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Quinta-feira, 18 Abril, 2024
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Entre Margens do Rio Minho – Da Ponte à Cooperação Transfronteiriça

Como sugere o aumento recente de peregrinos a Santiago, o turismo seria o primeiro dos argumentos invocados para a construção de uma ponte entre Caminha e Galiza.
Acerrimamente defendida pela população local, esta ligação rodoviária entre os 232 mil habitantes do Alto-Minho e os 940 mil de Pontevedra, iria fomentar a integração desta região raiana para, consequentemente, relançar o comércio e a atratividade turística em ambas as margens.

imagem ponte lol

Entre estes dois municípios de Caminha e A Guarda, as ligações tem sido asseguradas pelo Ferryboat que, apesar dos custos elevados de manutenção, cada vez se vê mais impedido de cruzar o rio devido ao assoreamento que afeta o seu canal de navegação.
De facto, esta não só é a fronteira mais densamente povoada entre Portugal e Espanha mas também é a que regista o maior número de fluxos. Representa cerca de 48% dos movimentos de veículos entre os dois países.

O Alto Minho encontra-se então bem posicionado para intermediar um processo de abertura e de articulação estreita entre Portugal e Espanha que confira expressão económica. Afinal partilhamos o mesmo passado, a história e língua que nos une desde a época romana. Desde a idade média o supramencionado caminho de santiago tem sido um robusto elo de união entre os dois povos.

A Galiza é hoje o principal cliente português em Espanha, sendo cada vez mais promitente um fenómeno de integração com o norte de Portugal. Não se justifica que La Guardia – Caminha fiquem impossibilitadas de desenvolver uma gestão conjunta de áreas classificadas, (i.e. Património cultural da UNESCO). De estimular programas culturais partilhados e/ou projetos turísticos de natureza.

Tabela 1. Superfície, população por concelhos, 2017Tabela 1. Superfície, população por concelhos, 2017Fonte: Instituto Galego de Estatística (2017) e do Instituto Nacional de Estatística (2017).

Situado no centro atlântico galaico-português o rio Minho é referido pelos romanos e Estrabão afirma que é o maior dos rios na Lusitânia, igualmente navegável por oitocentos estádios. Um rio então lendário e místico, com uma fauna diversa, capturando-se nele a Lampreia, o Salmão, o Sável e outros peixes foi até meados dos anos 50s o maior viveiro natural da Europa Ocidental.

O património histórico edificado revelamos que em todos os lugares, vilas e cidades se fazem e fizeram pontes. Nos dias atuais as Eurocidades Valença – Tui (2012), Monção – Salvaterra (2017) e Tomiño – Cerveira (2018) tem os seus acordos assinados para impulsionar um contínuo desenvolvimento económico de modo a permitir atração de novas empresas e captação de investimento (e.g., como em sectores industriais e tecnológicos emergentes).

Graças à redução de custos de contexto, estes concelhos vizinhos tem experimentado uma mobilidade transfronteiriça frutífera e centrada nas empresas. A fronteira tornou-se na última década um fator de união. V.N.de Cerveira desenvolveu 3 parques industriais que tornaram este pequeno concelho no maior exportador nacional, per capita. Esta Eurocidade planeia edificar uma futura segunda ponte, pois a primeira foi o fator-chave do seu sucesso empresarial.

O valor acrescentado bruto (VAB) total no Rio Minho é levemente superior no território português. A indústria conta com uma potente presença na margem portuguesa. Comparando com as médias espanhola e portuguesa, o VAB no Rio Minho transfronteiriço se singularize por um maior peso relativo do setor industrial e menor dos serviços. O setor primário apresenta um peso exíguo.

O Rio Minho Transfronteiriço possui 9 808 075 m2 de solo industrial. De salientar que 33,7 % do solo industrial existente pertence ao Porriño, cuja zona industrial tem uma relevância central na Área Metropolitana de Vigo. Os concelhos de Caminha e A Guarda não possuem parque industrial.

Tabela 2. Solo industrial por concelhos, 2018.tabela 2Fonte: http://servergis.cesga.es/website/poligono_nuevo/viewer.htm

Na fronteira do Rio Minho a mobilidade é consideravelmente maior do que nos restantes troços da fronteira hispano-lusa, com 40 mil veículos diariamente. Aproximadamente metade de todos os movimentos que cruzam a raia são aqui produzidos, proporcionando relações socioeconómicas intensas.

Segundo os dados de Tráfego Médio Diário Anual (TMDA) a passagem Tui-Valença é a mais transitada entre Espanha e Portugal com cerca de 18 mil veículos diários. Destes entre 1000 e 2000 são commuters que realizam movimentos pendulares diários. Muitos entram e saem do país vizinho no mesmo dia, e uns 95 % do total utiliza um veículo particular pois a oferta de transportes públicos é inexistente. A maioria atravessa a fronteira por razões de turismo ou de comércio, mas também se regista mobilidade laboral.

Os diferentes núcleos de população situados de ambos os lados do rio Minho caraterizam-se por apresentarem notáveis graus de ligação mas importa destacar que quase 50 % dos veículos que cruzam a fronteira do Minho o fazem pela passagem Tui – Valença. Pelo que podemos prever uma TMDA entre 4100-4600 veículos para a nova passagem em A Guarda-Caminha.

Figura 1. Uso das infraestruturas viárias sobre o Minho, 2017.figura 1

Fonte: Observatório Transfronteiriço Espanha – Portugal (https://www.fomento.gob.es/). 

Os programas locais de serviços conjuntos de caráter transfronteiriço estão orientados em grande medida para a utilização de infraestruturas desportivas e educativas. Entre as diversas opções existentes, podem mencionar-se no campo desportivo, as piscinas de Vila Nova de Cerveira e Valença, utilizadas maioritariamente por utentes galegos e no campo musical, o Conservatório de Tui e a Escola de Música de Tomiño, utilizados por portugueses.

Na Eurocidade V.N. Cerveira-Tomiño, a população avalia de forma muito positiva o desenvolvimento deste tipo de iniciativas. Também o Ensino Superior tem sido beneficiado por este intercâmbio.
A população local valoriza o facto de viver num território fronteiriço pois implica oportunidades que geram um sentimento de proximidade entre as duas margens do rio possibilitadas pela edificação da Ponte da amizade. No caso desta Eurocidade além do uso dos diferentes tipos de equipamentos já mencionados importa destacar os programas culturais conjuntos para crianças e estudantes. Os programas de apoio á incubação de microempresas.

Em síntese, com a construção da ponte rodoviária A Guarda-Caminha o desenvolvimento económico e social iria despertar pelas três seguintes dimensões de projetos comuns:

  • Impulsionar a gestão conjunta de serviços básicos em áreas decisivas. Garantindo a provisão de serviços como a partilha de equipamentos, de apoiou ao envelhecimento ativo, de formação e de empreendedorismo social.
  • Explorar as hipóteses de criar programas conjuntos de apoio ao emprego a partir dos recursos de ambos os lados da fronteira e da internacionalização de produtos turísticos. Unir estas localidades do litoral atlântico com potencialidades em desporto náutico ainda pouco conhecidas pelos principais mercados internacionais.
  • Dinamizar as estruturas luso-espanholas de âmbito empresarial (i.e., de Plataformas logísticas) para uma melhoria da adoção de novas tecnologias, melhores investimentos. Reforçar as relações empresariais luso-espanholas á volta de futuros parques industriais locais.

Esta ponte é a oportunidade diferenciadora para facilitar a interação entre as duas margens. Para fomentar a emergência de sinergias que possa favorecer a retenção e fixação de pessoas e empresas. Imprescindível para promover um ambiente de negócios favorável em setores prioritários como o turismo sustentável ao longo do ano.

Gonçalo Sampaio e Melo
Psicólogo

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