Situada entre duas vias fluviais – Lima e Minho – e estendendo-se, sensivelmente, na direção norte sul, a serra d’Arga constitui a espinha dorsal de uma região que divide quatro concelhos: Viana do Castelo; Caminha, Cerveira e Ponte de Lima, e confere um caráter especial às freguesias que, no decorrer dos tempos, se foram incrustando nas suas faldas.
Nos píncaros da serra, hoje de acesso mais facilitado, podem-se admirar algumas das melhores paisagens do Alto Minho.
Para sul é possível vislumbrar toda a ribeira Lima e para oeste, o mar, o rio Minho, o rio Coura e a vizinha Galiza.
O nome ARGA, que se saiba, remonta, pelo menos, ao séc. XI, conforme o documento de doação do Couto de Vilar de Mouros, por parte do rei D.Garcia, ao bispo D. Gregório de Tui, no qual se refere, como um dos limites do Couto, o monte de ARGA.
Além das três freguesias que tomaram o nome da serra – Arga de Cima Arga de Baixo e Arga de S. João – outras povoações se foram encostando à volta, todas elas com modos de vida, formas de cultura, tradições e costumes muito semelhantes. Montaria, Dem, Gondar, S. Pedro d’Arcos, Estorãos, Cabração, Covas, Vilar de Mouros e Argela, são alguns exemplos.
Antes da reflorestação da serra, a sua maior riqueza advinha-lhe, em grande parte, dos rebanhos de ovelhas e cabras que deram origem ao famoso petisco que figura nas ementas dos restaurantes da região.
A serra é também rica em animais selvagens: coelhos, perdizes, javalis, raposas, lobos, etc. Em tempos mais antigos também por ali se viam veados.
Consideradas como as mais puras do Alto Minho, as águas são outro fator de atração. Noutros tempos as águas que corriam serra abaixo faziam mover inúmeros moinhos, muitos deles já desaparecidos.
Eram, geralmente, construções muito toscas, com uma portinhola baixa e estreita com cobertura de palha. Alguns encontram-se ainda a laborar e podem ser visitados.
Repleta de tradições e com uma cultura popular riquíssima, na serra d’Arga existiram cesteiros, carpinteiros, tecedeiras, executores de jugos e cangas, de teares e carros de bois, bordadeiras e rendeiras. A maior parte destas atividades foi-se perdendo com o passar dos anos sendo que a tecelagem é uma das poucas que ainda hoje perdura, embora em número muito reduzido.
A matança do porco constitui uma festa familiar para as gentes da serra e embora as novas leis proíbam esta prática, as gentes da serra continuam a matar o porco. Com as carnes do animal, alimentado durante meses com o que melhor dá aterra, fazem-se os enchidos que por aquelas bandas são famosos.
Mas os produtos tradicionais da serra d’Arga não se ficam pelos enchidos: o queijo, o mel, a broa e o famoso cabrito, são um bom pretexto para subir a serra.
Se a isto juntarmos o riquíssimo património natural e arquitetônico, as tradições das festas e romarias, como é o caso do São João d’Arga, as danças e cantares da Serra e as suas lendas, não temos dúvidas em afirmar que é pecado não conhecer este “Monte Melúdio” onde romanos e galaicos se enfrentaram ou Monte Sagrado”, refugio de montes e ermitãs, santos e ladrões que aqui tomaram refúgio.
Subir à serra é hoje uma tarefa fácil. A estrada, que a percorre e atravessa as aldeias que a compõem, veio facilitar a vida a quem se atreve a uma vista por estas paragens. Mas penetrar no “coração” da serra, por trilhos onde muito poucos se atrevem a ir, e onde se vislumbram paisagens de cortar a respiração, isso já não é para qualquer um. Aliás, para percorrer a serra há que conhecer bem os caminhos, muitos deles apenas percorridos pelos pastores e seus animais, ou pelos caçadores em época de caça.
O Terra Rio e Mar desta semana propõem-lhe uma visita de jipe a este verdadeiro museu ao ar livre onde a beleza, as lendas e histórias antigas, fazem do local um admirável espaço cultural onde a natureza dita as regras.
Vamos subir a bordo de um dos jipes da Caminha 4×4, uma jovem empresa a operar no concelho de Caminha desde outubro de 2015.
Mas vamos à história da Caminha 4×4 que, embora, recente, tem algo para dizer.
A ideia partiu de um casal que, cansado da vida agitada da capital, decidiu largar tudo e rumar ao norte, mais concretamente ao concelho de Caminha.
Não vieram às cegas, já conheciam o local, destino de eleição de férias durante quase toda a vida.
Com Caminha no coração e a cabeça a fervilhar de ideias, Bruno Correia e Rute Guerreiro largaram os respetivos empregos, ela na área do marketing e ele na propaganda médica, e para aqui virem de armas e bagagens para dar corpo ao seu projeto ligado ao turismo.
À beleza e potencial da região, juntaram o gosto que nutrem pela natureza e pela vivência simples das gentes da aldeia.
Tudo isto levou-os a avançar, em novembro de 2015, com um projeto que, em Caminha, se revelou inovador já que este tipo de oferta até então não existia.
Os últimos seis meses foram divididos entre a organização burocrática da empresa e a preparação dos trilhos que a Caminha 4×4 tem para oferecer aos clientes.
Mas o que leva um jovem casal a trocar a vida da cidade pela pacatez da aldeia? Foi o que fomos procurar saber junto do Bruno e da Rute.
“Nós somos de Lisboa mas há muitos anos que as férias eram passadas em Caminha onde temos uma casa. Como sempre fomos apaixonados por esta terra, a determinada altura começamos a pensar seriamente na possibilidade de deixar Lisboa e, como não poderia deixar de ser, o sítio tinha que ser este, tinha que ser Caminha que adoramos. Quando pensamos no que fazer, começamos a pesquisar sobe o que faltava e surgiu a ideia de avançar com a ideia de mostrar Caminha de jipe”.
Os últimos 6 meses foram de preparação para que a partir de agora os que vivem ou visitam Caminha, possam ter uma perspectiva diferente daquele que é considerado um dos concelhos mais bonitos do Alto Minho.
“Há seis meses que estamos a conhecer bem a zona e a definir rotas e percursos que possam interessar às pessoas. Ao mesmo tempo estivemos a trabalhar e a criar a marca, a tirara as licenças necessárias , seguros e todos os aspetos burocráticos que são inevitáveis”.
Pronta para arrancar em força, a Caminha 4×4 dispõe de 3 percursos distintos que podem durar entre 3 a 4 horas. Mais do que um simples passeios de jipe, o que esta empresa propõe são experiências únicas onde a emoção é a palavra chave.
“Neste momento o que temos para proporcionar aos nossos clientes são 3 passeios diferentes: Vila, Serra e Praia.
Avistar animais selvagens, mergulhar em lagoas, visitar monumentos perdidos na serra, visitar velhos moinhos ou ainda vislumbrar de um miradouro as praias atlânticas, são apenas algumas das propostas incluídas nestes passeios que terminam sempre ao sabor da boa gastronomia local.
“O que nós queremos é que estes passeios não sirvam apenas para as pessoas contemplarem as vistas que são de facto maravilhosas. Queremos mais do que isso, queremos que estes passeios sejam também uma experiência e é por isso que convidamos as pessoas a provarem também a nossa gastronomia e a experimentarem alguns dos produtos endógenos desta região e que são muito bons. O objetivo é que as pessoas, principalmente as que não são de cá, sintam o que é viver em Caminha e como isso se possam também apaixonar por esta terra como aconteceu conosco”.
A ideia de ter uma empresa deste género a operar na zona caiu bem, principalmente junto dos operadores hoteleiros que vêm na Caminha 4×4 mais uma oferta que podem proporcionar aos seus clientes.
“A verdade é que têm achado muita piada ao projeto. O feedback da parte dos hotéis e restaurantes tem sido muito bom, de tal forma que até nos têm ajudado muito a divulgar e a publicitar os nossos passeios juntos dos sites e redes sociais. Relativamente às pessoas de Caminha temos alguns clientes que já estão fidelizados. Muitos deles experimentaram, alguns até repetiram e até já nos trouxeram novos clientes. Quando aqui chegamos alertaram-nos para o facto das pessoas, principalmente as da serra, serem um bocadinho fechadas mas sinceramente não notamos nada disso, as pessoas têm colaborado imenso conosco e não mostraram nenhum tipo de resistência. Até nos dão ideias”, confessa Rute.
Os percursos passa a passo
Guiados pelos Bruno, convidamos agora o leitor a conhecer um pouco melhor estes percursos. Se no final ficar curioso e cheio de vontade de experimentar, saiba que o pode fazer à distância de um clique. O número máximo de participantes é de 12, um número que pode ser alargado desde que solicitado com a devida antecedência de 15 dias.
Desde que iniciaram atividade, a Caminha 4×4 já organizou alguns passeios, entre os quais um passeio noturno que Bruno Correia faz questão, de destacar. O próximo evento será um SunSet que vai terminar na praia de Moledo.
Para além dos percursos já definidos, dos eventos como o passeio noturno ou o SunSet, a empresa também proporciona percursos personalizados.
De futuro outros percursos poderão surgir até porque a ideia é inovar. “É por isso que estamos sempre à procura de novos percursos. Outra das ideias que temos em mente é podermo-nos associar aos produtores locais para que nas pausas que fazemos para os piqueniques, podermos dar a provar os produtos da região,. Neste momento estamos a trabalhar nessas parcerias. Julgamos que não faz sentido estarmos a promover produtos de outras regiões quando sabemos que aqui se produzem produtos excelentes, embora tenhamos consciências que a nível turístico muitos deles ainda não são conhecidos. Vamos ver o que conseguimos, temos muito por onde crescer”.
Percurso Vila
Com início junto ao cais de embarque do Ferry Boat, a primeira paragem é junto ao centro histórico da vila onde os participantes são convidados a tomar um café e a degustar um Caminhense, um bolo típico de Caminha.
De seguida as pessoas são convidadas a subir à Torre do Relógio, um local com vistas privilegiadas sobre a vila Caminhense “e que dá uma perspectiva diferente da arquitetura e do próprio centro da Vila”, explica Bruno Correia.
Terminada a vista à torre do relógio o passeio continua com uma subida até à Capela de Santo Antão. “Aí fazemos uma nova paragem para visitar a capela e apreciar as vistas que neste ponto são deslumbrantes. Consegue ver-se toda a foz do rio Minho, a praia de Moledo e até Vila Praia de Âncora”.
O passeio continua sempre com magnificas paisagens, fora de estrada por caminhos de agricultores, até à Senhora das Neves em Dem.
“Chegados à Srª das Neves e depois de visitada a Capela, os participantes são convidados a degustar alguns dos produtos produzidos na região, num piquenique feito no parque de merendas. É que isto de andar na serra também abre o apetite”.
Retemperadas as forças com um saboroso queijo ou chouriço, acompanhado de broa caseira e depois da fotos da praxe, a viagem continua, desta vez até Vilar de Mouros.
“Descemos depois até à freguesia de Vilar de Mouros onde visitamos a velha ponte românica, as azenhas e o recinto do festival”.
O percurso Vila termina na praia de Moledo com um almoço ou com um lanche de fim de tarde dependendo se o passeio se realiza de manhã ou à tarde.
O passeio vila, que percorre uma média de 60 quilómetros, demora sem média 3 horas.
Percurso Serra
Com início junto ao cais de embarque do Ferry Boat, o percurso vai direto à freguesia de Argela, subindo depois por uma estrada “muito bonita” até à freguesia de Dem.
Neste ponto o jipe abandona a estrada de alcatrão e o percurso até à Srª do Minho faz-se por trilhos de terra onde é possível vislumbrar o rio Coura e o rio Minho, a vila de Caminha e o Monte de Santa Tecla.
Chegados à Srª do Minho e depois de visitada a capela, faz-se o tradicional piquenique e tiram-se as respetivas fotografias.
O passeio continua até à freguesia de Arga de Baixo, sempre por trilhos de montanha. “Durante este percurso é possível avistar algumas espécies de animais como por exemplo os cavalos selvagens, entre outros”.
A próxima paragem é na freguesia de Arga de São João para uma visita ao velho Mosteiro de São João d’Arga.
“Do Mosteiro de São João partimos depois em direção a Covas para um almoço num restaurante adega, típico onde é servido o tradicional cabrito à Serra d’Arga”.
Percurso Praia
Com início junto ao cais de embarque do Ferry Boat, o percurso Praia faz-se por Santo Antão, seguindo depois por trilhos de montanha até ao Pincho, uma das lagoas mais conhecidas desta zona.
“São cerca de 40 minutos com uma paisagem deslumbrante. Chegados ao Pincho fazemos uma paragem para fotografias e, quem quiser, pode tomar banho na lagoa”.
Do pincho o passeio continua em direção a Carreço, sempre por monte. “Daí é possível vislumbrar toda a costa de Afife sempre com o mar como pano de fundo, animais selvagens e toda a biodiversidade da zona”, explica.
Sempre a descer até Carreço, a próxima paragem é junto aos Moinhos e farol de Montedor. “É um local que tem uma paisagem muito bonita. O espaço onde os moinhos estão inseridos está todo arranjado e bem recuperado”.
De Carreço o passeio prossegue até Âncora, depois até Moledo e daí até à Foz do Rio Minho onde os visitantes poderão visitar o Forte da Ínsua, sempre que as condições do mar o permitam. “Vamos de barco até à Ilha da Insua, isto se as condições climatéricas permitirem. O passeio termina com um almoço ou um lanche num restaurante em frente à praia”.
Com a certeza de que não vai resistir a um destes passeios, aqui ficam algumas informações. Os preços oscilam entre os 34 euros e os 40 euros por pessoas, dependendo do percurso escolhido, com tudo incluído.
Para reservas ou mais informações, os interessados podem consultar o site www.caminha4x4.pt, a página do facebook ou enviar um email para [email protected]. Se preferir pode ainda contatar através do telefone +351925597203.
Disponibilizados os contatos só nos resta desejar um bom passeio e uma grande aventura.