Mar Sonoro
Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
Sophia de Mello Breyner Andresen
O ferry elétrico do Dr. Miguel Alves, a ponte da oposição, um fim de semana perturbado pelo triatlo, a água mais cara 40%, o Sporting Clube Caminhense com 3 novas embarcações, licenças de pesca com novas regras, 7 praias com bandeira azul e a ínsua para brincar às escondidas. Já me esquecia: Vila Praia de Âncora viu-se florida.
Será talvez um problema do país ou dos socialistas que nos governam, com um Ministério da Economia e do Mar, outro diferente, da Agricultura e Alimentação onde ficam as Pescas (escondidas numa secretaria de estado) e outro ainda do Ambiente e Ação Climática.
Mas, seja por contágio ou miopia política, não deixa de espantar que um dos 2 concelhos do país que tem no seu território um estuário comum com Espanha, trate a água, o mar, o rio, as pescas, o turismo e o ambiente, caso a caso, com decisões ao sabor de opiniões, sem visão e sem estratégia.
O concelho de Caminha tem um território de 136,5 km2, o seu mar territorial mais de 153 km2 e a Zona Económica Exclusiva que corresponde aos 8 km de costa no concelho é de 2.560 km2. É dos maiores do país tirando as capitais de distrito e Lisboa.
A Capitania do Porto de Caminha é assim responsável por 75 km do Rio Minho e por 153 km2 de mar. Que meios tem para cumprir estas funções? O que faz a Câmara municipal para que lhe sejam dados os meios que necessita? Caminha junto com La Guardia, tem para gerir 1 dos 2 estuários com menor densidade populacional da península ibérica. E nenhum dos 2 considera e trata a água, o mar, o rio com a importância que merecem. La Guardia tem uma Alcaldia ingovernável, Caminha com maiorias absolutas, não tem desculpa. La Guardia tem pouco mais de metade dos residentes de caminha e ¼ do território. Caminha tem que liderar! Caminha tem 3 anos para pensar e definir uma Visão, uma Missão, uma Estratégia e Fatores Críticos de Sucesso. Isto porque, nas mãos da atual gestão municipal, nada mais se pode esperar do que decisões avulsas, o mantra das supostas contas certas, à custa dos munícipes e que, só mais tarde se verá se o são ou não, eventos publicitários sem coerência nem impacto, adjudicações diretas sem controlo nem informação detalhada, que enchem páginas e páginas do site da câmara (só para cumprir a obrigação legal mínima).
Anuncia-se um parque industrial em Vilar de Mouros quando nem o festival emblemático se consegue manter e quando nos concelhos limítrofes as empresas industriais têm espaço de sobra e o desemprego aumenta, porque as fábricas não têm encomendas.
Anuncia-se ainda uma Incubadora de empresas em Argela, como se as 4 paredes de um edifício criassem alguma dinâmica empresarial além do valor das obras para a construtora e, para empregar mais 1 ou 2 funcionários na câmara.
O concelho de Caminha é Água e, só quando tal for assumido na visão que os habitantes do concelho partilham e quem a gere prioriza e respeita, pode a nossa terra ter futuro, atrair gente, que trabalhe, viva, consuma e pague impostos e assim gerar mais riqueza e ter mais fundos para se desenvolver, na economia, na saúde e na educação e na responsabilidade social.
De Lanhelas ao farol da Gelfa, da Ínsua à Arga de Cima, o concelho de Caminha é Água. Esta tem que ser protegida, preservada e aproveitada. Explorada com cuidados de sustentabilidade e renovação dos recursos associados.
Desde as nascentes nas Argas que têm que ser limpas e protegidas, ao estuário navegável do Minho, com uma reavaliação cuidada das dragagens exigidas pelo ferry, como na urgente preservação dos juncais e caniçais do Coura e do Âncora, a Água tem que estar no centro da Visão, da Missão e da estratégia de Caminha, para os Caminhenses.
Camposancos, 20 de Maio de 2022