“Isto não é o fim.
Não é sequer o princípio do fim.
Mas é, talvez, o fim do princípio.“
Winston Churchill
As bases sociológicas da esquerda garantiram historicamente as suas maiorias eleitorais transversalmente na Europa depois da segunda guerra mundial.
Estado social, Saúde para todos, redistribuição da riqueza, impostos progressivos, igualdade de oportunidades, liberdade de expressão, pensões de reforma dignas, redução da pobreza extrema, foram bandeiras que alimentaram essas maiorias eleitorais, a dinâmica da mudança contra o conservadorismo.
Historicamente, essas maiorias eleitorais foram interrompidas nos vários países perante crises económicas ou institucionais, quando valores tradicionais e estabilidade, se sobrepuseram às ânsias de mudança, à contestação ou às mudanças radicais.
O problema das esquerdas europeias, essencialmente depois da criação do euro e da aquisição de super-poderes pelas super-estruturas europeias, por ninguém eleitas; é que essas esquerdas se tornaram mais conservadores que os conservadores de direita.
As ainda chamadas esquerdas na europa como em Portugal, transformaram-se nos maiores defensores do status-quo, das mudanças cosméticas para tudo ficar igual, das verdades convenientes.
Apoderaram-se dos valores e definem a sua própria ética: A paridade de género só é boa se a dirigente for do Bloco ou do PS, se em Itália a mulher que ganha é de direita aí, não há feminismo que valha.
Defendem as estruturas e as burocracias que criaram como se fossem um fim e não tivessem sido apenas um meio. Não aceitam reformas e reagem a elas como se fossem revoluções, esquecidos daquelas nas quais muitas dessas esquerdas se fundaram.
Com esquerdas mais conservadoras e fossilizadas o que resta a essa maioria sociológica que necessita de mudanças e reformas?
– Naturalmente procurar quem lhes apresenta propostas de mudança, quem aglutina a sua contestação, quem lhes oferece perspetivas que as esquerdas fechadas nos seus politburos se recusam sequer a ver.
Em Portugal, como noutros países europeus, as esquerdas perderam os seus valores e ao aburguesarem-se e acomodarem-se nos poderes políticos, nacionais, regionais e locais, como nos poderes informais e sociais dos sindicatos, já não representam os trabalhadores por conta de outrem que procuram melhores salários e condições, os jovens que estudam e querem ascender económica e socialmente, aqueles que vivem nas periferias e procuram melhor habitação, enfim.
Hoje, as esquerdas, em Portugal como noutros países, que ocuparam todos os poderes em 2/3 do tempo da nossa democracia, apenas defendem essas estruturas, funcionários públicos que trabalham 35 horas e já não tem salários assim tão baixos se comparados com as empresas privadas, ex-funcionários reformados e pré-reformados, que lhes vão garantindo maiorias eleitorais de votantes, que não de habitantes.
E essas ainda auto-denominadas esquerdas, populistas e demagógicas, dominantes da comunicação social, só estão a ter resposta visível daqueles que usam as mesmas armas: os populistas de direita. Falam a mesma linguagem.
As novas maiorias sociológicas nada tem a ver com os 24% de Residentes em Portugal que deram a maioria de deputados ao PS. As novas maiorias sociológicas são os jovens que ganham menos de 1.000 € por mês em trabalhos precários, são a geração entre os 40 e 50 anos, que trabalha nas empresas privadas e que não sabe sequer se estará no desemprego aos 55 anos, quanto mais se terá pensão daqui a 20 anos.
Estas maiorias sociológicas são as que vêm o estado das Esquerdas a ficar com 45% do que custam às empresas, para pagar as estruturas gordas e que prestam serviços degradados.
Esta é a oportunidade, mas também o desafio dos social-democratas, dos liberais e dos democrata cristãos. Que os seus valores sejam claramente expressos e que as suas propostas possam chegar ao maior grupo de votantes que existe, a nova verdadeira Maioria Sociológica, por agora Silenciosa: Abstenção.
Leiria, 27 de Setembro, de 2022