Depois de refletir sobre a Amnésia, propositada, treinada ou promovida, nesta segunda crónica das sextas-feiras, interroga-se o autor sobre o efeito das cabines de voto no processo mental decisório dos Portugueses.
Aprendemos na escola que o Voto é Universal (para os maiores de 18 anos) e Secreto. Aqueles 30 segundos que cada português passa encerrado na cabine de voto, decidem o futuro do país, do concelho ou da freguesia.
Nesses 30 segundos só cada um sabe o que decide e faz. Se é racional ou emocional, se pensa em si, na família ou na comunidade, se vota por convicção “clubística” ou por raiva, por castigo ou vingança, pela memória ou pelo futuro.
Entram também nesta equação, cujo resultado é a cruz que traça o nosso destino, a apreciação que cada um faz dos candidatos que encarnam as diferentes opções partidárias, no caso das eleições legislativas ou autárquicas. As caras fazem toda a diferença.
Essa avaliação, do caráter, sinceridade, simpatia, coerência e de mais uma dúzia de características percebidas dos candidatos, resulta do que a cada português chega pelos meios de comunicação social ou fugazmente por assistir a um qualquer comício.
Mas, essa avaliação resulta sobretudo dos próprios valores do eleitor, que avalia os candidatos segundo os seus próprios padrões. Sabendo isso, não é credível a tese que “os políticos enganam o povo” não, o povo vota nos políticos que decide, naqueles 30 segundos na cabine de voto.
Quando, em 50 anos de democracia o PS e o PSD tiveram somados, sempre mais de 60% dos votos dos portugueses (com apenas a exceção das eleições em que participou o PRD de Ramalho Eanes), não é engano ou ilusão, é mesmo assim.
2/3 dos portugueses que votam, não gostam do frio ou do calor, do preto ou do branco, do tudo ou nada, de ganhar ou perder. São temperados, cinzentos, empatas e por isso votam no que são. Como no totobola 1 ou X ou 2, e põe o X no…. X.
Dizem-se socialistas, mas votam egoisticamente em quem lhes aumenta a reforma ou o ordenado de funcionário. Alguém pagará com os seus impostos. São social-democratas, mas votam egoisticamente em quem lhes promete menos impostos, logo se vê onde se poupa. Criticam os Governos e a seguir votam nos mesmos.
Com este quadro, sofrem os portugueses com menos de 18 anos que não podem votar e sofrem; esses por masoquismo, os 3 milhões que regularmente se abstém.
Os primeiros, nada podem fazer, a não ser confiar no bom senso dos pais e avós e, chamá-los à razão quanto ao país que lhes estão a deixar.
Não dizem todos os pais, tios, tias e avós que querem um país melhor para os seus filhos e netos? Serão doentes bipolares ou apenas hipócritas?
Já os abstencionistas tem a faca e o queijo na mão. São de longe o maior partido em Portugal, mostrem do que são feitos, se são cinzentos e empatas como os que votam PS ou PSD, hesitando entre o mal conhecido e o bom por conhecer.
Ou serão capazes de por uma vez saírem da Bipolaridade de deixar para os outros as decisões, para depois passarem 4 anos a criticá-las?
Tem muitas opções, são só 30 segundos na intimidade da cabine de voto e, já está.
Ao fim e ao cabo, não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe.
Sexta-feira, 26 de Janeiro de 2024