Portugal e de resto nenhum país estava preparado para enfrentar uma pandemia como esta que o mundo está a viver. Disto parece ninguém ter dúvidas.
Os apelos sucedem-se nas televisões, nas rádios e nas redes sociais. A toda a hora somos confrontados com mensagens e apelos feitos por profissionais de saúde que nos hospitais dão o tudo por tudo para salvar vidas.
Apesar dos esforços o material em falta nem sempre chega com a rapidez necessária, deixando mais expostos ao perigo médicos, enfermeiros e auxiliares de saúde. Faltam máscaras, faltam luvas, faltam batas e muitos outros equipamentos e materiais de proteção necessários a quem tem que lidar de perto com doentes infetados pelo vírus que a todos assusta.
Uma publicação partilhada há alguns dias na rede social facebook pelo seu amigo Padre Ricardo Esteves, pároco em Valença, chamou a atenção de Maria Rosa, modista e formadora de cursos de costura. Nessa publicação pedia-se ajuda para confecionar roupa para os profissionais de saúde, nomeadamente batas, protetores dos pés e cagulas, etc, tudo material descartável em falta nos hospitais.
Com as formações interrompidas e o atelier de costura encerrado por força da quarentena, Maria Rosa começou a fazer alguns contactos para se inteirar das verdadeiras necessidades dos profissionais de saúde e perceber de que forma podia ajudar.
“Falei com o Padre Ricardo para perceber se aquela publicação era mesmo real ou não e também falai com uma médica que é minha cliente no hospital de Viana que me confirmou que efetivamente havia essa necessidade. Voltei ao facebook e através de um cometário na publicação manifestei a minha disponibilidade”.
Percebidas as reais necessidades e depois de alguns contactos, o passo seguinte foi lançar o desafio às formandas que de imediato manifestaram total disponibilidade para abraçar a causa.
“Entrei em contacto com elas através dos vários grupos que temos no whatsapp e todas se mostraram disponíveis para ajudar. Aliás ficaram super entusiasmadas por poderem dar o seu contributo. Estamos a falar de várias dezenas de formandas, perto de 100, oriundas de vários concelhos do distrito, desde Viana até Valença, muitas inclusive de várias freguesias do concelho de Caminha, que nos últimos dias têm dedicado parte do seu tempo a confecionar as fardas que são utilizadas pelos profissionais de saúde e de instituições do distrito e não só”.
Os pedidos chegam a toda a hora e de vários pontos do país. Maria Rosa e as formandas não têm mãos a medir. A mestra corta e as aprendizes cozem.
Desde que sai de casa em Viana dos Castelo e até chegar ao seu atelier em Campos, Vila Nova de Cerveira, Maria Rosa percorre várias residências em inúmeras freguesias de vários concelhos para deixar e levantar material. E é nesta correria, a andar de um lado para o outro sem parar, que tem passado os últimos dias.
Enquanto nos conta como tudo começou, de tesoura em punho Maria Rosa vai cortando mais uma remessa de peças que deverão seguir para um qualquer hospital do Porto.
“Os pedidos não param de chegar de todo o lado, é impressionante. Eu sei que os apelos vão no sentido das pessoas não saírem mas eu acho que a comunidade não se pode fechar em casa como se lá fora não estivesse a acontecer nada. Isto é uma guerra e nem nas guerras os países podem parar. Portugal tem a obrigação de dar o exemplo como grande país que é e todos podemos ajudar basta querermos”, desafia.
Mão de obra não falta o que começa a escassear é a matéria prima, o TNT Tecido Não Tecido com uma determinada gramagem, utilizado para confecionar a roupa que é utilizada nos hospitais .
“Temos tido alguma dificuldade em arranjar este tipo de material porque começa a escassear. Há muita gente a querer comprar e não tem sido fácil. Hoje recebi alguns metros e estamos à espera de mais para continuarmos a trabalhar”, explica.
Do Atelier Mulher em Campos por estes dias não saem fatos nem vestidos de cerimónia ou de noiva. Neste momento as necessidades são outras e a palavra de ordem é voluntariado total.
“Eu queria esclarecer que não há ninguém envolvido neste projeto a recebe um tostão que seja. Inclusive posso dizer-lhe que não aceito nenhum tipo de donativo em dinheiro, o que digo às pessoas que querem ajudar é que o façam de outra forma. Podem por exemplo comprar elástico ou o tal TNT e fazerem-nos chegar. Algumas pessoas já se prontificaram a pagar os portes de correio das encomendas com material que mandamos para outras zonas do país. Como vê há muitas formas de podermos ajudar se quisermos o que não podemos nem devemos é ficar fechados em casa à espera que tudo isto passe. Eu isso não quero nem vou fazer”, garante.
Enquanto Portugal e os portugueses precisarem Maria Rosa garante que vai estar disponível a cem por cento para ajudar e lança o repto para que outros se possam juntar a esta ou a outras causas em prol de um país que está doente e que precisa de todos para sair desta crise sanitária sem precedentes.