Uma forma bem diferente de prestar homenagem a um dos maiores escritores portugueses vai acontecer em Viana do Castelo, no próximo dia 30 de novembro, dia em que se assinala o 81º aniversário da morte de Fernando Pessoa. A agência criativa LIONSOUT é a responsável pelo mural composto por 5.000 “post-it’s”, que contou com a ajuda do artista contemporâneo galego Arkaitz Brage.
Uma homenagem que surge, segundo o diretor criativo da agência e antigo aluno do Politécnico de Viana, Fernando Lima, “antes de mais, pela plena e evidente identificação com os valores da agência. Pela inegável admiração por este vulto de referência máxima na expressão de Portugalidade. Pelo desejo de divulgar o pioneirismo de Pessoa na área da publicidade em Portugal: em 1925, com 37 anos de idade, conhece Manuel Martins da Hora, que viria a ser o fundador da Empresa Nacional de Publicidade, a primeira agência de publicidade de Portugal, segundo Mega Ferreira, encetando desde então uma produtiva colaboração. Por volta de 1926-1927, o poeta criou o primeiro slogan para a Coca-Cola “Primeiro estranha-se. Depois, entranha-se”.”
Segundo a organização, “o livro Mensagem de Pessoa encerra na sua forma e conteúdo uma contemporaneidade surpreendente. Veja-se só pela estrutura; as três etapas sobre o império: nascimento, realização e morte, seguida por um renascimento. Hoje, mais do que nunca, precisamos, enquanto Portugueses, de nos erguer, sacudir a poeira e ambicionar novos voos.”
A obra, segundo os organizadores, tem como título “Mensagem”. “Trata-se de um mural com mais de 5 metros de comprimento por 3 metros de altura, com a representação da imagem icónica de Fernando Pessoa e em que se convida os participantes a interagir com a obra, escrevendo pequenos textos”.
Fernando Lima levanta um pouco a ponta do véu e fala do que se pode encontrar nesta homenagem ao escritor. “Propõe-se uma leitura disruptiva do conceito da Mensagem no contexto contemporâneo, num novo paradigma em que são questionados a globalização, democratização, empobrecimento, vulgarização, mediatismo e velocidade de transferência de conteúdos. Utilizar um forte ícone como é a imagem de Pessoa e reproduzi-la em post-it’s é uma provocação, relevando A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica, como nos fala, no seu ensaio, o crítico cultural, filósofo e sociólogo alemão Walter Benjamin”.
Podemos, metaforicamente, “entrar” no mural e “ver o que está por trás” da obra, através de uma das portas de acesso, com a inscrição de um dos poemas do livro “Mensagem” e assistir a um vídeo da construção do mural. O processo é também parte do “objeto” artístico.
Segundo o artista Arkaitz Brage, “Há uma tentativa de promover um diálogo com o público, assim como a reflexão num monólogo interno. Antes de escrever precisamos de saber o que escrever e antes de escrever precisamos de pensar. Tratamos as mensagens como micro discursos, resumos, que nos fazem sintetizar ideias e posições mais abrangentes. Os post-it’s, como objetos comuns, simples e de dimensões próximas, assumem a função de cápsulas de informação, formando uma obra composta por diferentes obras. Não esperamos nada mais do que um texto. No entanto, gostaríamos que, do envolvimento momentâneo, sucedesse um processo individual. Pelos seus atributos “colaborativos” a obra promove ainda o incitamento a um diálogo entre os participantes e o resto do mundo.”
Mas a obra, que apela à participação coletiva, não se resume ao físico e ao imediato. Estende-se através de uma plataforma on-line, em que qualquer utilizador poderá introduzir micro poemas, num mural de post’its virtuais. É intenção que estes sejam votados para a seleção necessária à publicação futura de um livro de micro poemas coletivos.
O evento, a título de homenagem a Fernando Pessoa, realizar-se-á pelas 21h00 do próximo dia 30 de novembro, e terá lugar em Viana do Castelo, na sede da agência criativa.