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Sábado, 12 Outubro, 2024
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Ponte da Barca: Professor Rocha Armada nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril

A ditadura do digital é uma das grandes ameaças atuais à nossa liberdade, 50 anos depois da Revolução do 25 de Abril, que derrubou o Estado Novo, com todas as suas arbitrariedades em relação aos direitos, liberdades e garantias.

O alerta foi lançado pelo Professor Doutor Rocha Armada, no decorrer de uma conferência na Casa do Conhecimento de Ponte da Barca, subordinado ao tema “Viagem no tempo: do Estado Novo à Revolução dos Cravos e às conquistas de Abril”.

Inserida nas celebrações dos 50 anos de Abril, promovidas pelo Município, a sessão foi aberta pela Vereadora da Educação e Cultura que, depois de saudar o público e de proceder ao enquadramento da iniciativa, apresentou o convidado, com um vasto currículo académico-científico e uma notável ação à escala global, em termos de formação nas áreas da gestão e da liderança.

Já medalhado pelo Município e homenageado pelo Rotary Club de Ponte da Barca, Rocha Armada, para além de investigador e orador convidado em grandes eventos internacionais, tem a particularidade rara de ter vivido como militar o antes, o 25 de Abril e o depois da Revolução, pelo que é uma honra e um enorme privilégio contarmos com a presença do Senhor Professor, um homem com ligações familiares a Ponte da Barca – referiu Rosa Maria Arezes.

Na sua intervenção, o convidado abordou o tema, mas fez questão de ir além e de chamar a atenção para as ameaças que, na atualidade, põem em causa as conquistas de Abril, tais como a democracia e a liberdade.

A Revolução dos Cravos cumpriu a sua missão há 50 anos, com os capitães e o Movimento das Forças Armadas a derrubarem a ditadura e a proclamarem a liberdade. Acontece que, passadas cinco décadas, são muitas as ameaças da ditadura do digital, com os algoritmos e a Inteligência Artificial a orientarem os nossos comportamentos e a manipularem as nossas decisões, explicou Rocha Armada.

Em última instância, com a utilização abusiva dos nossos dados pessoais, não só a nossa privacidade desaparece, como a nossa própria liberdade e poder de decisão são postas em causa, fazendo perigar os regimes democráticos, muitas vezes sem que as próprias pessoas tenham consciência disso.

A Democracia, a Liberdade e o Desenvolvimento são um trabalho diário

Sempre num registo muito cativante, com recurso frequente a episódios pessoais e à extraordinária experiência da sua vida, o Professor Catedrático Jubilado e antigo Presidente da Escola de Economia e Gestão da UMinho fez uma viagem pelas suas memórias, recuando aos tempos de estudante universitário e do serviço militar, entre 1973 e 1975, como oficial miliciano de transmissões do exército.

Lembrou as arbitrariedades e proibições do Estado Novo, o poder omnipresente da censura e do medo, a miséria e o atraso do tempo de Salazar, a emigração, o desgaste e descontentamento gerados pela Guerra Colonial e as primeiras manifestações contra o regime ditatorial, do meio académico ao Golpe ou Levantamento das Caldas, cujas movimentações intercetou, ao nível das telecomunicações, a partir do quartel em Mafra.

Até que, agora já no quartel em Tomar, chegou o 25 de Abril e a alegria da participação nas celebrações do 1.º de Maio, atitude de Rocha Armada que lhe valeu um castigo e que, não fora a intervenção do General Spínola, poder-lhe-ia ter custado a despromoção, com tudo o que isso significaria de penoso, tanto mais que estava prestes a partir para Angola.

E dos tempos de Angola, recordou a passagem pela selva e, depois, a guerrilha urbana em Luanda, quantas vezes debaixo de fogo cruzado entre as tropas do MPLA e da UNITA, e falou da descolonização e do êxodo de centenas de milhar de portugueses que regressaram a Portugal, numa situação muito difícil.

Já no período de interação com o público, Rocha Armada respondeu às questões colocadas, reiterando que Abril se cumpriu há 50 anos, naquele radioso dia 25, com a proclamação da liberdade e a devolução ao povo da sua capacidade de decidir, num regime em que há respeito pelos direitos, liberdades e garantias. Mas os desafios continuam, mais ainda agora com a ditadura do digital, insistiu.

Quanto à Descolonização, defendeu que se realizou dentro das condições possíveis, num ambiente de enorme instabilidade, mas – na sua opinião – foi o mal menor. O Desenvolvimento, esse continua em curso. Os progressos económicos e sociais da nossa Democracia são notáveis, mas os descuidos pagam-se caros, como aconteceu, por exemplo, no período a seguir ao 25 de Abril, em que os desmandos da época quase levaram Portugal à bancarrota e conduziram ao pedido da primeira intervenção de ajuda externa do FMI, concluiu Rocha Armada.

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