A ‘cronoescalada’ a Santa Luzia é o ex-líbris de uma Volta a Portugal em bicicleta que alterou a rota, ligando, desde quarta-feira, Viseu a Viana do Castelo, acrescentou desnecessários quilómetros ‘neutralizados’, mas repete o figurino de sempre.
A surpresa estava bem guardada e só foi conhecida no momento da apresentação do percurso da 84.ª edição: afinal, o contrarrelógio da última etapa não seria percorrido apenas nas principais artérias planas de Viana do Castelo, mas também subiria ao ponto mais alto daquela cidade minhota, com o Monte de Santa Luzia, com as suas vistas para o mar, a configurar-se como o cenário idílico para coroar o sucessor da Mauricio Moreira (Glassdrive-Q8-Anicolor) no historial de vencedores.
Os quatro quilómetros da ascensão – habitualmente classificada como contagem de montanha de terceira categoria mas este ano ‘despromovida’ a subida não categorizada -, maioritariamente feitos em empedrado, encerram “a edição desta Volta completamente em chave de ouro”, como definiu Joaquim Gomes, reforçando as possibilidades dos trepadores, que terão de esperar pela segunda fase da prova para brilharem.
Sim, porque o traçado da edição que está na estrada entre quarta-feira e 20 de agosto parece dividido ao meio: os cinco dias iniciais (prólogo e quatro primeiras etapas em linha) são para homens rápidos, com o alto da Torre a chegar apenas à quinta tirada, para a montanha (quase) não mais parar.
A organização da prova ‘rainha’ do ciclismo nacional inovou para ficar quase tudo igual, exceto o sempre reclamado – pelo público, não pelos corredores – regresso ao Algarve, que não figurava no traçado desde 2018, ou o contrarrelógio ‘noturno’ da última etapa, que deverá terminar cerca das 20:00.
Embora o número de quilómetros da Volta não cresça exponencialmente devido à visita a Sul – os ciclistas vão percorrer ‘apenas’ mais 40,8, num total de 1.600,5 -, as distâncias entre partidas e chegadas, nomeadamente nas terceira e quarta tiradas, serão um fator extra de desgaste para um pelotão que terá ainda de ‘suportar’ a canícula esperada em pleno agosto.
De resto, repetem-se os locais decisivos: a inevitável Torre, que antecede a sempre dura chegada à Guarda, em véspera de dia de descanso, seguindo-se o Larouco, ponto mais alto de Montalegre (7.ª), e a Senhora da Graça (9.ª), com Joaquim Gomes, o diretor da Volta, a ‘abdicar’ do Observatório de Vila Nova, em Miranda do Corvo, que em 2022, na sua primeira ‘presença’ no percurso, foi ‘palco’ de uma das mais espetaculares chegadas de etapa em anos recentes.
Com as dificuldades da corrida todas concentradas na segunda metade, os cinco primeiros dias servirão para outros, que não os homens da geral, darem nas vistas, a começar pelo prólogo em Viseu, meros 3,6 quilómetros que na quarta-feira vão atribuir a primeira amarela.
Os cerca de 120 ciclistas, de 18 equipas (as nove portuguesas e nove ‘convidadas’ estrangeiras, entre as quais as quatro ProTeams espanholas) rumarão depois ao Velódromo Nacional, em Sangalhos (Anadia), ponto inicial dos 188,5 quilómetros até Ourém.
Seguem-se outras três tiradas reservadas a sprinters: a ligação de 177,3 quilómetros entre Abrantes e Vila Franca de Xira, a travessia entre Sines e Loulé (191,8), cidade que regressa ao percurso da Volta após 20 anos de ausência, e nova promissora jornada de altas temperaturas, entre Estremoz e Castelo Branco (184,5) – só nestas duas etapas os ciclistas vão percorrer, a pedalar ou nos carros das equipas, quase 700 quilómetros, um exagero num país tão pequeno.
Só ao sexto dia é que o uruguaio Mauricio Moreira e os candidatos a ‘destroná-lo’ enfrentarão o primeiro grande teste, nos 184,3 quilómetros entre Mação, ‘estreante’ na Volta, e o alto da Torre, a única contagem de categoria especial do percurso que os ciclistas vão alcançar após 20,1 quilómetros de ascensão desde a Covilhã.
Antes do dia de descanso, marcado para 16 de agosto, há ainda tempo para a complicada chegada à Guarda, onde a meta coincide com uma contagem de montanha de terceira categoria, numa ligação de 168,5 quilómetros desde Penamacor.
Cumprida a jornada de pausa, o pelotão regressa à estrada para a penúltima das etapas de montanha, com a sétima tirada a unir Torre de Moncorvo ao alto do Larouco, em Montalegre, no total de 162,6 quilómetros, pontuados por duas contagens de primeira categoria, a última das quais a coincidir com a meta.
O regresso do ‘sterrato’ em Fafe está reservado para a oitava etapa, que parte de Boticas e cumpre 146,7 quilómetros, e antecede a sempre emblemática subida à Senhora da Graça, ponto final de 174,5 desde Paredes, endurecidos por três contagens de primeira categoria.
Como sempre, o último dia será dedicado ao ‘crono’, exercício que no ano passado valeu o triunfo da geral a Moreira, que destronou o seu colega português Frederico Figueiredo do primeiro lugar no derradeiro ‘suspiro’ da Volta.
Lusa