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Dem: a mais jovem freguesia do concelho de Caminha completa amanhã 50 anos

É a mais jovem freguesia do concelho de Caminha e amanhã, dia 26 de setembro, completa 50 anos.
A freguesia de Dem foi criada por Dec-Lei nº 48 590 de 26 de setembro de 1968. Segundo a Monografia do concelho de Caminha, “a festa da instituição realizou-se numa tarde chuvosa de domingo, 26 de janeiro de 1969”.
A freguesia de Dem nasceu da vontade de um punhado de deenses entre os quais se destaca o Dr. Alfredo Moreira, um filho da terra, que desde 1935 trabalhava para que Dem fosse uma freguesia de pleno direito.
De facto foi notável o seu envolvimento na criação da freguesia canónica e foi ele o primeiro a levar a notícia ao povo de Dem.
Assim, a 26 de setembro de 1968, por Decreto de Oliveira Salazar, é formada a freguesia de Dem.
Para assinalar os 50 anos da freguesia, a Junta de Freguesia preparou um programa especial cujo ponto alto tem lugar no domingo, 29 de setembro.

Uma sessão solene comemorativa onde está prevista a homenagem a alguns Deenses, a apresentação de um livro da autoria de Laurestim Rodrigues Fernandes e espetáculos musicais, são alguns dos momentos que a Junta de Freguesia de Dem está a preparar para comemorar o 50º aniversário da freguesia de Dem. E porque 26 de setembro coincide com uma quarta-feira, a Junta decidiu transferir as comemorações deste importante dia para o fim-de-semana imediatamente a seguir, ou seja 28 e 29 de setembro.

O momento alto destas comemorações coincide com o lançamento do livro “DEM MINHA TERRA MEU AMOR – ANTOLOGIA DOS ILUSTRES”, de Laurestim Rodrigues Fernandes, também ele bastante ligado à criação da freguesia.
De resto foi este deense que, na companhia do Dr. Alfredo Pinto, deu a boa nova ao povo de Dem como o próprio fez questão de recordar ao Jornal C.
“Trabalhamos muito com o Dr. Alfredo Moreira para que Dem se tornasse numa freguesia. A notícia chegou no dia 26 de setembro de 1968. Lembro-me bem que estava em casa, tinha casado há pouco tempo, e ouvi um foguete o que me surpreendeu porque não havia festa. Fui à janela tentar perceber o que se passava e vejo vir muito apressado o Dr. Alfredo Moreira, apoiado na sua bengala porque ele tinha uma deficiência numa perna – a chamar por mim e a dizer-me que finalmente tinha chegado a boa nova sobre a freguesia de Dem e que tínhamos que ir dar a boa nova ao povo de Dem. A pressa era tal que uns 10 ou 15 metros à frente o Dr. Alfredo deu um trambolhão enorme porque o caminho estava muito danificado por causa rodados do carros das vacas. Mas ele levantou-se e seguimos em frente”, recorda.
A notícia foi dada à população que entretanto se foi juntando na Chão do Porto, o centro cívico da freguesia, para saber o que estava a acontecer.
“Vienmos todos aqui para a Chão do Porto. Naquele tempo juntava-se ali muita mocidade que vinha dos Abrunheiros fazer as suas cegadas. Vinham com os cestos à cabeça e as festas eram todas realizadas aqui, Havia a corrida do galo, os bailes ao som da concertina, era uma grande animação”.
Apesar da chuva que se fez sentir naquele dia, ninguém arredou pé e o resto do dia foi de grande festa onde não faltaram as concertinas para animar o povo.
Menos satisfeitos ficaram os habitantes de Gondar e Orbacém a quem os de Dem foram, naquela mesma noite, fazer “pirraça” cantando cantigas desafiadoras.
“É evidente que a população de Gondar e Orbacém não viu com bons olhos a criação da freguesia de Dem, não queriam aceitar mas a decisão estava tomada e que remédio tiveram eles senão aceitar. Foi o último decreto assinado pelo Dr. Oliveira Salazar”.
Mas, como recorda Laurestim Rodrigues Fernandes, os anos que se seguiram foram atribulados.
“Depois de se tornar uma freguesia de pleno direito os anos que se seguiram não foram fáceis. Dem passou por algumas crises e escaramuças com muita politiquice à mistura. Não foi fácil e houve mesmo questões que se arrastaram durante anos e anos pelos tribunais”.
Dem mudou muito nestes últimos 50 anos. Já quase se apagou da memória aquela freguesia onde nada existia. Onde não havia luz, água ao domicílio nem estradas onde um taxi pudesse ir buscar ou levar as pessoas. Laurestim Rodrigues Fernandes considera quer nos últimos 50 anos a freguesia se virou completamente do avesso.

“Eu diria que Dem está completamente virada do avesso, tornou-se numa freguesia de excelência e apesar das muitas convulsões conseguiu crescer e progredir tornando-se naquilo que é hoje. Eu diria que a partir de 2001, com a chegada de Clemente pires à Junta, a freguesia estabilizou, cresceu e progrediu. Julgo que fundamentalmente alcançou a tão desejada paz e o progresso foi imparável. No livro que vou lançar no dia do aniversário da freguesia, eu apelido-o de o Pacificador porque realmente o Clemente Pires foi isso mesmo, trouxe paz e diálogo às pessoas da freguesia ”.
As comemorações dos 50 anos da freguesia estão a cargo da Junta de Freguesia de Dem que preparou um programa comemorativo para assinalar a data.
Arruadas de bombos, cantares ao desafio, festival folclórico, uma missa comemorativa dos 50 anos e uma sessão solene com entrega de medalhas e lançamento do livro, são alguns dos momentos que vão marcar o aniversário da freguesia para o qual todos estão convidados.
Tal como Laurestim Rodrigues Fernandes, também Clemente Pires, presidente da Junta de Freguesia, não tem dúvidas que a freguesia evoluiu muito.
“Apesar de eu ter estado fora durante alguns anos, não tenho dúvidas que a freguesia de Dem mudou muito nestes últimos anos. Sem querer estar a puxar a brasa à minha sardinha mas porque é uma realidade, nos últimos 16 anos em que estive e estou envolvido na freguesia fizemos muito trabalho.
Dem é uma freguesia que apesar de pequena tem uma grande atividade económica em relação a outras freguesias até de maior dimensão. Temos carpintaria, serralharia, bate chapas e pintura, gessos projetados, cafés, turismo rural, duas fábricas de volantes, enfim uma freguesia com bastante atividade que segura aqui muitas pessoas”.
Apesar da evolução, o autarca considera que a freguesia soube crescer sem perder a sua identidade, as suas raízes e tradições.
A cumprir mais um mandato depois de ter estado afastado durante 4 anos por imposição da lei uma vez que atingiu o limite de mandatos, Clemente Pires tem ainda um grande sonho que gostaria de materializar na sua freguesia.
O autarca gostaria de ver implementada uma valência de apoio aos idosos da freguesia.
“Eu gostava de conseguir trazer para a freguesia um lar de idosos porque isso fazia muita falta aqui na nossa freguesia. O que se nota é que a população está cada vez mais envelhecida, os filhos foram trabalhar para fora e as pessoas de idade estão a ficar muito sozinhas. Isto é algo que já se começa a sentir aqui na freguesia e acredito que daqui para a frente muito mais porque muitos dos jovens que emigraram ou foram trabalhar para fora dificilmente irão regressar algum dia”.
Clemente Pires confessa que não tem sido fácil levar esta ideia avante. “Já estamos a trabalhar nesse sentido, já fizemos reuniões com algumas entidades com responsabilidade nesta área, mas a verdade é que temos esbarrado com algumas dificuldades. Até estou um bocado desiludido porque não tem sido fácil. O principal entrave são as exigências que são feitas e a falta de verbas para apoiar este tipo de projetos”, explica.
Apesar das muitas dificuldades Clemente Pires garante que vai continuar a lutar por este projeto que considera fundamental para a freguesia que lidera.

Uma freguesia com história

Paróquia relativamente pequena, é formada por 4 lugares. Os lugares que a constituíram aquando da sua instituição, ora pertenciam à freguesia de Orbacém, ora à freguesia de Gondar. Efetivamente, eram estes os grandes lugares no séc. XVIII, conforme informam as Memórias Paroquiais.
A freguesia de Dem, muito rica em lendas e tradições, está situada no sopé da Serra d’Arga.
À tranquilidade da freguesia, juntam-se paisagens maravilhosas que as gentes da freguesia tem sabido proteger, preservar e até descrever.
No livro intitulado “Dem no Sopé da Serra d’Arga”, da autoria de Laurestim Rodrigues Fernandes, uma espécie de monografia da freguesia de Dem, são dadas a conhecer algumas das vivências do dia a dia dos Deenses.
O Livro fala sobre o artesanato, o folclore, a história, lendas e tradições da mais jovem freguesia do concelho de Caminha.
“Freguesia cravada nas fraldas da Serra d’Arga, tipicamente serrana, hospitaleira, enraizada em costumes, lendas e tradições. Povo generoso, dócil e trabalhador, que ama como ninguém raízes que os seus ancestrais lhe doaram religiosamente.
De paisagens incrivelmente bonitas, onde o ondulado dos montes e vales se confundem com cores do arco-íris ou com um pôs do sol, de contrastes infinitos no cair da noite e nos silêncios dos espíritos que as trindades e logo a seguir os sono profundo pelo cansaço e pela fadiga dum dia desgastante em tarefas do campo castiga e não perdoa. Vivência atribulada a deste povo, que sabe com estoicismo ultrapassar com um bairrismo indesmentível, as suas dificuldades, tornear e dar a volta mesmo que tenha de dispender sacrifícios que possam parecer instransponíveis…
Na aridez das serras, no regorgitante esplendor da riqueza dos montes, na força criadora dos seus campos, viçosos e cheios de generosidade que dão pão, alimentos e pastagens, que são força motriz da sobrevivência em todos os domínios e em todos os seres vivos…”.

A freguesia de Dem é formada, como já atrás referimos, por quatro lugares dispersos:; Lugar de Pedras Frias, Lugar da Boucinha, Lugar da Chão do Porto e Lugar da Aldeia. Com uma área bastante grande , dois destes lugares estão separados por uma distância considerável. O Lugar de Pedras Frias, mais a sul e o Lugar de Aldeia totalmente a norte.
A freguesia viveu sempre essencialmente da lavoura, a sua principal atividade e riqueza que era desempenhada pelas mulheres e pelos filhos em idade escolar. Os homens, esses, emigraram, nomeadamente e em maior número para Lisboa e França.

Dem – terra de tradições

Rica em artesanato e cultura, a freguesia de Dem chegou a ter 14 moinhos em atividade. Puxados a água, estes engenhos sempre ocuparam uma missão de relevo na vida das populações.
A freguesia também possuía lagares de azeite e o último a cessar atividade foi o do Sr. António Joaquim Carvalho que estava localizado na Chão-do-Porto.
As desfolhadas, a Serração da Velha, os carnavais… não passam hoje de memórias que, perigosamente, tendem a desaparecer caso os mais novos não se interessem por as recuperar.
A propósito destas vivencias de antigamente, Laurentim Rodrigues Fernandes, no livro “Dem no Sopé da Serra d’Arga”, descreve-as de uma forma muito interessante e carinhosa.
“Quem não se lembra com saudade das desfolhadas, da Serração da Velha, da corrida do galo, das rondas que com frequência se realizavam na Chão-do Porto, dos folguedos exuberantes dos carnavais, da forma de namorar, do enfeitar das vinhas com serpentinas, as raparigas em madrugada de domingo gordo, o ir à fonte em tardes soalheiras com cântaros de barro a pretexto de um encontro desejado. Quem não se recorda , dos Abrunheiros de antigamente. Local de encontro em tardes primaveris de domingo de dezenas de namorados, rapazes e raparigas, sítios onde a tradição marcou encontro e foi palco de tardes inesquecíveis , rapazes cantando ao som plangente da concertina com melodias da época, as raparigas graciosas e rosadas, de cestos e foucinhas a cortar erva, em acalorada e entusiástica cavaqueira, à espera que lhe coubesse o melhor e mais vistoso namorado…
Como era bonito aquele majestoso fervilhar da vida da mocidade…
O sol, à tardinha, convidava ao regresso, um regresso preparado com brio e preceito; os cestos meticulosamente redondos em aguarelas de mística arte e engenho, à cabeça das rapariga, davam-lhe a imponência do rigor do seu empenho e habilidade.
O seu fato antigo à lavradeira, confeccionado à mão, onde predominava o azul marinho. O seu jeito baloiçante e atrevido desafiava o menos atento rapaz. O regresso fazia-se em fila indiana: 6, 8, 10 ou 12 pares, que proporcionavam aos olhos dos mais velhos o mais variados e justos comentários de graciosidade. A noite caía de mansinho e aos portais das casas no meio de mais meia dúzia de palavras e repassadas juras e promessas, cada um seguia o seu caminho…

Rancho Folclórico de Dem

O Rancho Folclórico de Dem foi fundado em 1950 por Alfredo Moreira e ao longo de décadas tem sido um importante meio de divulgação da riqueza dos trajes à lavradeira e do cancioneiro da Serra d’Arga.
Magníficas obras de arte, relicários do passado e do presente, os trajes minuciosamente confeccionados, destacam-se pelas cores incrivelmente bonitas, com bordados primorosamente feitos à mão e no tear.

A Banda do Xotó-Pito

Era conhecida também pela Banda dos Onze. Fundada em 1917, esteve em atividade até 1955. Teve como seu principal mestre e fundador, Manuel Joaquim Pires Carqueijal, que compunha as músicas, ensaiava-as e também tocava. Todos os elementos pertenciam à sua família, numa originalidade fora do comum. Participavam em muitas festividades das redondezas.
Quando morreu o seu fundador, sucedeu-lhe um dos seus filhos, Álvaro Pires. Por razões pessoais dos seus componentes, a banda acabaria por se desmantelar vindo a terminar em 1955.

Mas a vida das gentes serranas sofreu inevitavelmente mudanças radicais. Muitos dos costumes e tradições que se mantinham mais profundos e arreigados, são hoje meras e leves memórias que só não se perderam porque os mais velhos ainda vão falando nelas aos mais novos.
Muita da riqueza etnográfica desta freguesia, pilares altaneiros da sua cultura, tende a desaparecer com o passar dos anos.

 

Património

Igreja Paroquial

Construída em 1970, a igreja apresenta planta retangular, com dois corpos – nave – ligados por um arco triunfal de meia volta, apoiado na parede. A sacristia fica do lado norte.
Todas as paredes são de alvenaria, com pedra à vista nos apilarados e guarnições de portas e janelas. O teto é de duas águas, com cobertura de telha moderna, sobre armação de madeira.
A fachada ostenta uma porta retangular, com dois janeletes dos lados e três festas verticais, oblongas, sobre a porta; no vértice, está uma cruz simples e nos cunhais existem pirâmides.
São Gonçalo é o padroeiro da freguesia.

Senhora da Serra

É um dos Santuários mais característico do concelho de Caminha. Coroando uma serra que sobrepuja as freguesias de Argela e Venade até ao monte de Santo Antão, a capela da Senhora da Serra oferece um panorama deslumbrante, pondo à vista a bacia da foz do Coura, a vila de Caminha e os povoados galegos do outro lado do Minho: El Rosal, Camposancos, Santa Tecla, etc.
Todo o conjunto arquitetónico revela uma construção dos fins do século XVII, ou princípios do século XVIII. É uma construção com muito significado para a gente das redondezas que, todos os anos, no dia 5 de agosto, ali vai festejar a Senhora das Neves. Também no mesmo local se venera S. Silvestre, patrono do gado bovino que acorre, para receber a bênção, na véspera da festa.
Noutros tempos, a Senhora da Serra era uma das estâncias de clamor da Confraria de Santo Isidoro, com sede na freguesia de Moledo. Esta confraria possuía representantes em todas as freguesias que tinham um santuário, frequentado por muito povo, onde, a par de outras devoções, se praticava o culto de algum santo, patrono dos animais.
No caso da Senhora das Neves, as cruzes da freguesia, onde estava implantada esta Confraria, reuniam-se acompanhadas do pároco e de muito povo, junto ao cruzeiro de Santo Isidoro, a poucos metros, a sudoeste da capela.
Junto ao cruzeiro, existia uma mesa com 4 bancos à roda. Era a mesa dos 4 abades. Aqui prestavam contas à Confraria, o delegados de Dem. Só depois desta praxe, se organizava o clamor até à capela. A festa prosseguia a partir das 11.
Esta romaria deu aso a muitas manifestações de carácter folclórico: danças , cantares ao desafio, exibição de fatos regionais executados segundo as regras usadas na Serra d’Arga.

A lenda da Senhora das Neves

A propósito desta antiquíssima devoção à Senhora das Neves, entre outras, conta-se a seguinte lenda:
Vivia aqui, metido na toca de um sobreiro, um anacoreta, macerando o corpo com as mais duras penitências e sofrendo o espirito com a consideração das máximas eternas. Como única companheira do seu exílio tinha uma imagem da Virgem que trouxera de um cenóbio, situado algures na Serra d’Arga. Colocada na parte mais nobre da cavidade, a Virgem Maria era, a todo o momento, homenageada pelo frade penitente.
Num dia esbraseado de agosto, o anacoreta sentiu uma sede que lhe afogueava a garganta, convidando-o a suspender a dura penitência. Quando regressava o seu poiso, notou com surpresa que a imagem já lá não estava. Entristecido pensou logo que a Virgem o tinha abandonado, por não ter resistido à sede. Ajoelhou-se com o rosto por terra, pedindo à Virgem que não o abandonasse. Nisto ouviu um grande estrondo. Abriu os olhos e viu o sobreiro completamente desfeito e a imagem da virgem rodeada de neve, fitando-o com extrema doçura.
Foi então que o frade, pegando na imagem da Senhora, lhe construiu um nicho. E assim nasceu a devoção à Senhora das Neves.
Passaram-se muitos anos e, já expulsa a moirama das terras de Portugal, o povo de Orbacém resolveu restaurar a antiga devoção à Senhora das Neves, levantando-lhe uma capela no local onde hoje se encontra.

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