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Terça-feira, 16 Abril, 2024
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Caminha: Faleceu ex-presidente da Câmara de Caminha Valdemar Patrício

Faleceu hoje, aos 67 anos, vítima de doença súbita, o ex-presidente da Câmara de Caminha, Valdemar Patrício.

Segundo o Jornal C conseguiu apurar, o ex-autarca encontrava-se de férias no sul de Espanha quando foi acometido de doença súbita.

Eleito pelo Partido Socialista, pela primeira vez em 12 de Dezembro de 1993, Valdemar Patrício exerceu o cargo de presidente da Câmara de Caminha até 2001.

Nas primeiras eleições, o candidato socialista venceu por 201 votos elegendo 4 vereadores contra 3 do PSD.

valdemar patricio fotoTomou posse a 3 de Janeiro de 1994 numa cerimónia da Assembleia Municipal presidida por António Bernardo, substituindo assim José Joaquim Pita Guerreiro, no poder há 17 anos (desde 1976).

No discurso de tomada de posse, Valdemar Patrício salientava a necessidade de “unir os caminhenses independentemente do seu voto no passado”, garantindo que não pretendia marginalizar ninguém.

“Caminha tem condições para vencer a batalha do progresso e do desenvolvimento, e aos caminhenses exige-se-lhes que acreditem nessa possibilidade. Contamos com o seu trabalho, a sua inteligência e a sua vontade e empenhamento para que todos nós e eles – possamos fazer de Caminha um concelho mais próspero, mais justo e mais feliz. A tarefa que temos pela frente valerá a pena mas, é de todos e não apenas da Câmara. O presente e o futuro de Caminha depende directamente de cada um de nós.” (…)

“Relativamente ao nosso concelho, iniciar-se-á uma nova era quiçá transcendental, da nossa ainda breve mas já rica história do poder local democrático iniciado no 25 de Abril”,  disse Valdemar Patrício no discurso de tomada de posse (em 1993).


Recorde aqui uma das entrevistas concedidas pelo ex-presidente da Câmara de Caminha ao Jornal C – O Caminhense, em Abril de 2013, aquando das celebrações da semana do poder local em Caminha em que o Jornal C entrevistou os ex-presidentes da Câmara Municipal de Caminha, Pita Guerreiro, Valdemar Patrício e Júlia Paula Costa.

“Senti muita alegria e uma enorme responsabilidade: era presidente da Câmara de Caminha”

De estudante revolucionário a autarca. Valdemar Patrício, o terceiro presidente da Câmara de Caminha após a revolução de 1974, assumiu a presidencia após o longo mandato de Pita Guerreiro, depois de ter vivido umas das mais disputadas eleições no concelho no pós 25 de Abril.

O meu maior medo era a reacção dos meus pais, não era a Pide. Aquele tinha sido um dia longo. Organizaram um encontro de coros na minha faculdade (faculdade de ciências da universidade do Porto) e atreveram-se a convidar África do Sul, a vergonha das sociedades decido àquele regime asqueroso do Aparteid. Manifestámo-nos, foi uma manifestação brutal no centro da cidade, e quando demos por ela estávamos encerrados na própria faculdade. A polícia cercou-nos, fechámo-nos na reitoria. Com aquela idade, é fácil de imaginar o que aconteceu: acabámos presos. Fomos transportados numa carrinha celular para os calabouços da polícia política. Aterrorizava-me mais a reacção dos meus pais do que a hipótese de vir a ser torturado. Fui apenas interrogado, dormi na prisão e no dia seguinte libertaram-me. Tive de compôr a história aos meus pais e dizer-lhes que não fui apanhado pela Pide, estava lá por acaso e não tive hipótese de fugir. Consegui disfarçar a história.

valdemar patricio 3Tinha 19 anos e, não sabia na altura, mas faltava cerca um ano para a revolução de Abril. No ar já se sentia o cheiro da revolta. Até eu já tinha o bichinho da política. Estava envolvido numa organização clandestina, a Luar. Havia um grupo de malta nova que via uma perspectiva de mudança através daqueles processos. Eu já tinha essa consciência anti-regime, já tinha lido muito, já tinha estado enfarinhado nessas clandestinidades da época. Ainda por cima, todos nós, com aquela idade, tinhamos uma espada de Damócles em cima de nós, que era a Guerra do Ultramar. Era também uma forma de combater a ida para a guerra. Aquela era uma época em que a revolução já palpitava.

O 25 de Abril de 74 apanhou-me no período em que estava a estudar engenharia civil no Porto. Nunca tive grande atracção pelo curso, fi-lo para agradar ao meu pai. Quando se deu a revolução, interrompi a formação e decidi abraçar o mundo do trabalho.

Comecei pela minha paixão: o desporto. Dei aulas de educação física, mas como não tinha formação na área, tive de desistir. Decidi segui as pegadas do meu pai e tentei a função pública. A primeira oportunidade que me surgiu foi no tribunal de Caminha, mas quando estava a fazer estágio, mas nessa altura soube da abertura de uma agência bancária em Caminha, Deixei o tribunal, mas não consegui a colocação no banco. Surgiu a última das oportunidades: a publicação em Diário da República de um concurso de admissão para pessoal das Finanças. Já estava casado e tinha uma filha. Agarrei aquela oportunidade com unhas e dentes. Fiquei bem classificado e progredi na carreira.

Estava nas Finanças quando surgiu o convite do então presidente da Câmara de Caminha, Pita Guerreirio, para integrar a sua equipa como vereador a tempo inteiro. Abandonei as Finanças e passei a dedicar-me à vida autárquica. Fiquei com os pelouros do Desporto, Educação e Cultura.

Num dia 24 de Abril à noite, e quando Pita Guerreiro anunciou que não se iria recandidatar, a concelhia do PS de Caminha escolheu-me como candidato à presidencia da Câmara.

Foram umas eleições durissimas. O opositor, candidato pelo PSD, era Abílio Silva, uma homem preparadíssimo, na altura deputado na Assembleia da República. Ganhámos por 200 votos.

Quando subi à varanda da Câmara de Caminha para agradecer a vitória senti muita alegria, mas também uma enorme responsabilidade: era presidente da Câmara de Caminha.

Durante os dois mandatos em que geri os destinos do concelho, apostei na continuação da construção das redes de água e saneamento básico, uma aposta de grande importância para a qualidade de vida da população.

As grandes obras do meu mandato têm a ver mais com questões de ordem educacional, cultural e desportiva: o pavilhão de Caminha; os colóquios na biblioteca de Caminha; a nova escola de Vila Praia de Âncora; o Centro de Saúde de Caminha.

Sinto que cumpri a minha missão. Mais não fizemos porque os meios de que dispunhamos não eram muitos.

Susana Ramos Martins

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