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Segunda-feira, 10 Fevereiro, 2025
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O Ferry encalhado, a Ínsua abandonada, o adeus a um Ministro e as finanças públicas -de Caminha- e do país

O maior inimigo da verdade é frequentemente, não a mentira – deliberada, planeada, desonesta – mas sim o mito – persistente, entranhado e irreal.

John F. Kennedy

Nestes tempos pascais, em romaria às nossas origens, não podemos deixar de nos atualizar sobre as novidades ou as obras de santa Engrácia que nos interpelam. À distância de um tiro de canhão, da bateria de Camposancos, vemos a nossa terra com mais uma aberração na marginal, isolada de Espanha, esventradas as encostas de Cristelo e a duna primária do camarido desaparecida, nas brumas da impunidade.

Ouvimos de muitos galegos e de outros espanhóis: que pena lo del Ferry, así solo voy a Vila Nova, y total, estando aí hacemos la compra y almorzamos. Ir a camiña y volver es 1 hora más de camino.

Esta é, junto com o novo mercado municipal a concorrer na paisagem com a Matriz, a selvajaria urbanística, por todo o concelho, a Ínsua ao abandono depois de mais de uma década sob responsabilidade da câmara, a herança que o atual edil se prepara para deixar a caminha, quando se começa a preparar para os novos passos políticos no PS.

Valença e Tuy, exploram como poucos o conceito e os fundos europeus dos programas Inter-reg, Vila Nova de Cerveira e Tomiño, seguem os passos, Monção e Salvaterra idem, Caminha limita-se a estar, parada, à espera do verão e, na única vertente que assumiu responsabilidade, o Ferry, falhou.

Tentando resistir à lavagem ao cérebro que o cerco mediático nos tenta impor com a invasão permanente da nossa privacidade com notícias e imagens da Ucrânia, repetidas à exaustão; não podemos, contudo, deixar de pensar que vivemos tempos de tempestade perfeita, da qual a atividade sísmica em S. Jorge pode ser apenas mais um sinal, que o audaz Presidente da República parece querer confirmar pelos seus próprios pés, a tremer, como os frenéticos apertos de mão que distribui efusivamente.

Da guerra na Ucrânia, as notícias vão-nos ajudando a perceber que a complexidade desta não é comparável à invasão do Iraque e morte de Sadam, que afinal não tinha armas químicas e só deu 20 anos de força ao Bin Laden. O Cinismo de Franceses, Alemães e Ingleses que a Economia determina, aliado aos interesses dominantes dos fabricantes de armamento que parecem de novo mandar na América, não nos permitem crer numa solução rápida ou pacífica.

Na vertente política nacional, formado o Governo muito paritário, mas pouco compacto, a nossa terra mostra-se apenada por ter perdido um ministro e congratula-se por manter uma secretária de estado.

Do ministro perdido poderão ter saudades os amigos, mas não certamente os pais e as crianças, com necessidades específicas, nomeadamente aqueles que viram passar mais 6 anos sem um Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância (SNIPI), adequadamente implementado pela Subcomissão de Coordenação Regional no Minho litoral (Melgaço, Monção, Valença, V.N. Cerveira, P. de Coura e Caminha).

Com uma ELI (Equipa Local de Intervenção), fragmentada entre uma escola de Monção e o Centro de saúde Valença, num intricado de processos e burocracias que afasta os pais; deixa as crianças nas mãos da maior ou menor diligência e boa vontade de cada educador específico e da sua força e empenho pessoal. Inclusão não pode ser só de raças, credos e nacionalidades, porque crianças com necessidades e condições físicas e mentais específicas, existem em todas as raças, credos e nacionalidades. Por aí tem de começar a Inclusão.

Noutras pastas, temos neste Governo muito aparelho do PS e pouca sociedade civil, experiência critica e peso institucionais. Na economia um Ministro que tutela o mar, mas não a (economia) das pescas. Nas Finanças um economista pouco praticante, cuja gestão na CML deixa, além duma divida muito relevante, um rastro que ainda mais alguns anos tardaremos a conhecer.

insua abandonada

Não surpreende por isso, que o programa do Governo seja, como o programa eleitoral que a maioria dos votantes sufragou, uma desfolhada de boas intenções, repetidos à exaustão verbos como aprofundar, desenvolver, melhorar, agilizar, articular, considerar, estudar, promover, facilitar, enquadrar; com muito poucos Objetivos Claros, Mensuráveis e definidos no tempo, e as estratégias para os atingir definidas, coordenadas, com recursos assignados e mecanismos de controlo adequados; como tantos ministros com ligações ao ISCTE deviam ter aprendido nas aulas dessa distinta escola.

Nada de estrutural ou reformista se antevê nem no programa nem no orçamento deste governo, que com uma maioria teria todas as condições para o começar a mostrar. Parece antes uma questão de (falta) de espírito, de ideologia e de visão; agora sem a desculpa das cedências ao Bloco e ao PC não há desculpas.

E por tudo isto, o mesmo Orçamento de estado que chumbou há 6 meses, requentado ou se preferirem reciclado, tem como grande marco a afirmação do novel ministro das finanças, também ele reciclado de comentador televisivo pelo aparelho depois da derrota em Lisboa que, quando questionado sobre o sucesso dos antecessores com o défice, disse “está-me a pedir ao quinto dia de jogo que esteja a ganhar por quatro anos de governação. Não é possível”. Por aqui se vê por onde irão as Finanças públicas portuguesas, nestas mãos.

Por muito economês que o ministro Medina utilize, comentadores sociólogos, politólogos e afins falem de estagflação, sem terem sequer tido uma aula sobre a mesma, a Inflação com origem em fatores externos como crises de produção na china ou consequências da guerra na europa, como o acréscimo de custos de matérias-primas, energia, logística e redução da oferta de bens essenciais como Trigo, não se controla congelando salários ou mantendo as taxas nominais de imposto elevadas para reduzir o consumo. A inflação como resultado da lei da oferta e da procura, num mercado da aldeia ou numa equação simples como o Ministro Medina aprendeu na FEP há 35 anos, deixou de funcionar há mais de 20 anos, por 2 razões: a globalização e a moeda comum europeia (EURO).

Com pressupostos errados, irrealistas ou mitológicos, já à data de hoje, para a inflação, a produtividade, o crescimento económico e as taxas de juro, este Orçamento de estado, só tem 2 resultados possíveis: ou resulta num abrir dos cordões à bolsa à la carte, quando começar a contestação social, que conduzirá a desequilíbrios estruturais que não se vêm há 1 década ou; resultará numa austeridade real, desta vez não decretada pela via fiscal mas, limitando-se a redução da carga fiscal a uma pequena parte do ISPP, pela erosão do poder de compras das famílias equivalente a um corte nos rendimentos superior a 10%.

A inflação acima dos 5%, depois de ser atingida, levará anos a voltar a ser estabilizada na chamada inflação técnica ou saudável para um crescimento de 2%-3%. E a um Governo só lhe cabem 2 opções: ou deixar que os portugueses percam poder de compra e nível de vida com uma vertigem, tão ou mais grave do que aquele que a Troika nos trouxe, continuando com um emaranhado de subsídios e apoios por grupos e sectores que se perdem nos efeitos e geram fraude e desperdício ou; com seriedade e objetividade, reduz impostos diretos, nos bens essenciais e, reduz impostos indiretos, de forma progressiva, reequilibrando os esforços mais críticos para os mais necessitados.

Nada de bom na espera, desta tempestade perfeita, guerra e dificuldades económicas, preços a subir e salários a encolher, governo a gerir em lugar de reestruturar. Resta-nos, ainda sem pagar imposto, a paisagem maravilhosa da foz do Minho nos dias de sol, suplemento grátis de Vitamina D e Iodo, contributo essencial para o nosso bem-estar mental e para recuperar as energias das quais muito vamos necessitar.

Finalmente, cumpridos 48 anos de Abril, refletir no que os nossos mais velhos sonharam e naquilo que quase meio século depois criamos e vamos deixar aos nossos mais novos. Seria isto, será isto?

Vila Real, 15 de Abril de 2022

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