“Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio,
pois quando nele se entra novamente,
não se encontram as mesmas águas,
e o próprio ser também já se modificou.”
Heráclito de Efeso
“Os Rios Correm para o Mar”
Adágio popular
Dos 5 grandes rios que atravessam Portugal, 3 nascem e percorrem muitos km em Espanha, antes de chegar a terras lusas: Douro, Tejo, Guadiana.
Sobram o Mondego e o Sado, como Grandes rios Portugueses, já que o Minho, nos seus últimos 75 km, é comum aos dois países.
Temos portanto, em termos de água, 2 opções sobre aquele que será o bem mais escasso daqui a poucas décadas:
-olhar para o copo meio cheio e continuar a forcar-nos nessas 3 grandes bacias, negociando sempre em desvantagem com os espanhóis, caudais, barragens e “travases” ou;
-olhar para o copo meio vazio e focarmo-nos no que apenas de nós depende preparando o futuro;
A gestão territorial enfocada na água é um bom exemplo do que deve ser um desígnio nacional, transversal às ideologias e ao tempo.
Se nada começarmos a fazer já, daqui a 25 ou 30 anos, 2/3 do território português estará desertificado ou quase. E como Espanha sofre do mesmo mal, não tenhamos ilusões sobre quais serão as prioridades de nuestros hermanos.
É muito mais importante começar a atuar já no tema da água do que seguir os ditames europeus, definidos por países que tem outro tipo de problemas porque tem outras geografias.
É muito mais critico em Portugal o problema da água do que o problema da energia, Sol é o que não nos falta e Vento há cada vez mais.
Só temos duas áreas nas quais intervir para garantir a sustentabilidade do nosso país em termos de água:
Organizar todo o ecossistema nas proximidades da bacia de cada um dos nossos rios, de forma a captar das chuvas, conservar e utilizar de forma eficaz e eficiente as suas águas, reduzindo ao mínimo possível os caudais que chegam ao mar;
Desenvolver sistemas e tecnologia próprios para, dessalinizando, tirar partido da única água com volume relevnte da qual Portugal é efetivamente proprietário e que é infinitamente maior do que o território nacional e do que as nossas necessidades: o mar português;
Estas deviam ser as áreas prioritárias do PT 2030 e da utilização que fazemos de todos os fundos europeus, em lugar de alinhar pelas agendas definidas pelos países do norte.
Não aprendemos nada com a PAC, com as pescas, com as plantações subsidiadas de girassol? Faz algum sentido que as prioridades estratégicas na Alemanha (edifícios mais protegidos do frio) sejam as mesmas, no sul de Portugal?
Claro está que, gerir adequadamente as áreas das bacias dos nossos rios, implica certamente escolher árvores que não servem para produzir papel ou abandonar produções intensivas de mirtilos.
E naturalmente, muitos virão acenar com as perdas na economia e o desemprego. E os empregos criados nessas novas indústrias tecnológicas? E as exportações dessas tecnologias? E os empregos criados nessas novas agroindústrias e aqua-indústrias? E o turismo de qualidade e valor acrescentado quando a água faltar noutras regiões?
No Concelho de Caminha, correm vários rios e ribeiras sem contar a enorme bacia do rio minho partilhada com A Guarda e Tomiño. E tem o nosso concelho um dos maiores mares territoriais do país.
Preservar a água implicaria que o Plano Diretor Municipal impedisse obras que impermeabilizam os solos nas bacias de rios e ribeiras. Preservar a água implicaria, a própria Camara Municipal não promover um suposto parque industrial em terrenos na bacia do Rio Coura, e algumas ribeiras, impermeabilizando esses solos.
Implicaria, por exemplo que a Câmara Municipal de Caminha, em lugar de investir o dinheiro dos contribuintes e hipotecar-se por 25 anos em mirabolantes Centros de Exposições, tivesse a capacidade de promover no Concelho um Cluster Cientifico-Tecnológico-Industrial-Económico da Dessalinização: Universidade+Indústria, Investigação+Produção, Emprego Qualificado.
Mas tal não será certamente possível com os políticos que governam caminha, enquanto escrevo estas notas, escuto a reunião da assembleia municipal. Os temas tratados são festas, festanças, festivais, obras e obrinhas. Fantasias de Incubadoras, veremos as empresas que lá estão daqui a 2 anos e que empregos criaram aparte os camarários.
Houve uma exceção se diga: o Presidente da Junta de Âncora que tentou pôr o dedo nalgumas desta feridas, mas 1 minuto e 45 segundos, se não é censura anda muito próximo. Enfim, um Presidente da Assembleia Municipal inacreditável. As atas certamente não podem transcrever o que diz, tantas as barbaridades legais e éticas e tão inapropriado o tom.
Será que há algum dos partidos políticos que é capaz de colocar estes temas, sem demagogias, na sua agenda? E levá-lo às últimas consequências?
Leiria, 30 de Setembro, de 2022