A partir do próximo dia 6 de março, a área expositiva do Centro Cultural Vila Flor – localizada no Palácio Vila Flor – será ocupada por uma exposição da artista visual e fotógrafa Patrícia Almeida (Lisboa, 1970-2017). A inauguração da mostra desta premiada autora com uma carreira singular está marcada para as 19h00, ficando a exposição patente até ao final do mês de julho.
Patrícia Almeida nasceu em Lisboa, em 1970. Licenciada em História pela Universidade Nova de Lisboa, estudou Imagem e Comunicação no Goldsmiths College, em Londres. Em 2001 viajou para Tóquio, produzindo o livro “No Parking” (2004), que foi distinguido em 2005 com o prémio European Photo Exhibition Award. Foi uma fotógrafa “de tendência documental, explorando os espaços, os usos e os comportamentos da vida urbana”, “problematizando a relação do homem com o espaço urbano”, como escreveu Vítor Belanciano, no jornal Público. Patrícia Almeida era também artista visual e editora, tendo produzindo publicações, exposições e encontros em torno dos livros de artista e participado em inúmeras feiras internacionais como a OffPrint em Paris e Londres ou a Pa/per View em Bruxelas. O seu trabalho encontra-se nas coleções da Fundação Serralves, do Novo Banco, da Fundação PLMJ, do Centro de Artes Visuais de Coimbra e do Centro Português de Fotografia.
Ao longo da sua carreira, Patrícia Almeida construiu um corpo de trabalho singular, através de séries que abordam temáticas e assuntos tão diversos quanto a relação dos indivíduos com os espaços urbanos, a ligação entre música e juventude, ou a precariedade nos anos da profunda crise económica que assolou Portugal entre 2008 e 2013. Morreu prematuramente e a fotografia portuguesa perdeu, sem dúvida, um olhar e uma abordagem diferentes.
Quando um autor desaparece extemporaneamente, qualquer exibição dos seus trabalhos encerra diversos perigos, principalmente os que convocam sentimentos de perda. Admitir esta tendência equivale a afirmar que a exposição teria um objetivo determinado, o que não é o caso. Esta exposição é estimulada pela vontade de mostrar uma autora que possui um núcleo de imagens singulares, cujo sentido foi deixado em aberto pelo seu desaparecimento precoce.
Esta exposição de Patrícia Almeida, com curadoria de Sérgio Mah em colaboração com David-Alexandre Guéniot, é um exercício de observação. Reúne um corpo de trabalho forte e abrangente, organizado numa sequência alargada de imagens que exprimem as diversas facetas de uma obra. Com esta mostra pretende-se lançar um desafio ao espetador mais desprevenido, convidando-o a fundir-se com o olhar observador e atento da artista, materializado numa fusão de papéis, nos quais Patrícia Almeida e o recetor são levados a interrogar-se numa aprendizagem transformadora, face aos sinais do tempo. As obras desta artista apresentam uma serenidade pacífica, mostrando lugares desprovidos de intensidade e tensão existencial: as pessoas surgem assim como entidades ausentes não dependentes da obrigatoriedade de possuírem seguidores; o indivíduo descobre o seu lugar na sociedade do rendimento que tudo abarca, através de uma atitude de exclusão.
As fotografias revelam uma ideia de vazio, de falta de confronto ideológico, sugerindo posicionamentos superiores e elevação dos espíritos para dimensões subjetivas assentes em interioridades pessoais e solitárias. As fotografias expostas mostram, de forma hábil, como as sociedades atuais, depois de consolidadas e institucionalizadas, são incapazes de moderar o impacto das estratégias de poder: como não conseguem conter as ambições de influência ou tendências populistas, põem cada vez mais a descoberto espaços de ninguém, nuns casos saturados de informação noutros abandonados à espera de novas utilidades, embora todos eles, controlados e vigiados.
Nesta exposição, as obras da artista representam um amplo processo de reflexão crítica, centrado no sujeito que assume o papel de testemunha numa narrativa sem personagens. Esta descreve a história de um ser que tem de partilhar um conhecimento constantemente desatualizado, num mundo enigmático e transitório. A atividade crítica fica, assim, circunscrita a uma única pessoa (a autora) que chama a si a responsabilidade de dar voz a um conjunto de emoções e pensamentos, expressos numa mundivisão que denuncia radicalidade e violência. Estas fotografias traduzem as enormes qualidades humanas da artista que, fazendo sobreviver a sua arte em espaços ambíguos de desassossego e inquietação, projeta-os em visões, ora contraditórias ora sensíveis, baseadas no enorme potencial da verdade.
A exposição de Patrícia Almeida pode ser visitada até ao dia 31 de julho, de terça a sábado, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 19h00, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães.