Um programa comunitário apoiou no Norte 2.662 cães de gado, com um montante de mais de 860 mil euros, para reduzir o conflito entre o pastoreio e o lobo ibérico, foi hoje revelado à Lusa.
De acordo com dados solicitados pela agência Lusa ao Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), na região Norte (NUTS II) foram apoiados 1.805 produtores pecuários com o corresponde a 2.662 cães de gado, num montante global de 867.017 mil euros. Estes números dizem respeito à campanha de 2023, cujo período de candidaturas decorreu ente 01 de março e 01 de agosto de 2023.
Segundo o IFAP, o respetivo pagamento deste apoio, integrado no Plano Estratégico da Política Agrícola Comum – PEPAC 2023-2027, que inclui uma intervenção agroambiental com vista à proteção e recuperação de espécies da fauna com estatuto de ameaça associadas a sistemas agrícolas, foi feita em abril de 2024.
Esta medida tem o objetivo de reduzir a conflitualidade entre a atividade de pastoreio extensivo e a necessidade de conservação do lobo ibérico.
Para beneficiar dos apoios, é necessário candidatar um mínimo de três cabeças de ovinos ou caprinos ou 10 cabeças de bovinos e deter cão de proteção de gado, atestado por declaração emitida pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).
Segundo o IFAP, os montantes e os limites do apoio a conceder, por beneficiário, são determinados de acordo com o número de cães detidos.
O distrito de Bragança foi, dos oito distritos da região Norte, o território que obteve mais apoios com 747 beneficiários, o que corresponde a 1.198 cães de gado, num total de 385.376 euros. Segue-se o distrito de Vila Real, com 670 beneficiários correspondeste a 935 cães de gado e um montante de 307.298 euros.
Já Viana do Castelo é o terceiro distrito desta lista de apoios com 171 beneficiários, 216 cães de gado e apoio de 72.144 euros. Ainda no Minho, Braga contou com apoios de 47.917 euros, para 111 beneficiários e que corresponde a 144 cães.
Já no distrito de Viseu foram apoiados 120 cães de gado (38.844 euros), na Guarda 22 (6.862 euros), no Porto 17 (5.286 euros) e em Aveiro 10 (3.290).
A Lusa questionou o IFAP após os pastores do Planalto Mirandês, no distrito de Bragança, se terem mostrado apreensivos devido ao número crescente de ataques de lobos nas imediações das localidades, tendo desde janeiro sido registadas seis ocorrências tratadas pelas equipas de vigilantes da natureza do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), quatro das quais no concelho de Mogadouro.
A diretora regional do Norte do ICNF, Sandra Sarmento, revelou em 11 abril que, segundo os últimos censos, existem 300 lobos ibéricos na região Norte, predadores “de topo” cujos ataques podem ser repelidos com o apoio de cães de gado.
Sandra Sarmento acrescentou ainda que o ICNF tem que garantir um conjunto de cuidados, para evitar que os lobos se aproximem dos rebanhos e das aldeias onde estes são pastoreados, com recurso a cães de gado ou cerca elétricas.
A responsável garantiu ainda que, com o apoio de cães de gado, os ataques de lobos são repelidos, em grande parte.
Um cão de proteção de gado é um cão do tipo mastim de montanha, em adulto com o peso mínimo de 35 quilos para machos ou 30 quilos para as fêmeas e altura mínima ao garrote de 60 centímetros (machos) ou 55 centímetros (fêmeas), com características físicas e comportamentais adequadas à função de proteção de gado contra ataques de lobo e em exercício da mesma.
As raças portuguesas adequadas à função de proteção de gado contra ataques de lobo são: Cão de Castro Laboreiro, Cão de Gado Transmontano, Cão da Serra da Estrela e Rafeiro do Alentejo.
Os cães são utilizados, há centenas de anos, na proteção de gado, pertencem a raças do tipo mastim de montanha e apresentam características que foram sendo selecionadas de modo a assegurar a missão de proteção contra ataques de predadores como o lobo.
LUSA