Há cerca de 15 anos visitei Moscovo com uns familiares. Como normal turista visitei igrejas, templos e outros locais lindos, de história maravilhosa e conhecida. Assistir a um espetáculo no Bolshoi (na altura parcialmente em obras) não é totalmente possível de descrever por palavras.
Numa sala de um desses templos religiosos, demasiado visitados, aliás, pinturas nos tetos e história em cada parede, um coro de 5 vozes cantava maravilhosamente temas de música russa, como só eles sabem fazer: vozes afinadas, postura austera, concentração e respeito pelo que faziam, mesmo tratando-se de óbvio momento comercial.
Já noutros locais ouvira coros semelhantes, mas aquele era diferente, de tal forma que fiquei uns bons 10-15 minutos a ouvi-los, enquanto imensa gente que passava só via, não ouvia, como se tal fosse possível!
Numa das paragens que fizeram entre os temas abeirei-me (porque os ouvira com alguma discrição e à distância razoável da inconveniência) e perguntei, apontando para a malinha discreta, sem preços, dos seus CD’s do chão: How much?
O elemento da voz baixo, deu um passo em frente, pegou num dos CD’s, e disse grave e solene: Twenty euros!
Eu olhei-o e respondi-lhe: It’s not a little expensive?
Ato contínuo deu o “seu” passo atrás e respondeu-me: You are listening us for a while, do you like music or do you love music?
Absolutamente atingido fui óbvio: I love music.
E com olhar direto mas profundo disse-me: And Twenty euros is expensive?
Guardou o CD no bolso como se, coberto de razão, concluísse que tal tesouro nem sequer no chão devia estar, muito menos à venda por 20 euros.
Reduzido a uma magnifica lição, eu que “amo” a música, pedi-lhe desculpa e comprei o CD.
Hoje, por todo o simbolismo da visita, pelos monumentos proporcionados já por essa música, não tenho qualquer dúvida de que o preço foi absolutamente irrisório.
Rússia, país de povo, história e cultura tão maravilhosa, porque segues caminhos tão difíceis?
Arnaldo Botão Rego
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