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Quarta-feira, 9 Outubro, 2024
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Opinião: A agressividade da sinistralidade rodoviária

Entramos no Verão, onde por norma, o trânsito nas nossas estradas aumenta, por várias razões, mas essencialmente, pela chegada e circulação de turistas e emigrantes.

As estradas/vias de comunicação e povoações mais pacatas assistem ao aumento de trânsito, e inversamente o sossego diminuiu e o estacionamento não chega para tantos automóveis.

Se nas grandes cidades se sente uma “acalmia” no trânsito diário, devido às férias escolares e às férias dos agregados familiares, que vão para outros espaços e territórios passar férias – província, estrangeiro, etc. – o inverso sente-se no interior que “absorve” a chegada de tanta gente. Nas vilas e cidades junto à costa atlântica e que possuem afamadas praias de “bandeira azul”, sentem a “invasão” de pessoas e viaturas, alterando o seu pacato quotidiano.

No passado havia uma dificuldade de circulação, porque a infraestrutura rodoviária era limitada e limitante e oferecia inúmeros perigos. Por outro lado, os carros eram mais raros e considerados “artigos de luxo”. Paulatinamente foi-se transformando numa ferramenta de trabalho imprescindível, um “utensílio” mais social e com facilidade, veio a moda de financiamento bancário para a sua aquisição, como bem de consumo em que se tornou na Sociedade e isso, fez disparar o número de viaturas por agregado familiar. Entretanto a crise dos combustíveis e a alteração de preços, também teve implicações grandes nos orçamentos familiares e no sustento de um ou mais carros por Família.

A indústria automóvel deu um salto colossal. Os níveis e mecanismos de segurança colocados/instalados nas viaturas são imensos, que asseguram medidas excepcionais de segurança, quer activa, quer passiva, onde a prevenção de acidentes é o objectivo major a alcançar. Toda esta evolução da engenharia, trouxe melhores combustíveis e mais velocidade aos carros, possibilitando percorrer maiores distâncias em menor espaço de tempo. As auto-estradas vieram ajudar, o que dantes era longe, a tornar-se, mais perto.

Da consulta que fizemos na página da “Prevenção Rodoviária Portuguesa” (PRP), entre os anos de 2010 e 2022, colhemos alguns dados interessantes. Fizemos algumas comparações com os dados possíveis cujo registo de sinistralidade 24 horas (“vitima mortal 24 horas – vítima cujo óbito ocorra no local do acidente ou durante o percurso até à unidade de saúde”) e sinistralidade 30 dias (“vítima mortal 30 dias – vítima cujo óbito ocorra no período de 30 dias após o acidente”), registaram-se em 2010, 937 vítimas mortais em 30 dias e 741 vítimas mortais nas 24 horas. Em 2022, 591 vítimas mortais em 30 dias e 462 vítimas nas 24 horas. Consultando a “Pordata” nestes mesmos anos, verificamos que em 2010 ocorreram 35.426 acidentes com vítimas e 46.561 feridos e, em 2022 ocorreram 32.788 acidentes com vítimas e 40.699 feridos. Num cálculo de proporção directa, registaram-se em 2022, menos 7,44% de acidentes e menos 12,58% de feridos, do que em 2010. Verificamos também que em 2010 o número de carros que circulavam eram de 584,7/1000 habitantes, enquanto que, em 2022 eram 689,3/1000 habitantes.

A sinistralidade continua, mesmo assim, a ser alta. Na verdade tem-se investido em campanhas de informação e prevenção. Mas será o suficiente? Não será de considerar uma intervenção programática e continua, obrigatória, nos ciclos de ensino?

Inúmeros indicadores e questões sociais, sociológicas ou de engenharia se poderiam aqui levantar. Mas não é a razão desta crónica. Apenas, fazer uma reflexão sobre a importância da prevenção.

Apesar de todas as normas de segurança, leis e código da estrada, medidas preventivas, radares, etc., quando acontece algum acidente e há vítimas a lamentar, são inúmeros os prejuízos daí decorrentes. As vítimas mortais partem, deixando saudade e muita dor aos familiares e amigos, que vão sentir a sua falta. Mas os feridos, que muitas vezes resistem a ferimentos graves e mutilações, passam a enfrentar um longo calvário de recuperação e eventualmente a reinserção na vida activa, quando isso é possível.

As pessoas ficam feridas, com maior ou menor gravidade, levando muitas das vezes, devido a fracturas ósseas ou de órgãos, a longos períodos de internamento. Em muitos casos, com cirurgias sucessivas, para correcção orgânica, reconstrução, reposição de tecidos, e finalmente, quando é adequado, a reconstrução estética.

As pessoas ficam dependentes de outras para ajuda nas suas actividades fisiológicas e de vida diária. Muitas ficam com lesões ósseas, de função e tecidulares, para o resto da vida. Amputações a vários níveis. Enfim, sequelas que jamais se apagarão fisicamente, para não falar nas psicológicas e emocionais. Em alguns casos, familiares directos, têm que abdicar dos seus empregos para tratar dos sinistrados.

Estamos num período do ano, onde a realização de festas, férias, concertos de verão e encontros de familiares e amigos, convidam a mais bebida alcoólica, mais euforia, muitas vezes associado o consumo de substâncias psicoativas, que vão toldando os reflexos, diminuindo a atenção e a capacidade de acção ou reacção na condução. É certo que em muitas vias, o piso está muito degradado, não há marcações no piso e a sinalética vertical está encoberta, destruída ou desajustada. Muitas vezes também, não se cumprem os limites de velocidade. A acomodação de bagagem não é feita com equilíbrio e pode estar a comprometer a visibilidade ao condutor, criando “ângulos mortos ou invisíveis”. Em potencial, há condições para acontecer acidentes! Acautelemos a prevenção!

Perante tudo o descrito e muito mais que ficou por escrever, mas que todos estamos ou passamos a estar despertos, lembrar que a prevenção é a mais simples e potente forma de evitar problemas e acidentes. Avalie com antecedência o estado dos pneus da viatura ou motocicleta. As condições de travagem. Cumpra as regras de trânsito. Não propicie nem entre em conflitos desnecessários e fúteis, relegando para segundo plano as provocações e desafios das “corridas e picardias”. Pense que o que importa é chegar ao seu destino com segurança, para poder abraçar os seus entes queridos, poder desfrutar da festa ou do concerto para onde vai, ou simplesmente, na companhia que escolheu, poder saborear esse momento sem sustos nem desgostos de acidentes, ou confrontos. A vida é bela quando vivida sem tristezas!

Um acidente causa sempre um prejuízo significativo com “custos humanos, económicos e sociais à Sociedade”. Os danos que as vítimas sofrem, são de difícil quantificação, apesar de existirem tabelas convencionadas. A perda de um familiar ou um amigo, é um vazio que será difícil de preencher. O sentimento de culpa, por um acidente ou morte de uma dessas pessoas, tem um “peso emocional”, que muitas vezes acompanha a vida inteira. Não aceite ser protagonista nem carregar esse fardo, de remorsos e de culpa.

Seja prudente. Desfrute das viagens em segurança, desfrute do convívio com familiares e amigos e não se atreva a perder ou fazer perder a vida num minuto.

Humberto Domingues

Enf. Espec. Saúde Comunitária

2024.06.26

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