Para o caso de mais tarde não me lembrar, esta coluna semanal, inspirada no poema “Dia da Criação” de Vinicius de Moraes, terá como mote um Adjetivo ou Substantivo sempre diferentes, pretexto para uma reflexão e para memória futura (antes que me esqueça).
O novo primeiro-ministro francês tem 34 anos, a nova diretora-geral de saúde tem 36 anos, o presidente da câmara de caminha tem 35 anos, a ainda ministra da habitação tem 35 anos, o presidente do Equador tem 35 anos.
Há juízes, procuradores do MP e afins, imberbes, a tomar decisões e ditar sentenças que afetam radicalmente a vida de cidadãos que podiam ser seus pais ou avós. Sem saberem o que é ser pai ou mãe, tio ou tia e muito menos avô ou avó, como podem decidir a vida daqueles?
Qual a explicação plausível para jovens que ainda há 5 ou 10 anos eram estudantes e viviam na caso dos pais, serem escolhidos pelos pares, para cargos e funções para os quais não cumprem o mais básico critério que nenhum mestrado ou doutoramento lhes pode dar: experiência de vida e o bom senso que apenas vivenciá-la permite?
Podemos invocar a revolução tecnológica que os mais velhos não acompanharam, podemos repetir o chavão da geração mais preparada de sempre, ou constatar que muitos dos velhos de 50 ou 60 anos não falam inglês, podemos até acreditar que a turbulência do mundo atual requer uma energia, abertura de espírito e entusiasmo que os velhos de 50 ou 60 anos já não tem.
Há, porém, algo que os velhos de 50 ou 60 anos, temos: memória. Tirando alguns que a doença de alzheimer ataca ou a invocam quando dá jeito, o problema dos velhos de 50 ou 60 anos é mesmo esse: tem memória.
Por isso, a razão do cancelamento dos velhos de 50 ou 60 anos, é só uma: apagar a memória coletiva das organizações públicas e assim apagar essa memória da sociedade; e poder ditar a estes pseudolíderes acríticos as doutrinas que mais convêm, sem contraditório nem questionamento.
A amnésia coletiva, orquestrada por dirigentes políticos imberbes que seguem os “senadores” do regime e validada pelos imberbes pseudojornalistas orquestrados pelos “senadores da comunicação” é um dos maiores problemas do mundo, e sobretudo do país no qual vivemos.
Nunca como hoje houve tantos dados, gravações, vídeos, fotografias em arquivo e de facílimo acesso. Então porque é que se repetem mentiras que ninguém desmente, porque se criam falsas estórias como se fossem verdades históricas?
-Porque esses imberbes que lhes podem aceder e divulgar, não tem a mais mínima memória da verdade. E quando há algum que por acaso a tem, é cancelado.
Um povo sem memória é um povo que se deixa manipular, um povo que se abstém de participar, um povo que vota com o medo, em lugar de votar com a coragem daqueles que tem memória do passado, reconhecem os erros no presente e, sabem que merecem um futuro melhor e lutam por ele.
Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2024