“Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Em algum canto de jardim”
Francisco Buarque de Hollanda
Prémio Camões 2019
Arrumadas as gravatas vermelhas e os cravos a murchar nas jarras ou no lixo, ficam as T-Shirts do Che Guevara, usadas no 1º de Maio, à espera dos próximos concertos do Chico nos coliseus, porque as manifestações, atualmente, são de perigosos direitistas.
As festas do 25 de Abril, cada vez menos populares e mais bolorentas, tiveram este ano, exceção na linha da crescente pomposidade, uma palpitação populista – provocada pela vaga de calor ou pela presença de vários ícones do Brasil – da qual não há memória.
É preciso recuar a Janeiro, para perceber como se preparou a Festa, pá! O presidente Marcelo, convidou Lula da Silva para estar presente nas cerimónias, formais e pomposas, do 25 de Abril, na Assembleia da República. Falou de mais e fez o que não podia, porque o PR não fala em nome daquela, mas, o que importa é a Festa, pá!
Sendo o PR o “grande amigo” do governo, segundo o ex-secretário de estado Nuno Mendes e sendo Lula o presidente do Brasil, o ufano presidente da AR, Santos Silva, encontrou a forma de fazer a quadratura do círculo ou a circulatura do quadrado, se quiserem: fazem-se duas sessões, uma com Lula e outra sem Lula. São duas Festas, pá!
Duas caldeiradas, vejamos a receita: mete-se tudo numa panela, alhos e bugalhos, cravos e rosas, lulas, chernes e que não falte o mexilhão; põe-se o lume no máximo e depois TAPa-se! Todos sabiam que que a TAmPa ia saltar e, era isso mesmo que queriam. Para animar a Festa, pá!
Sendo previsíveis, os deputados arruaceiros do Chega, permitiram a Santos Silva, planear adequadamente -aquela reação emocional- de improviso. Coisa que a Iniciativa Liberal não permitiu ao ausentar-se da sala, tal como Bloco e PC fizeram depois na sessão “SOLENE”, quando o Chega falou. Só queriam estragar a Festa, pá!
Tudo teria sido um lindo espetáculo de televisão, se as três principais figuras políticas deste país não se sentissem tão à vontade, à vontadinha; que até se esqueceram que no intervalo entre as sessões, o canal parlamento contínua a transmitir em direto das salas, onde os senhores descontraem depois da performance, para o público ver os artistas nos bastidores, depois do espetáculo, a gabar-se das habilidades.
Tal como Costa se sentiu a 24 de abril, na Versailles Portuguesa, à vontadinha para dizer que gostava mesmo é que todos falássemos com “SÓTAQUI BRASILEIRÚ” e; tal como Marcelo se sentiu à vontadinha na mesma sessão para declamar Chico Buarque em “BRASILEIRÊS”; Santos Silva, viajou no tempo e, voltou ao papel que José Sócrates lhe dava, em que o atiçava e ele, sempre fiel, malhava na direita. Biba a Festa, pá!
Estão todos tão à vontadinha que Marcelo condecorou a primeira-dama do Brasil com a Grão Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique (2º Grau da Ordem mais importante), quando para respeitar o protocolo se podia ter limitado ao Grau de Cavaleiro da Ordem da Liberdade ou da Ordem de Camões, esta aliás por ele próprio criada.
Entre o 25 de Abril e o 1º de Maio, no espírito da Festa, pá; Santos Silva ainda teve tempo para tentar mudar o que disse, instaurar um inquérito aos jornalistas que não desligaram a câmara e o microfone e, castigar os arruaceiros do Chega, informando-os que não os leva mais nos passeios que faça ao estrangeiro. Ficam de castigo.
Na mesma linha de atuação, à vontadinha, perante a confirmação que na Investigação à TAP o difícil é encontrar quem fale – pelo menos, um pouquinho da verdade pá! – o ministro Galamba acionou o SIS que depende do primeiro-ministro exclusivamente – sem este, aparentemente, saber – para ir buscar o computador, a casa de um assessor que Pedro Nuno Santos lhe deixou infiltrado entre o gabinete e a garagem.
Lamento dar esta triste notícia às redes Globo e Record, mas as suas telenovelas ao pé desta Tragicomédia, tem guiões de escola primária. Já há canais Venezuelanos e Mexicanos a negociar os direitos exclusivos, vamos lá exportar a Festa, pá!
Lamento mesmo e a sério, agora; que tenham metido o Chico Buarque nesta farsa, na qual a única coisa que se aproveitou foi o Mário Laginha a interpretá-lo ao Piano. Nenhum dos dois, nem o palácio de Queluz e muito menos o povo português, mereciam isto.
Foi bonita a festa pá, mas acabou-se, há muitos anos. Os Cidadãos são Público, O Lápis agora é Cor de Rosa, o SIS é mais discreto que a DGS e a TAP, essa, contínua a navegar nas águas sempre turvas, mas, continua a ser nossa, como a Festa, pá!
Leiria, 2 de Maio de 2023