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Caminha Municipality

Porque hoje é ̶s̶e̶x̶t̶a̶ terça: LUCIDEZ

Data:

Primeiro fim de semana de Abril, mês de todos os “ÉLES”. Lembrança e Leveza, Luta e Logro, Letra e Lugar, mas sobretudo Liberdade. Para nunca a perder, usemos Lentes e mantenhamos a Lucidez.

Se estar fora da ilha é essencial para toda a ilha ver, a 10.000 mt de altitude a costa de Peniche a Caminha é apenas uma linha ténue entre os azuis do mar que se esbatem nos prateados dos areais e se diluem nos verdes e castanhos da costa.

A distância ou o distanciamento são essenciais para uma observação isenta, objetiva, desinteressada, com escala e perspetiva, enfim, Límpida e Lúcida.

Em 1975, numa redação (composição como se diz agora) de português, escrevi que o 25 de Abril e o 1º de Maio se podiam resumir numa frase: os adultos a comportarem-se como crianças.

Observada pelos olhos de um petiz que aprendeu a ler no colégio em Valença e a andar de bicicleta e nadar, nos fins de semana e férias entre o lugar de Coura, a esteiró e moledo, aquela gente circunspecta e cinzenta passou o ano todo de 1974 em carnaval.

Deixaram crescer barbas, passaram a usar roupas coloridas, gritavam, cantavam e discutiam, palmilhando ruas e avenidas, enchendo paredes e muros de pinturas e cartazes. Vejam bem, uma gaivota que voava, voava, canta amigo canta, o povo é quem mais ordena, unido nunca mais será vencido.

Todos os sonhos eram possíveis, exceto para aqueles que obrigados a deixar as colónias, viram os sonhos que para lá levaram e construíram, desaparecer. Todos sonhavam tudo, e tudo todos queriam. Falar sem medos, tudo parecia possível.

Mas eis que 50 anos volvidos, tudo voltou ao carreiro, como as formigas e basta ver o programa das celebrações em Caminha, como no país.

Assemelham-se muito mais às cerimónias ensaiadas e bolorentas do estado novo e da assembleia nacional, dos regedores e dos governadores civis, do que à saudável anarquia popular de (des)organização espontânea dos bairros e comissões de tudo e mais qualquer coisa.

50 anos volvidos, a escolaridade dos pais e nomeadamente das mães voltou a ser determinante no sucesso escolar dos filhos, voltam a ser exemplos dignos de reportagem televisiva, alunos que entrem em medicina ou no técnico e cujos pais não sejam licenciados.

50 anos depois, o interior continua a ser muito mais pobre e miserável do que o litoral, os salários em Lisboa muito mais altos que no resto do país, uma boa parte dos jovens tem que migrar para Lisboa ou Porto ou mesmo Emigrar.

50 Anos depois para tratar uma doença grave ou fazer uma cirurgia cardíaca os habitantes de Valença continuam a ter que ir ao >Porto ou >braga, ou mais perto, como há 50 anos, a Vigo.

E a pergunta que fica para os Lúcidos que queiram responder, ou pelo menos, nela refletir: Para Vós o que foi o 25 de Abril? Valeu a pena?

Sobrevoando os Açores, 9 de abril de 2024
cj.novais.araujo@gmail.com

Carlos Araújo
Carlos Araújo
Economista

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