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Quinta-feira, 18 Abril, 2024
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Palmitos nasceram de uma história de amor

Era uma vez um sapateiro pobre que, não tendo que oferecer à esposa de quem muito gostava, lembrou-se um dia de aproveitar os desperdícios do couro que utilizava para fazer sapatos e elaborar um bonito palmito.

Esta história simples, que terá acontecido na zona de Vila Franca do Lima, é-nos contada por Fernanda Sales e responde à pergunta sobre a origem dos palmitos, uma arte bem típica da região de Viana do Castelo mas que hoje já poucos praticam.

A família Sales, oriunda de Santa Marta de Portuzelo, uma freguesia de Viana do Castelo, terá sido responsável por trazer a tradição da elaboração dos palmitos para o concelho de Caminha, mais precisamente para Riba de Âncora.
Natália Sales conta-nos que os bisavós, logo após terem casado, decidiram instalar-se em Riba de Âncora e por aqui ficaram.

“Quando os meus bisavós vieram viver para aqui trouxeram com eles esta tradição da família Sales, que era oriunda de de Santa Marta e a verdade é que desde essa altura a tradição tem-se mantido. Aqui em Riba de Âncora os Sales fazem palmitos há mais de 60 anos”, conta.

palmitos 2

A tradição foi passando de geração em geração e os mais novos, como Natália Sales, estão a aprender a arte de confeccionar os palmitos.

“Ainda estão num processo inicial de aprendizagem. Até aqui tenho estado mais dedicada à divulgação dos palmitos, através da participação de feiras e mostras que se vão realizando”, explica.

Mas voltemos à origem e à história do sapateiro que, num gesto de amor para com a esposa, terá inspirado as gentes das redondezas que a partir daí começaram a elaborar os palmitos e a oferece-los em ocasiões especiais.
Para elaborar os palmitos as pessoas utilizavam o “palhão”, um papel grosso e “muito bom” para a confecção dos palmitos, explica Fernanda Sales.
De simples lembranças trocadas entre amigos e familiares, os palmitos começaram a ter outras utilizações, nomeadamente a ornamentação dos andores, como é o caso das festas da Srª da Bonança em Vila Praia de Âncora.

Fernanda Sales não tem a certeza se a utilização deste tipo de ornamentação nos andores da festa da Srª da Bonança terá tido a influência da sua família. “é provável”, refere. Mas de uma coisa não tem dúvidas, é à família Sales que cabe manter a tradição uma vez que é ela a responsável pela ornamentação dos andores e pela substituição dos palmitos quando estes se estragam ou ficam gastos pelo tempo.
Foi o que a aconteceu este ano em que só para ornamentar o andor da Srª da Bonança foram precisos mais de 150 novos palmitos que levaram quase um ano a ficar prontos.

De cores fortes e brilhantes que variam entre o dourado e o prateado, o vermelho e o azul e mais recentemente o bronze e o rosa, os palmitos parecem estar de novo a despertar o interesse e atualmente são também utilizados como peças decorativas.

Da lista de clientes da família Sales contam-se algumas personalidades nacionais e estrangeiras, tais como embaixadores, atores, empresários e políticos que já receberam ou ofereceram os tradicionais palmitos elaborados pela Casa Sales.

palmitos 3As peças estão espalhadas um pouco por todo o lado o que enche de orgulho Natália Sales que pretende levar mais longe a arte da família.

“Já fizemos um palmito para a embaixatriz de Marrocos, um outro para a esposa do ator Ricardo Pereira e também para a filha do empresário Belmiro de Azevedo. Já fizemos vários para o Brasil e Estados Unidos e para vários países da Europa. É um grande orgulho sabermos que as nossas peças também são apreciadas por pessoas de outros locais”.

Fazer um palmito pode levar horas, dias ou até meses a fazer, dependendo do tamanho da peça e da quantidade de flores que se queira aplicar. Os preços também variam mas Natália garante que há peças para todas as carteiras.
“Temos peças de 70 cêntimos como é o caso das molas, palmitos de 4 flores que custam pouco mais de dois euros, até às peças maiores que podem chegar aos 80 euros”.

Os palmitos são elaborados à mão e a ferramenta utilizada é uma tesoura de costureira. Os materiais são o arame, o papel metalizado, a cola, as purpurinas e a palma no caso dos palmitos da Páscoa.

Paciência, jeito de mãos e gosto são os ingredientes principais para elaborar um bonito palmito. Inovar é outra das preocupações da Casa Sales que tem vindo a criar novas peças para além dos tradicionais palmitos. É o caso das pequenas molas, uma criação recente, das coroas de natal, dos suportes para velas, ramos para noivas, entre outros. Neste momento está a ser trabalhado um palmito em forma de coração de Viana, uma peça que tanto Natália como a sua mãe, Fernanda Sales, acreditam que vá ser um sucesso.
“Está mesmo muito bonita só falta mesmo pensarmos num remate de forma a dar mais realce à peça”, revelam.

palmitos 1

A família Sales é uma das poucas que ainda se dedica á arte da elaboração dos palmitos e no concelho são mesmo os únicos a desenvolver esta atividade. Ensinar não está fora de questão, mas com contenção “porque o segredo é alma do negócio” como refere Natália entre sorrisos.
“É uma arte que pretendemos que tenha continuidade na família, embora já tenhamos feito algumas formações como foi o caso de uma que fizemos na Universidade Sénior”.

Tentar expandir o negócio levando-o além fronteiras é o grande objetivo da jovem Natália que, embora não queira fazer dos palmitos a sua atividade principal, não deixa de ver arte familiar uma boa oportunidade.
“Gostava de dar a conhecer melhor o produto lá fora. Acho muito importante valorizarmos aquilo que é nosso. Portugal tem muitas coisas bonitas e esta é mais uma”.

As peças elaboradas pela Casa Sales podem ser adquiridas em vários locais, nomeadamente no Posto de Turismo de Caminha e também na Tabacaria Gomes. Os interessados podem ainda contatar diretamente a Casa Sales na freguesia de Riba de Âncora.

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