para poderem brincar, saltar à corda, fazer jogos, saltar e interagir com as outras crianças. Temos pais que entendem isso mas outros não.”

Contrariando um pouco o espírito inicial do projeto e privilegiando neste momento o apoio ao estudo, o “Descansa a Sacola” não desistiu contudo das suas oficinas, que vai mantendo embora com menos frequência.

“Optamos por reduzir o número de horas. Por exemplo a oficina da palavra passou de uma vez por semana para uma vez por mês, o mesmo acontecendo com a de artes e a da culinária que era de quinze em quinze dias, passou também para mensal. No fundo tivemos que nos adaptar em função da pressão dos pais”, explica.

Aberto das 8 da manhã às 8 da noite o “Descansa a Sacola” não funciona apenas no período de aulas. Nas férias também está aberto com inúmeras atividades que privilegiam, sempre que possível, o contato com o exterior.

“Sempre que possível saímos com as crianças. De manhã vamos à praia e à tarde fazemos visitas de aprendizagem em Viana e noutros locais. Já fomos a Aveiro, Vila do Conde, Cerveira, Arcos, Ponte de Lima, etc. Já visitamos o Pavilhão do Conhecimento, da Água, o Sealife quando abriu, às vezes vamos ao cinema, a Santa Luzia, enfim procuramos fazer programas o mais diversificados possível e sempre que possível fora das quatro paredes do centro. Quando não saímos por qualquer razão, fazemos atividades no ATL como a caça ao tesouro, ateliers de culinária, etc.”

Procurar fazer sempre coisas novas e diferentes e que o programa das férias não se repita de uns anos para os outros é uma das preocupações da equipa do “Descansa a Sacola”.

“Temos crianças que nas férias vêm durante anos seguidos e por isso procuramos fazer coisas diferentes de uns anos para os outros. Normalmente fazemos um plano para esse período que às vezes é alterado desde que todos estejam de acordo. Procuramos que elas se divirtam sem grandes cargas, fazendo uma ficha ou outra de vez e quando só para não se esquecerem da matéria. É um período muito animado durante o qual as crianças se divertem muito”.

Ao fi m de quase 10 anos de atividade e mesmo vendo o seu projeto um pouco desvirtuado daquilo que era o sonho inicial, Branca Carvalho não se arrepende da sua decisão. Apesar de ainda não ter recuperado todo o capital que investiu, há uma coisa que já ninguém lhe tira: “os laços e os afetos que foi criando com os seus meninos ao longo dos anos”. E isso, garante, “vale mais do que tudo…”.

O balanço é portanto muito positivo, assegura.

“Do ponto de vista económico é um desastre. Nós investimos muito dinheiro no espaço. Tivemos que fazer obras para recuperar o edifício que era uma casa de habitação e isso custou-nos um grande investimento que ainda não conseguimos recuperar. Os nossos salários posso dizer-lhe que são muito modestos e trabalhamos muitas horas por dia porque temos a noção que é preciso dar resposta a muitas coisas”, explica.

Mas se o balanço económico “não é nada de especial” o mesmo já não se pode dizer em relação à grata experiência que tem sido trabalhar, ao longo de 10 anos, com as muitas crianças e jovens que já passaram pelo centro.

“Nós gostamos muito daquilo que fazemos. Trabalhar com crianças e ter aberto este espaço foi a melhor coisa que me podia ter acontecido na vida. Tenho aprendido muito com as crianças que por aqui têm passado. Com as suas vivencias, às vezes com o seu sofrimento, as suas dificuldades e a forma como as podemos ajudar no seu relacionamento com os outros, quer sejam colegas ou até com os pais. Isto é uma experiência de vida, é uma lição diária”, sublinha.

Mulher de desafios, Branca Carvalho abraçou há 3 anos um outro projeto: frequentar o curso de educadora de infância da Escola Superior de Educação de Viana do Castelo. Não leva vantagem na idade já que é das alunas mais velhas a frequentar o curso, mas toma a dianteira na experiência de lidar com os mais novos. E é por isso que se diz muitas vezes “surpreendida e até um pouco chocada” pela forma como alguns colegas, mais novos, lidam com as crianças e o seu mundo.

“Eu entrei tarde no ensino superior mas aprendi muito com a minha experiência e fico impressionada como e que às vezes há tanta falta de sensibilidade em relação a este mundo que são as crianças”.

Por tudo isto Branca Carvalho não tem dúvidas que valeu a pena mudar aos 49 anos.

“Tem sido uma experiência gratifi cante, gosto muito dos meus meninos, como se fossem meus fi lhos. Conheço-os a todos, sei o nome de todos, de onde vêm, a particularidade de cada um, o que gostam e o que não gostam”.

O “Descansa a Sacola” está instalado em pleno centro da cidade de Viana do Castelo, na Rua General Luís do Rego. Funciona diariamente das 8 da manhã às 8 da noite e proporciona uma série de serviços: Desde levar as crianças à escola e às atividades extra-ATL, apoiar no estudo e proporcionar uma série de oficinas temáticas, o “Descansa a Sacola” organiza ainda festas de aniversário, explicações e ainda um serviço de babysitting.

“Somos uma casa de apoio naquilo que os pais necessitam, por vezes somos a sua retaguarda quando a família não pode apoiar”, remata.

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