“…Al andar se hace camino
Y al volver la vista atrás
Se ve la senda que nunca
Se ha de volver a pisar
Caminante no hay camino,
sino estelas en la mar…”
António Machado Ruiz, Cantares
Um Caminho para Caminha
5. Desporto e Cultura
c. Diversidade e Laicidade
A Câmara Municipal de Caminha gasta mais dinheiro, quase 400 mil euros diretos e indiretos, para financiar a empresa privada que organiza o festival de vilar de mouros durante 4 dias, do que para apoiar e financiar durante 1 ano, o Sporting Clube Caminhense, Jucaminha, Banda Lanhelense, Academia Fernandes Fão, e todas as coletividades do Concelho juntas.
A Câmara Municipal de Caminha dá a várias associações privadas que nem sedeadas no concelho estão, financiamentos e apoios que superam em muito os apoios que dá ao Lanhelas Futebol Clube, ao Âncora Praia Futebol Clube, ao Atlético de Caminha, ou ao Clube de Andebol de Caminha, para a sua atividade anual.
A Câmara Municipal de Caminha mete no mesmo saco apoios e subsídios a atividades cujos destinatários e participantes são na sua maioria residentes em Caminha que aqui contribuem e pagam impostos, com “eventos” cujos destinatários são visitantes que em Caminha permanecem umas horas e nem sequer pernoitam.
A Câmara Municipal de Caminha, nos seus relatórios e contas que mais parecem um puzzle, vai colocando essas verbas em diferentes contas: ora é segurança, ora é protocolo, ora é publicidade, ora são serviços não contabilizados dos funcionários e meios públicos, ora é o catering, ora é apoio via transferência para a junta, ora é aluguer dos palcos, imaginação não falta.
A Câmara Municipal de Caminha não recolhe e não trata informação, e muito menos a publica, acerca das contas de todas as entidades que apoia e subsidia, quem são os 14 membros dos órgãos sociais, quanto associados tem, quantos participantes tem, quanto já pagam esses participantes, que receitas tem.
A Câmara Municipal de Caminha interpreta Diversidade como distribuição discriminatória a quem sabe pedir melhor ou a quem lhe acena com “eventos”, “promoção”, “imagem”, “divulgação” ou “marketing”.
A Câmara Municipal de Caminha interpreta Laicidade como usar meios e materiais da Câmara para nuns casos pintar igrejas, e noutros justificar com falta de meios deixar ruir o seu próprio património, como a casa de Ventura Terra.
A quem interessa que tudo isto continue no mesmo saco, sem separar o trigo do joio?
A quem interessa que instituições cinquentenárias e centenárias do concelho, ou que tem centenas de sócios e praticantes, continuem sem obter o estatuto de Utilidade Publica, com todos os benefícios, mas também obrigações, que esse estatuto representa?
A quem interessa que continue essa dependência sem regras da “boa vontade” do executivo municipal de turno?
Será que, como disse o Ditador Salazar “está tudo bem assim e não podia ser de outra maneira” ou, como Sérgio Godinho escreveu para Caminha há 50 anos, no coro das velhas, “cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas”?
Carlos Novais de Araújo
16 de Março de 2025